Diário do Alentejo

João Daniel Rico, atual coordenador técnico da AF Beja, está otimista quanto ao futuro do futebol distrital

02 de novembro 2023 - 15:58
Qualificar mais e melhor
Foto| Firmino PaixãoFoto| Firmino Paixão

Maximizar a proximidade com os clubes, qualificar mais todos os agentes desportivos, envolver toda a comunidade desportiva na reflexão sobre os melhores caminhos para a promoção e valorização do futebol distrital, eliminando eventuais assimetrias, são algumas das ideias de João Daniel Rico, o atual coordenador técnico da Associação de Futebol de Beja (AF Beja).

Texto Firmino Paixão

“Estou completamente comprometido com este projeto”. Assim garantiu João Daniel Rico, de 37 anos, natural de Pias, atual coordenador técnico da AF Beja. O ex-treinador do Serpa reconhece que hoje, em quase dois meses de funções, já tem uma visão mais ampla e pragmática do que é a realidade do futebol num território tão extenso e complexo como é o distrito de Beja.

Completa hoje 59 dias nesta função. Que balanço faz deste percurso?O balanço, até ao momento, é perfeitamente positivo, tendo até em consideração que é uma função que me era completamente alheia. Trata-se da organização e gestão de tudo aquilo que faz parte do trabalho de um coordenador técnico de uma associação de futebol distrital, portanto, os primeiros tempos foram dias para me inteirar o máximo possível, quer das responsabilidades inerentes, quer de meter alguns processos a andar. E, a partir de um determinado momento, as coisas acabam por ir acontecendo naturalmente. Vamos, como se costuma dizer, “metendo a mão na massa”. Os processos vão evoluindo de uma forma natural, vamos percebendo quais são as nossas funções e vamos tentando, e esse também é um objetivo, dar um bocadinho daquilo que é o meu cunho pessoal e da visão que eu tenho para o futebol distrital. Quero deixar também uma marca nesse sentido, de trabalho, de dedicação e de evolução do futebol do distrito, quer a nível das competições que têm mais impacto, mas também na área da promoção e valorização das competições nos escalões de formação.

Nesta época ainda não terá conseguido deixar essa marca, porque assumiu funções com a época desportiva já planeada…Sim, do ponto de vista daquilo que é a competição, há algumas coisas que podem e devem ser alteradas no futuro. Entrei num processo difícil, de transição, principalmente, ao nível do modelo competitivo dos escalões de formação. Tem sido um desafio, tanto para nós, como para os clubes. Não tem sido fácil, mas acredito que com o tempo as coisas irão estabilizar. Depois, ao nível dos calendários competitivos, ainda entrei a tempo de organizar algumas das coisas, mas entendo que existem competições que podem sofrer algumas alterações na sua estrutura e podem vir a beneficiar muito daquilo que pretendemos, que é dar aos atletas mais tempo de competição. É um bocadinho nesse sentido que, no futuro, tentaremos olhar para o que está feito até à data, para o que está bem e não deve ser mexido, mas também no que podemos alterar para irmos ao encontro do grande objetivo que temos, que passa por melhorar as condições que os clubes têm, melhorar as condições dos praticantes, e, cada vez mais, desenvolvermos o futebol do nosso distrito.

Pode entender-se que, se tivesse começado a época de início, já teria feito alterações mais ou menos profundas?Paulatinamente será feito esse trabalho de análise. Não só por mim, não só pelas pessoas que lideram a Associação de Futebol de Beja, mas também queremos ter essa proximidade com os clubes que, obviamente, terão que ter uma palavra ativa, que mais não seja, na reflexão sobre o estado em que as coisas vão decorrendo. Fará todo o sentido que, ao longo e no final da época, se faça essa reflexão com os clubes e que se perceba quanto, e de que modo, no ponto de vista deles, as coisas podem evoluir e ser melhor desenvolvidas, para irmos ao encontro das expectativas, das necessidades e dos objetivos que os clubes têm. Não será possível agradar sempre a todos, mas o nosso trabalho também é procurar consensos, para ajudarmos os clubes a desenvolverem a sua atividade. Queremos continuar a dar corpo aos cursos de formação de treinadores de futebol e de futsal e outras ações orientadas para jogadores, treinadores e dirigentes. O conhecimento e a formação são absolutamente fundamentais. Queremos ir por aí, é uma das nossas bandeiras.

Sente que é urgente qualificar mais e melhor os agentes desportivos? Ainda se vêem responsáveis técnicos e de saúde inscritos nas fichas de jogo como delegados…Sem dúvida. É preciso qualificar mais, mas nós temos tido essa preocupação. Lançámos, recentemente, uma pré-inscrição para cursos UEFA B e UEFA C, para termos mais ou menos a noção do número de interessados e tivemos cerca de 80 pré-inscrições para estes cursos, que arrancarão no início de 2024. Portanto, temos muita gente que quer fazer essa formação. Alguns já estarão a trabalhar em condições que não são as ideais, mas reconhecem que, do ponto de vista da sua valorização individual, precisam de fazer a formação. O número de equipas sobe praticamente todos os anos, o número de praticantes também, e esse é um dos grandes objetivos. Temos muitas equipas a competir, os clubes apresentam cada vez mais equipas de formação e precisamos de ter pessoas qualificadas para dar resposta a essas exigências.

O cargo que ocupa permite-lhe ter uma visão global do que é o futebol federado no distrito de Beja? Notam-se algumas assimetrias?Sim! Hoje tenho uma visão diferente daquela que tinha. Quando estamos a treinar, que era a minha função anterior, estamos muito mais preocupados com o nosso clube e o resto fica de parte. Agora tenho uma visão, digamos, mais global e de cima, e tenho uma relação com todos os agentes desportivos, presidentes, outros dirigentes, treinadores, dos diferentes clubes. Claro que esta avaliação de que falei anteriormente será feita de uma forma muito mais eficaz, porque as informações chegam-me muito mais facilmente, a minha disponibilidade também é maior para estar mais próximo dos clubes, e isso fará com que, ao longo deste ano, consiga ter uma perceção global do que é o futebol no nosso distrito e quais são as necessidades mais prementes que ele apresenta. Temos um território muito heterogéneo, mas eu acredito que pode ser um bocadinho mais nivelado por cima. Seremos, porventura, um dos poucos distritos sem clubes nas competições profissionais e essas assimetrias notam-se, mas, se calhar, sem a contundência daquilo que acontece noutros distritos. Mas o processo de certificação que a Federação Portuguesa de Futebol lançou, em que a AF Beja está muito empenhada, ajuda muito os clubes a melhorarem as suas condições, obrigando a uma maior reflexão e melhor gestão dos diferentes processos. Acreditamos num futuro mais positivo e risonho para o futebol deste distrito. Temos algumas coisas a melhorar, mas estamos no caminho certo.

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