Diário do Alentejo

André Marques, treinador do Clube de Patinagem de Beja, conhece o terreno que pisa e tem ideias muito realistas

20 de outubro 2023 - 11:15
“Um clube único”
Foto| Firmino PaixãoFoto| Firmino Paixão

A equipa sénior de hóquei em patins do Clube de Patinagem de Beja disputa o Campeonato Nacional da 3.ª Divisão. O atual treinador, o mourense André Marques, debate-se com as dificuldades habituais: o horário dos treinos e um plantel alicerçado nos escalões de formação.

 

Texto Firmino Paixão

“Um desafio mais exigente”, reconheceu André Marques, jogador formado no Moura Desportos Clube, também antigo atleta do Clube de Patinagem de Beja, que vinha trabalhando nos escalões de formação deste clube.

 

Tem sido um trabalho feito em cima de muitas dificuldades, desde logo os treinos quase às 10 da noite…Treinamos às terças e quintas entre as 21:45 e as 23:30 horas, à sexta-feira entre as 22:00 e as 23:30 horas. São horários bastante pesados, sobretudo, porque vem por aí o inverno e os atletas têm as suas vidas académicas e profissionais. Não é fácil, mas é o horário em que o pavilhão está disponível para nós e é com essas condicionantes que temos de trabalhar.

 

O campeonato é muito difícil, com equipas muitos fortes e competitivas. Trabalhar em cima de resultados menos conseguidos também dificulta a missão?É óbvio que nós não temos os mesmos recursos que as outras equipas do nosso campeonato possuem. Talvez sejamos a equipa com mais jogadores ainda em idades de formação. Todas as restantes são equipas claramente reforçadas, com grandes recursos humanos e financeiros e nós trabalhamos apenas com a prata da casa. Temos um misto de jogadores mais maduros e experientes a este nível, depois temos os jovens que temos que ir integrando gradualmente. Não é fácil fazer construir esta ponte entre as duas gerações, contudo, com a ajuda dos mais velhos, vão-se integrando e deixando-nos confiantes para fazermos algo de positivo. A minha preocupação é que a equipa se mantenha unida e que consigamos fazer algo que prestigie o clube e a cidade.

 

A equipa sénior é a que dá maior visibilidade ao clube? Daí a importância de a manter?Digamos que é, principalmente, uma montra para os mais novos. Os mais jovens adoram os seniores, vibram com essa equipa e enchem o pavilhão. É aliciante vê-los sonhar com o dia em que jogarão na equipa sénior. Recordo-me que a primeira vez que vesti a camisola do Moura Desportos Clube fiquei logo com a emoção de, um dia, poder representar o clube ao mais alto nível. E estes miúdos têm a mesma ideia.

 

Por entre as dificuldades e os exemplos positivos, quais são os objetivos que trouxeram para o nacional da terceira divisão?Os objetivos passam por acumular o maior número de pontos possível nos jogos em casa. É sempre mais difícil competir fora de casa, mas nós temos a nossa ambição e o nosso foco passa por aí, basicamente, pontuar em casa quando nos for possível e, jogando fora, lutarmos pela vitória.

 

Sente-se confortável com a qualidade do plantel?Confio no plantel desde o primeiro dia em que me foi apresentado. É um plantel equilibrado. Confio na capacidade dos jogadores para enfrentarem os embates com equipas que nos criarão maiores dificuldades, porque estão bastante reforçadas e, em alguns casos, até com jogadores estrangeiros, enquanto nós vamos lutando com a qualidade que conseguimos extrair dos atletas que vieram da nossa formação, percurso onde houve, de facto, um esforço grande para melhor os capacitar. Tenho contado sempre com uma boa assiduidade aos treinos, vejo que eles estão em sintonia com a minha ambição e isso tem facilitado o trabalho.

 

Os atletas mais velhos do plantel têm-no ajudado a integrar os mais jovens?Eles são a minha voz dentro do campo, são a minha voz no balneário, são atletas em quem eu confio e a quem pedi que confiassem em mim. Quando aceitei este projeto falei com abertura e sinceridade com todos os jogadores. Pus “as cartas em cima da mesa”, no sentido de que, se detetassem alguma situação que estivesse menos bem, me comunicassem de imediato. Quero ter sempre o retorno deles. Gosto imenso de falar com os atletas, de saber como estão, preocupo-me com eles. Quando não vêm a um treino questiono-os se existiu algum problema. Procuro ter um grupo coeso e jogadores que confiem neles próprios. Nessa medida, é importantíssimo que os jogadores mais experientes ajudem no crescimento dos mais jovens.

 

Saíram para outros clubes jogadores que, seguramente, teriam lugar nesta equipa. É o eterno, e inevitável, problema da saída para as universidades?Infelizmente, é a realidade que temos aqui em Beja. E alguns que vêm estudar para Beja e jogavam hóquei optam por outras atividades e não procuram o Clube de Patinagem de Beja. No passado, este clube teve a felicidade de contar com o Márcio Aldeagas e comigo próprio, que viemos estudar para esta cidade. O senhor João Magalhães teve a oportunidade de agarrar estes dois atletas. Nós adorávamos a modalidade e aceitámos o desafio do clube. Neste momento, os nossos atletas chegam ao final do ensino secundário vão para as universidades, procuram outros clubes, e até estão a fazer um bom campeonato, portanto, só temos que trabalhar com a prata da casa que a formação nos disponibiliza.

 

Está confiante de que o Clube de Patinagem de Beja continuará “Imparável”?Este clube sempre foi “Imparável”, quer nas vitórias, quer nas derrotas. É um clube único. Um clube que nasceu e cresceu com uma pessoa a quem eu devo muito, uma pessoa que apostou na formação, algo que deu muitos frutos e muitas alegrias. Seria um prazer vermos o clube ser campeão nacional da terceira divisão e atingir a divisão superior. Mas os tempos são diferentes e, apesar da ambição, parece um passo pouco realista.

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