Diário do Alentejo

Campeão nacional de ténis de mesa em veteranos, António Bentes já prepara o mundial de 2024, em Roma

22 de setembro 2023 - 11:00
Uma notável dedicação…
Foto | José RodriguesFoto | José Rodrigues

Quarenta e um anos de dedicação ao ténis de mesa e um riquíssimo palmarés de conquistas individuais e como treinador, eis o perfil do mesa-tenista António Bentes, atleta, dirigente e treinador da Sociedade Luso União Serpense que no, próximo ano, estará no mundial, em Itália.

 

Texto | Firmino Paixão

 

“Este ano, conquistei o terceiro título nacional como veterano. Já fui três vezes campeão nacional nesta categoria, uma em pares e duas individuais”, reconheceu o professor António Bentes. “Como treinador também conquistei títulos, por exemplo, em cadetes, também fomos campeões nacionais da 3.ª divisão, em seniores, e subimos à 2.ª divisão de honra, duas vezes campeões nacionais de pares, uma em cadetes, outra em sub/21, e temos 11 títulos de vice-campeões nacionais. Tudo isso ao nível federado porque, no Desporto Escolar, também já fomos quatro vezes campeões nacionais, duas individuais e duas por equipas. Já representei Portugal, em Israel, ao nível do Desporto Escolar. Penso que tem sido um percurso engraçado. Mas também fruto do trabalho e do entusiasmo de todos, porque não estou sozinho”. Mas como mantém uma intensa atividade, a ambição ainda não se esgotou. “Este ano gostava de revalidar o título, também já me inscrevi para o Campeonato do Mundo de Veteranos, que será em Roma, em julho de 2024. Mantenho a mesma ambição, nunca desmedida, mas pragmática. Se os resultados vierem, tudo bem, não vindo, a vida continua, trabalharemos para sermos melhores”.

A paixão pela modalidade começou antes da Revolução de Abril de 1974, mas o movimento associativo era quase inexistente e a sua atividade era informal. “Após o 25 de Abril, deu-se aquela massificação do desporto e diversificação das modalidades e comecei a praticar com regularidade no Centro de Cultura Popular de Serpa. Muito informalmente, sem campeonatos organizados”. Sete anos depois: “Vim trabalhar para Serpa e comecei a frequentar, mais assiduamente, o Luso Serpense, até que um diretor da altura, o senhor Bento Pataca, me propôs a formação de uma equipa para participar em torneios em representação do clube. Achei interessante e formámos a secção de ténis de mesa do Luso União Serpense”.

Começou por ser um autodidata, depois veio a prática mais regular. “Interessei-me em ir a alguns torneios para aprender, fui a algumas formações e tentei sempre fazer o melhor que sabia e podia”. Porém, faltava a competição mais local, por isso, como em Beja não existia associação da modalidade: “Em 1982, então, fiz uma carta para todos os municípios do distrito de Beja a propor a organização de um campeonato. Surgiram 10 equipas e fizemos um campeonato muito interessante”. O que terá, então, encantado o professor António Bentes nesta modalidade, para manter tamanha longevidade e dedicação à causa? “Tem sido a grande camaradagem”, revelou. “O ténis de mesa é um desporto que, a todos os níveis, faz bem à saúde. E quando assim é, torna-se difícil sairmos de onde estamos. Praticando desporto as pessoas também aprendem a conviver umas com as outras. Enquanto existirem jogadores interessados e que tenham respeito pelo ténis de mesa, manteremos a modalidade viva”. Por outro lado, sentiu que também cresceu. “Aprender a perder e a saber ganhar, tudo isso faz crescer as pessoas. Têm sido 41 anos de uma ligação, praticamente diária, ao ténis de mesa. Um percurso gratificante, pelo qual tenho que mostrar o meu reconhecimento, principalmente ao clube, às entidades que nos apoiam e aos colegas que por aqui passaram ao longo dos anos que, se calhar, foram umas boas centenas. Penso que nenhum saiu daqui a mal. Todos os que saíram foi por motivos profissionais, motivos de saúde ou pessoais”.

António Bentes criou a secção no Luso Serpense, criou outra na Casa do Povo de Serpa, tem sido dirigente, atleta, treinador… O que lhe falta fazer no ténis de mesa? “O que me falta fazer é prosseguir este caminho com a mesma dedicação, até que possa. Estou muito satisfeito, muito feliz por este meu percurso na modalidade. É muito gratificante ver atletas que vi começar a praticar aos sete anos, e hoje, com mais de 40, ainda jogam na equipa do Luso Serpense. É gratificante, porque tornam-se quase como um familiar que nos quer bem, e a quem nós também desejamos o melhor. É este sentido de união e de respeito que nos une, que é a coisa mais importante que existe entre todos nós”. Uma dedicação que lhe poderia valer o epíteto de “Senhor Ténis de Mesa” neste distrito, contudo, o serpense declina tal distinção. “Essas coisas dizem-me pouco, ou quase nada. Nunca me pus em bicos dos pés para coisa nenhuma. O que realmente me dá prazer é praticar o desporto de que mais gosto, sabendo que me está a fazer bem à saúde. E saber que as outras pessoas que estão à minha volta também estão a fazer uma coisa de que gostam. Isso é que interessa”.

Na modalidade, já deixou a semente. O seu filho, João Bentes, também já é praticante. Depois, tem outros jovens que, não sendo familiares, por tudo o que, da sua sapiência, tem partilhado com eles, são, digamos, uma extensão da sua raquete. “Sim. Penso que sim. Somos realmente uma família. Não encontro outra maneira de o dizer. Nós, enquanto treinadores, somos conselheiros, somos psicólogos, somos colegas de equipa, somos motoristas, somos tudo e mais alguma coisa. Criam-se afetos, as pessoas aproximam-se e damo-nos como família”, rematou.

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