Diário do Alentejo

Henrique Casimiro (Efapel Cycling) assume ter feito a sua melhor Volta a Portugal em Bicicleta

22 de setembro 2023 - 08:00
“Deixei tudo na estrada”
Foto| Firmino PaixãoFoto| Firmino Paixão

“Senti que estava no lote dos ciclistas que podiam vencer a Volta a Portugal”, confessou o almodovarense Henrique Casimiro (Efapel Cycling) que, à partida para o contrarrelógio final, ocupava a segunda posição da geral individual, apenas a 45 segundos do líder.

 

Texto Firmino Paixão

 

Depois do sexto lugar na geral individual na 84.ª Volta a Portugal em Bicicleta, o alentejano Henrique Casimiro, de 37 anos, voltou à estrada e conseguiu o terceiro lugar no Grande Prémio Jornal de Notícias, prova que fechou oficialmente a época. Quem viu a Volta a Portugal da berma da estrada, olhou para a prestação do almodovarense como notável, sobretudo porque esteve ali tão perto de vestir de amarelo. Contudo, recordou o ciclista: “Foi a sexta vez que fiquei entre os melhores 10 na Volta a Portugal”.

 

A última, foi a sua melhor Volta a Portugal?Já tinha feito outras Voltas a Portugal em que, ao nível físico, estive numa condição muito idêntica mas, realmente, na última Volta consegui destacar-me. Também tive a sorte de, em momentos decisivos, não terem surgido contratempos como, porventura, terá acontecido noutras voltas anteriores, em que poderia ter estado na discussão da prova, mas aconteceram algumas contrariedades que me afastaram dessa possibilidade. Mas isso faz parte do ciclismo e temos que saber lidar com esses percalços. Mas a última, felizmente, foi uma Volta sem contrariedades, lutando nos momentos certos, aparecendo nas alturas certas. Os percalços que a equipa teve foram mesmo antes de iniciar a Volta, com o impedimento de dois colegas que adoeceram, ciclistas que seriam peças chave no auxílio, principalmente na montanha, o Joaquim Silva e o Emanuel Duarte. Todos os outros estiveram a um nível excecional, por isso, sim, considero que foi a minha melhor Volta a Portugal. Agora é claro que, em termos de equipa, queremos sempre mais, sobretudo quando vemos as coisas tão perto que, às vezes, uma questão de segundos, ou um minuto, parece tão pouco tempo que é possível recuperar, mas na estrada é uma tarefa difícil. Mas saí de consciência tranquila, pois sei que dei o máximo, deixei tudo na estrada. Agora, sabia que teria o handicap do contrarrelógio e teria que chegar lá com alguma vantagem para os principais adversários. Mas eles estiveram à altura e defenderam-se nos momentos certos.

 

O Henrique é forte na montanha e foi, principalmente nessas etapas em que brilhou, mas esteve sempre consciente de que o contrarrelógio final, em Viana do Castelo, não lhe seria favorável? Nós sabíamos que teríamos jogar todas as cartas nas etapas anteriores. Tentámos logo a partir das primeiras etapas, através de estratégias diárias. Mas os nossos adversários também estiveram bem. Mas sim, eu sabia que teria que chegar a essa etapa bem destacado desses atletas e ter um bom dia no crono. Não fiz um mau crono, mas também acho que não fiz um crono à minha altura. Poderia ter tirado ali 20 segundos, que me levariam ao quarto lugar, sabendo que o pódio seria difícil. O suíço Colin Stussi (team Vorarlberg) é um bom atleta e veio num bom momento de forma. Não era desconhecido para nós, a menos que tivesse qualquer azar, mas nós nunca queremos vencer com o azar dos nossos adversários, por isso, em condições normais, sabia que o pódio era um objetivo real, mas vencer seria muito difícil.

 

Chegou à penúltima etapa na segunda posição à distância de 45 segundos do Colin Stussi. Chegou a pensar na possibilidade de cumprir o sonho de vencer a Volta?Temos que partir sempre com a maior ambição e com o sentimento de que poderemos vencer. Caso contrário, já partiremos derrotados. Na verdade, senti que isso seria possível, pois, pela primeira vez, senti que tinha uma equipa ao meu redor. Não havia outras opções e a equipa focou-se apenas nesse objetivo. Quando se parte para uma prova dessas não se pode dispersar muito os objetivos, correndo o risco de não atingirmos nenhum. O certo é que a estratégia funcionou, porque chegámos ao penúltimo dia em segundo lugar da geral e com possibilidade de discutir a vitória. Nos momentos decisivos claro que senti que estava no lote dos atletas que podiam ganhar a Volta a Portugal.

 

O ciclismo é uma modalidade muito exigente, com muito apelo ao sacrifício, à dor e ao sofrimento. Fica muito suor por essas estradas…Costumo dizer que o treino tem que ser duro, para as provas se tornarem mais fáceis. Nas provas pomos em prática tudo o que já sofremos. Muitas vezes longe da família, que sofre com essa ausência, mas que também é o nosso maior suporte. E esse sofrimento, essa capacidade de superação, são as coisas que ninguém vê. Portugal é um país onde só a Volta a Portugal é mediatizada. O resto das provas não tem grande divulgação. Só a Volta ao Algarve, pela qualidade das equipas que traz a Portugal, já vai tendo também outra visibilidade.

 

Os recentes casos de doping molestaram a imagem do ciclismo nacional e têm levado ao declínio da modalidade?Quero acreditar que o maior pico de declínio já aconteceu. Repare que nesta última Volta, quando chegámos ao último dia, tínhamos seis ciclistas com possibilidade de discutir a vitória. Acho que esse equilíbrio de forças já é um sinal positivo, um sinal que indicia o facto de já termos ultrapassado o ponto mais baixo da crise e estarmos num momento de retorno. O ciclismo é o segundo desporto mais acarinhado pelos portugueses, portanto, quero acreditar que, depois de termos batido no fundo, já estamos de volta.

 

Já renovou com a Efapel Cycling, de José Azevedo. O sonho de ganhar uma Volta a Portugal permanece intacto?Sim, este projeto é aquele com que mais me identifiquei, ao nível de ideias, de valores, de crenças, por isso faz todo o sentido continuar, portanto já renovei para a época 2024. O sonho que sempre existiu, desde pequenino, é o de ganhar uma Volta. Este ano já me vi mais perto e isso dá-me motivação para continuar a trabalhar para o conseguir, sabendo que os anos vão passando e as oportunidades começam a diminuir, porque já não sou novo, mas motiva-me chegar a esta idade e saber que me mantenho competitivo.

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