O novo executivo do Sport Clube Mineiro Aljustrelense, liderado por Paulo Guisado, tem uma nova estratégia para o clube: apostar na prata da casa, potenciando os atletas oriundos das suas equipas de formação.
Texto | Firmino Paixão
Os tricolores estão, como se diz na gíria futebolística, “a dar um passo atrás, para, mais adiante, poderem dar dois em frente”. Um projeto que tem a cumplicidade, a força e a determinação do treinador Carlos Piteira, de 50 anos, um cubense que vive na Vila Mineira há três décadas e que tem no seu plantel os filhos Gonçalo e Guilherme, ambos formados no clube. Piteira pede coragem para dizer às pessoas que, embora não ganhando sempre, este é o caminho certo para a sustentabilidade do clube.
O Mineiro Aljustrelense está a viver um tempo novo, um ciclo de cumplicidade entre um novo presidente e um novo treinador?Houve uma questão que nos trouxe para este grande desafio. Passadas cinco assembleias sem aparecer ninguém para formar uma direção, o Paulo Guisado fez uma lista e convidou-me para um novo projeto que, de certa forma, deveria ter sido sempre o trajeto do Mineiro, que era ter jogadores da terra. Temos todo o respeito pelos jogadores que vêm de fora, mas o clube tem de ter alguém desta terra a representá-lo. Não podemos fugir disso. A formação vai dando alguns frutos que devemos aproveitar e não podemos fazer de conta que temos formação e não a potenciar. Temos de nos orgulhar deles e dar-lhes confiança para que eles possam valorizar o futuro do Mineiro.
O projeto passa, essencialmente, por potenciar a formação ou existem outras projeções?Toda a gente fala que o Mineiro tem de se apresentar sempre como candidato ao título. É verdade que o Mineiro é uma enorme referência, com um grande envolvimento de uma massa adepta formidável, que ajuda muito o clube. Mas, neste momento, o Mineiro tinha de pensar numa solução de futuro e isso passa pelo aproveitamento da sua formação. Não é só aqui, é noutros clubes do distrito e até nacionais. O Mineiro, no ano passado, acabou a época sem um jogador de Aljustrel no plantel. Um clube com tanta história e não tem um jogador da terra? Alguma coisa não estaria bem. São factos. O clube tem uma equipa de juniores que não subiu ao campeonato nacional por um pequeno detalhe, depois de ter andado sempre na frente. Temos de aproveitar esta juventude. Temos de ter coragem de dizer às pessoas que é este o caminho certo. Se calhar não venceremos tantas vezes como desejaríamos, mas temos a certeza de que eles darão tudo em prol deste clube e, face ao seu crescimento, o clube terá mais estabilidade no próximo ano. As pessoas não vinham ver o Mineiro porque não viam jogadores da terra, não tinham referências e, desta forma, diremos às pessoas que o antigo Mineiro voltou. Queremos que as famílias, que tanto adoram do Mineiro, se voltem a unir em torno do clube.
Mesmo contrariando o ADN do clube, eterno candidato a vencer as competições regionais?Tudo se consegue com trabalho e eu acredito nos jovens, porque eles são a mola real daquilo que é o desporto. Naturalmente que, em conjunto com alguns jogadores mais experientes, equilibraremos a equipa, para nos tornarmos competitivos, sabendo que existem outras equipas que, há dois ou três anos, querem regressar ao Campeonato de Portugal e que, se calhar, contarão com atletas mais experientes do que nós, mas isso não significará que o Mineiro não tenha uma palavra a dizer. O Mineiro é sempre um candidato e vai continuar a sê-lo. Candidato a ganhar todos os jogos. Claro que temos de vencer, mas também tem de ser um clube sustentado de uma forma que lhe garanta o futuro. Sou sócio do clube há 30 anos. Se não fosse treinador e entrasse por aquela porta e visse aqui 10 ou 15 jogadores da terra sentia-me orgulhoso.
O Carlos Piteira é ambicioso e lidera um grupo com ambição. Não se sentirão pressionados para vencer, mas querem-no muito?Claro. O futebol é feito de resultados, às vezes fazemos um grande jogo mas a bola bate no poste e sai. Outras vezes, fazemos o mesmo jogo e a bola bateu no poste e entrou. Fizemos um grande jogo, mas se a bola não tivesse entrado, a exibição já não era a mesma. A mensagem que passo aos jogadores é que temos de dar o máximo de nós próprios. Quero uma equipa que, independentemente do resultado, possa olhar nos olhos da nossa massa associativa e estarmos conscientes de termos deixado tudo em campo. É evidente que estamos num processo de formação de uma equipa totalmente nova. Tudo leva o seu tempo. Estamos a preparar o futuro do Mineiro e isso valoriza-nos a todos, jogadores, equipa técnica e direção. O Mineiro deu um passo em frente. Não sou de Aljustrel, estou aqui há 30 anos e já tenho os dois filhos a jogar no clube. Era um sonho meu, um dia poder juntar-me com eles, e estou a concretizá-lo. Mas os jogadores deste plantel são todos meus “filhos”. São tratados de igual forma. Um dia queremos pensar que fomos importantes neste clube, não fomos melhores, fomos diferentes. Há algum tempo que havia uma pedra que era preciso colocar no sítio e nós estamos a conseguir fazê-lo.
O clube tem pela frente três desafios competitivos diferentes: Campeonato, Taça de Honra e Taça Distrito de Beja. Irá dar o máximo em todos os momentos?Sem dúvida. Temos tudo muito bem definido. A Taça de Honra vem acrescentar mais competição à época desportiva, para não ser tão curta. A Taça Distrito de Beja, para mim, tem uma relevância ainda maior, porque também dá acesso à Taça de Portugal, por isso, é uma competição com alguma beleza, e, depois, o campeonato, que será a “cereja no topo do bolo” porque dará acesso ao Campeonato de Portugal.
O Mineiro vai iniciar o campeonato em Cuba, a sua terra natal. Estará entre dois amores?Sou filho daquela terra. Estarei sempre grato ao Sporting de Cuba e à minha terra natal. Mas, com todo o respeito por aquele clube, sou profissional em tudo o que faço. Treinar aquele clube, como treinei na época passada, foi um sonho de criança, mas hoje estou no Mineiro. Vivo em Aljustrel há 30 anos. Aqui formei a minha família, aqui estou em casa e estou confortável. Quero deixar aqui uma marca. Quero ser mais um a querer ajudar o Mineiro a ser mais forte no futuro.