O Sport Clube Odemirense, emblema que atravessa um tempo de celebração do centenário da sua existência, poderá surgir, já na próxima época desportiva, a disputar os campeonatos regionais de basquetebol.
Texto Firmino Paixão
O Tiago e o Jasper, dois meninos que integram o projeto da nova modalidade, foram, digamos, “os culpados” deste reforço para o ecletismo do Odemirense. Um, porque lhe despertou o interesse pela modalidade, o outro, porque, conhecendo a experiência que a mãe, Neusa Valente, teve como praticante de basquetebol, resolveu cooptá-la para dar corpo à ideia. A equipa tem crescido em número de praticantes, já se filiou na Associação de Basquetebol do Alentejo e, muito provavelmente, já na próxima temporada, competirá oficialmente, como revelou a dinamizadora do projecto, Neusa Valente.
Um projeto inovador e com particularidades interessantes…
O projeto nasceu porque um miúdo, o Tiago, teve essa ideia, pois viu os colegas a jogar basquetebol na escola. O meu filho – que sabia que eu tinha sido jogadora há bastantes anos no Atlético de Moscavide, em Lisboa, e que também joguei em Inglaterra vários anos, enquanto lá estive a viver – acabou por revelar: ‘A minha mãe jogou basquetebol, não sei se ela estaria interessada em ajudar-nos’. Perguntaram-me se eu queria acompanhar os jovens, para sabermos se haveria interesse em iniciarmos este processo e ver se motivávamos outros jovens do concelho para experimentarem outra modalidade, uma vez que, enquanto modalidades de pavilhão, existe apenas o andebol e o futsal.
E a Neusa aceitou prontamente esse desafio?
Sim. Começámos em março a dinamizar a atividade e, desde então, temos verificado um aumento de jovens por treino, 10, 12, e já tivemos 22 jogadores a treinar, o que começa a ser difícil, por causa das instalações. Mas temos miúdos de vários escalões, ainda não fizemos a divisão. Queríamos saber, primeiro, se haveria adesão e até agora, realmente, as coisas têm corrido muitíssimo bem.
O Tiago e o seu filho, o Jasper, foram “os culpados” de tudo isto acontecer?
Na realidade, o Tiago já estava no Odemirense e o meu filho, o Jasper, que também está na equipa, é que propôs que fosse eu a ajudar na construção da equipa. Mas eu anuí, disse-lhe que estava bem. Não sou licenciada em Desporto, é um trabalho que nunca fiz, apenas fui praticante, mas vamos experimentar e avaliaremos se existe interesse nos jovens para que a modalidade possa crescer. Mas senti não só uma boa adesão dos miúdos como o interesse da parte da população. Se for para andar para a frente, eventualmente, depois, teremos de criar outro tipo de condições.
Vê-se que fala deste projecto com algum entusiamo. Não está arrependida de ter lançado a primeira bola ao cesto?
Não, de forma alguma. E repare que começámos com um treino por semana e vamos, atualmente, com três treinos semanais. Todos os jogadores se queixam que, às vezes, só treinamos uma hora, apesar da dificuldade que existe em termos de transportes públicos, que são um bocado limitados, e porque estamos a preencher apenas um horário que estava vago entre as outras actividades que têm alguma prioridade, como é normal. Por vezes, acabamos às nove, nove e meia da noite. Mesmo em tempo de escola, eles têm feito sempre esse esforço.
A Associação de Basquetebol do Alentejo, em que eventualmente se irão filiar, já vos dá algum apoio?
Já começámos a ser apoiados pela Associação de Basquetebol do Alentejo, entidade em que já estamos filiados. Também pelo Beja Basket Clube, com quem já fizemos um intercâmbio de jogos, no sentido de darmos alguma experiência competitiva aos nossos miúdos. Na próxima época, eventualmente, já teremos outro tipo de organização, de forma a iniciarmos a competição nas provas regionais dos escalões que conseguirmos reunir ou até competirmos em alguns torneios em que nos for dada essa oportunidade. Vontade e entusiamo não faltam aos nossos jovens. Estamos um bocado em ambiente de espírito de grupo, estão todos ainda muito fresquinhos na modalidade, depois começarão a ver como é o processo de treino mais a sério e o jogo, convivendo com os outros que já sabem mais, porque terá de existir sempre essa curva de aprendizagem.
Com este entusiasmo à volta do projeto, é já qualquer coisa de irreversível?
Exatamente. Repare nas horas a que eles treinam, na assiduidade que têm mantido, treinando até em tempo de férias. Temos só uma rapariga que tem comparecido em todos os treinos. Já lhe disse que será a única nos jogos mas não deu valor a isso: respondeu-me que quer é jogar. É uma miúda espetacular. Desde que, em março, iniciámos a actividade, começou a ver-se alguma evolução, quer em termos físicos como técnicos. No princípio, ninguém tinha medo de atirar ao cesto, toda a gente falhava, as bolas batiam na tabela e voltavam para trás, mas agora já se nota alguma melhoria técnica.
Estão bem enquadrados, com uma treinadora experiente na modalidade…
Estou a fazer isto em regime de voluntariado, apenas isso. Faço-o com muito gosto. Tenho realmente experiência de alguns anos. Atualmente, não estou federada, mas, eventualmente, quando as coisas andarem mais para a frente, o projeto vai requerer outro tipo de apoio e de organização. Se o Sport Clube Odemirense quiser continuar, terá de existir outro tipo de alinhamento em termos de treinadores, como é normal. Ficarei feliz só por ter iniciado este processo, e se as coisas forem para a frente, e o clube conseguir melhorar, ainda ficarei mais feliz,
A comunidade odemirense, os pais, os sócios, têm gostado a ideia?
Acho que sim. Cada vez que falo com os pais tenho sempre respostas muito entusiasmantes e o desejo de que os filhos experimentem outras atividades diferentes. A educação física na escola é importante, mas os miúdos devem ter também outra opção de uma prática desportiva cá fora. A atividade física é importante até do ponto de vista de convívio e de partilha de valores que fazem os miúdos crescer. E com a população migratória do concelho ainda é mais relevante, porque é uma forma de inclusão. O desporto fala várias línguas.