Diário do Alentejo

Venezuelano Orluis Aular (Caja Rural/RGA) bisou na “Alentejana”

31 de março 2023 - 09:00
Uma festa “caribeña”...
Fotos | Firmino PaixãoFotos | Firmino Paixão

O corredor venezuelano Leangel Linarez (Tavfer/Q8/Anicolor) venceu a última tirada e o seu compatriota Orluis Aular (Caja Rural/Seguros RGA) conquistou, pela segunda vez consecutiva, a Volta ao Alentejo em Bicicleta. A formação britânica Trinity Racing venceu coletivamente.

 

Texto Firmino Paixão

 

Chegou ao parque da Cidade, em Beja, vestindo a camisola com as cores nacionais do seu país. Deixou-se fotografar, para o “Diário do Alentejo”, tendo como fundo o logótipo da cidade e, perspetivando os desafios que o esperavam durante os próximos cinco dias, o vencedor da 39.ª “Alentejana” disse ao que vinha: “Repetir a vitória de 2022. Estou num bom momento e conto especialmente com a ajuda dos meus companheiros de equipa, por isso, vou tentar fazer essa história na prova. Sei que nunca nenhum corredor venceu por duas vezes consecutivas”.

 

Cinco dias, cinco etapas e mais de 834 quilómetros depois de ter deixado a capital baixo-alentejana, Orluis Aular, de 26 anos, nascido em Nirgua, confirmou a sua premonição no centro histórico de Évora. Voltou a vencer a “Alentejana” e, curiosamente, sem ter conquistado qualquer das cinco etapas.

 

Prevaleceu a sua regularidade nas chegadas, três segundos lugares e um terceiro, acumulando bonificações que, nas contas finais, deram a vitória ao campeão nacional da Venezuela, nesta que foi a 40.ª (e por isso, especial) edição da Volta ao Alentejo em Bicicleta.

 

“Estou muito feliz, foi uma vitória importante, porque o meu nome, com as duas vitórias que já consegui, ficará ao lado de grandes nomes do ciclismo mundial que aqui também fizeram história”, rematou, já a caminho do seu autocarro, com o manager à boleia na sua bicicleta.

 

Na história da corrida sobressai a chamada etapa rainha, aquela que saiu do Crato em direção a Castelo de Vide, com a serra de São Mamede como palco, onde estavam desenhadas cinco contagens para o Prémio de Montanha, quatro de terceira categoria, uma de segunda.

 

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Nas planícies do Sul, a baixa orografia nada decidiu, mas esta incursão na bela e histórica vila de Castelo de Vide vai ganhando a tradição de ali ser encontrado o vencedor deste que é um dos maiores, senão o maior, acontecimento desportivo da região que, infelizmente, vai ficando no esquecimento dos media nacionais e de muitas emissoras de rádio locais que, outrora, deram uma grande projeção à prova.

 

A Volta ao Alentejo, corrida que, neste ano, voltou a contar com o Crédito Agrícola como parceiro principal, continua a ser uma promoção da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central (Cimac), com organização técnica da empresa Podium Events e com o natural apoio das restantes comunidades intermunicipais e dos diferentes municípios da grande região alentejana.

 

A Volta ao Alentejo tem futuro, garantem os principais responsáveis pela sua colocação nas estradas. Contudo, está a perder (já perdeu) aquela identidade que a diferenciava das restantes provas velocipédicas nacionais.

 

Posaram para a foto dos laureados o jovem Pedro Silva (Glassdrive) como vencedor do Prémio da Montanha (Camisola Azul Correio da Manhã), Max Wal-ker (Trinity) como líder do Prémio da Juventude (Camisola Branca Turismo do Alentejo) e Orluis Aular, vencedor da Regularidade (Camisola Verde Delta Cafés), que acumulou com o jersey de conquistador da “Alentejana” a Camisola Amarela Crédito Agrícola. O melhor ciclista português, Joaquim Silva (Efapel Cycling), terminou na décima terceira posição.

 

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"À VOLTA DA VOLTA..."

Nos bastidores desta 40.ª “Alentejana” ouvimos três figuras incontornáveis na história da prova. Alfredo Barroso, carismático autarca que liderou o município de Redondo, grande impulsionador da Volta ao Alentejo; também Carlos Pinto Sá, autarca que, desde há alguns anos, é o seu anfitrião na cidade de Évora, palco onde os vencedores são laureados; e o atual diretor da organização, o antigo ciclista Joaquim Gomes.

 

CARLOS SÁ PINTO - "UMA VOLTA COM FUTURO"

Carlos Pinto Sá, autarca eborense e presidente do conselho intermunicipal da Cimac, foi perentório: “Não tenho dúvidas de que a Volta não só terá futuro, como terá condições para passar a outros níveis, sendo importante avaliarmos a evolução do quadro económico, algo que é imponderável, mas iremos ponderar, com os nossos parceiros, todas as possibilidades que possam valorizar ainda mais este grande acontecimento desportivo”, adiantou o presidente da Câmara Municipal de Évora.

 

O autarca quis ainda “salientar que estes 40 anos são uma epopeia em prol do Alentejo, a projetar esta região em termos nacionais e internacionais e a criar amizades. Quarenta anos depois, a Cimac, no início Associação de Municípios do Distrito de Évora, continua a garantir a organização, naturalmente, com a cooperação de todos os municípios e agora, felizmente, também com a colaboração das outras comunidades intermunicipais da região que entendem que vale a pena, de facto, continuar a apoiar esta Volta porque ela é a imagem do Alentejo”.

 

Multimédia2Foto | Carlos Pinto Sá, presidente da Câmara Municipal de Évora e do Conselho Intermunicipal da da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central (Cimac)

 

ALFREDO BARROSO - “PRESTIGIA A REGIÃO”

O antigo presidente do município de Redondo e da antiga Associação de Municípios do Distrito de Évora dirigiu 24 edições da Volta. Visitou a caravana e não escondeu o seu orgulho na “Alentejana”.

 

“Uma organização que prestigia esta região, como é a Volta ao Alentejo, só pode ser motivo de orgulho para todos nós. Mas é importante recordar os sacrifícios, o grande esforço e a grande união, direi mesmo, de todos os alentejanos, ano após ano, para a Volta ir para a estrada, com todas as dificuldades financeiras e logísticas, porque tudo isso era assumido pelas câmaras e associações de municípios. Portanto, é realmente uma satisfação e um orgulho enormes ver esta prova chegar aos 40 anos e espero estar aqui, também, daqui por 10 anos a celebrar a edição do meio século”. Barroso recordou que “falta aquele convívio que existia no final das etapas”.

 

“Naturalmente que o figurino passou a ser diferente, chegadas numa terra e partidas a alguma distância, e as pessoas acabam por se dispersar e perdeu-se aquele calor que todos sentiam existir na ‘Alentejana’”.

 

Multimédia3Foto | Alfredo Barroso, antigo presidente da Câmara Municipal de Redondo e da antiga Associação de Municípios do Distrito de Évora 

 

JOAQUIM GOMES - “PROMOVER A COESÃO”

O diretor de organização das últimas 13 Voltas, ciclista que venceu a prova em 1988, reconheceu: “A corrida foi muito bem disputada, tivemos uma etapa espetacular, aquela que ligou o Crato a Castelo de Vide, que contribuiu com o peso das bonificações, fazendo com que fosse uma competição equilibrada. Tão importante como tudo isso é acreditar que os municípios e os parceiros e, em particular, o Crédito Agrícola que, no fundo, é o rosto do evento, estão extremamente satisfeitos e entusiasmados, e isso permite-nos, em conjunto com a Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central começar já a pensar na edição de 2024”.

 

O antigo ciclista e vencedor da “Alentejana” fez notar: “Acredito sinceramente que a Volta ao Alentejo tem um futuro muito promissor pela frente. Não estamos propriamente em tempo de ‘vacas gordas’, mas tenho muitas dúvidas de que exista outra atividade desportiva com capacidade em promover o território e a coesão entre as regiões como têm as provas de ciclismo”.

Multimédia4Foto | Joaquim Gomes, diretor da organização da Volta ao Alentejo

 

VENCEDORES E LÍDERES

  • 1.ª Etapa | Beja/Ourique | 168,8 quilómetros | Média 43,2 quilómetros/hora:
    Vencedor: Luke Lamperti (Trinity Racing);
    Camisola Amarela: Luke Lamperti (Trinity Racing);

  • 2.ª Etapa | Castro Verde/Grândola | 170,8 quilómetros | Média 40,2 quilómetros/hora:
    Vencedor: Leangel Linarez (Tavfer/OM/Mortágua)
    Camisola Amarela: Luke Lamperti (Trinity Racing)
  • 3.ª Etapa | Vendas Novas/Estremoz | 191,4 quilómetros | Média 42,55 quilómetros/hora:
    Vencedor: Cyril Barthe (Burgos BH);
    Camisola Amarela: Cyril Barthe (Burgos BH);

  • 4.ª Etapa | Crato/Castelo de Vide | 148,2 quilómetros | Média 40,1 quilómetros/hora:
    Vencedor: Adrian Bustamante (Kelly Simoldes Udo);
    Camisola Amarela: Orluis Aular (Caja Rural/Seguros RGA);

  • 5.ª Etapa | Monforte/Évora | 154,9 quilómetros | Média 43,4 quilómetros/hora:
    Vencedor: Leangel Linarez (Tavfer/ OM/Mortágua);
    Camisola Amarela: Orluis Aular (Caja Rural/Seguros RGA).

 

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