Diário do Alentejo

José Carlos Lima reflete sobre a promoção dos valores no desporto

04 de novembro 2022 - 13:30
O Coordenador do Plano Nacional de Ética no Desporto, do Instituto Português do Desporto e Juventude, José Carlos Lima, esteve, recentemente, na cidade de Beja, onde acompanhou a cerimónia de abertura do Torneio Nacional de Futebol de Rua que aqui decorreu.
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

A promoção do desporto com valores, como a ética, o fair-play, a não-violência e o combate ao bullying, foram temas, entre outros, que serviram de base a uma conversa, exclusiva, entre o “Diário do Alentejo” e José Carlos Lima, dirigente do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), que coordena o Plano Nacional de Ética no Desporto (PNED), num cenário que teve como pano de fundo uma competição nacional de Futebol de Rua, onde se promove a inclusão e se potenciam todos os valores para uma prática desportiva com ética. Foi essa a reflexão que propusemos ao coordenador do PNED.

 

Texto Firmino Paixão

 

É aqui, em eventos desta natureza, que se promove e potencia a ética no desporto?

Sim, é um evento que promove o desporto como ferramenta de inclusão, porque o Futebol de Rua visa congregar jovens que têm alguma dificuldade de integração ou iliteracia social e educativa e que, através do desporto, neste caso, através do futebol, se consegue realmente incluir essas pessoas também de uma forma mais harmoniosa e, portanto, é um valor fantástico que, neste caso, o futebol promove. É um valor ético como existem muitos outros. Este torneio também visa uma das coisas muito interessantes, que é a promoção do fair-play. Desde que nós criámos o ‘Cartão Branco’, o cartão que promove e simboliza o fair-play e o gesto positivo, que este torneio adopta este cartão. Portanto, também queremos ensinar a estes jovens que, no futebol e no desporto em geral, existe luta pelo triunfo, existe sempre o embate gerado pelo desejo de queremos vencer, mas temos que saber vencer com valores, vencer com fair-play e posso dizer-lhe que este Cartão, neste torneio, é, realmente, muito mostrado aos intervenientes, sinal de que se vivem estes valores nesta competição.

 

O IPDJ preocupa-se em que a ética seja cada vez mais implementada por todo o território nacional?

Sim, o nosso plano é bastante preventivo, direccionado muito às crianças e aos jovens, porque são eles o futuro. São eles que poderão ainda mudar alguma coisa ao nível do carácter. Alia-se muito a valorização do desporto aos profissionais, mas a nossa missão é muito vocacionada para a educação no desporto e, portanto, o nosso público-alvo é muito as crianças, é muito os jovens. Penso que será através dessa sensibilização que podemos mudar as coisas.

 

O IPDJ possui várias ferramentas para a promoção dos valores no desporto, o Cartão Branco de que já falou, mas também a abolição do bullying nas escolas, entre outros…

Temos um variado conjunto de ferramentas e de recursos para a promoção da ética. Também os jornalistas da imprensa regional podem divulgar eventos ou notícias dedicadas à ética e ao fair-play, mas temos ainda uma outra ferramenta muito interessante que é a Bandeira da Ética, que é a certificação de boas práticas dos clubes, dos municípios ou de outras entidades que promovam o desporto e que se empenhem na promoção da ética. É uma bandeira tipo ‘azul das praias’, mas aqui é um símbolo que certifica boas práticas em que os clubes se envolvam, para promoção da ética. A Bandeira da Ética é, portanto, uma ferramenta, para nós, bastante importante e, a par do Cartão Branco, serão, porventura, as ferramentas mais emblemáticas. Mas também temos, depois, recursos pedagógicos, em que as pessoas podem ir à nossa página na Internet, consultar e descarregar, documentação sobre o bullying, a violência no desporto, e o doping, entre outras questões. Podem descarregar à vontade e distribuir pelas escolas ou por outros locais frequentados por jovens.

 

O distrito de Beja é um dos distritos alentejanos, e quiçá do território nacional, que maior número de candidaturas tem apresentado à Bandeira da Ética e, em muitos casos, com sucesso…

Olhe, já falei, não há muito tempo, com a senhora vereadora do desporto do município de Beja, a Dra. Marisa Saturnino, e comuniquei-lhe que existem muitos municípios a fazerem uma coisa muito importante, que é o seguinte: os contratos e protocolos de apoio financeiro aos clubes, e isto interessa aos clubes, que as câmaras municipais fazem, poderão ser majorados se os clubes tiverem boas práticas, se promoverem a Bandeira da Ética, se desenvolverem acções contra o bullying e contra a violência no desporto. Portanto, há um conjunto de critérios que podem valorizar a majoração do apoio financeiro e isso leva a que os clubes, de forma indirecta, promovam o fair-play, o desporto com valores e a ética no desporto.

 

Portugal é um país onde os exemplos da ética e da promoção de valores têm sido relevantes?

Sim, mas eu acho que as pessoas têm muito a percepção daquilo que passa na televisão, que é mais uma visão negativa. O negativo impacta mais, é mais conhecido o negativo. Mas a sensação que existe, e a certeza que tenho, é que, em Portugal, o desporto vive com valores, há uma dimensão pacífica na vivência do desporto. Não nego que existam dificuldades, porque elas existem, mas a grande maioria das actividades desportivas desenvolvem-se com normalidade.

 

Sem ignorarmos exemplos recentes, como a criação de clubes que abandonam os seus atletas ou a presumível existência de assédio sexual no futebol feminino?

Claro que não. O desporto é o reflexo da sociedade. O desporto é uma actividade humana, e nós, lá dentro, encontramos tudo o que há de bom e de mau que existe na sociedade. E os exemplos que referiu, realmente são negativos, são maus e revelam a fraqueza humana, digamos, aquilo que há de pior na realidade humana e que o desporto também tem. Agora, nós temos é que criar programas de prevenção e chamar a atenção dos clubes para estes problemas, termos recursos pedagógicos para que as pessoas estejam atentas e vigiem para que, realmente, nada disso aconteça.

 

 

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