Diário do Alentejo

Um olhar de João Estrela sobre o estado do andebol no distrito de Beja

15 de julho 2022 - 18:40
Um objetivo 'olímpico'
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

João Estrela, presidente da Associação de Andebol do Algarve, entidade que também tutela a modalidade na região alentejana, tem desenvolvido um notável trabalho na dinamização da modalidade neste território, aumentando o número de clubes e multiplicando os seus praticantes.

 

Texto Firmino Paixão

 

"O distrito de Beja, na altura em que fomos convidados a tutelar o andebol nesta região, tinha três clubes, o CCP Serpa, a ACR Zona Azul e a Associação Cautchú. Segundo os estatutos e as normas regulamentares, a Federação de Andebol de Portugal só pode delegar competências em associações desde que tenham quatro ou mais clubes filiados e com atividade”, recordou o dirigente, prometendo fechar o atual ciclo olímpico com, pelo menos, oito clubes do Alentejo filiados na Associação que lidera.

 

A Associação de Andebol de Beja arrastava-se numa situação de ilegalidade…

O processo arrastava-se há uns quantos anos porque a Federação de Andebol de Portugal (FPA) vinha dando mais oportunidades para ver se as coisas se recompunham, mas chegou a uma altura em que decidiram fazer alguma coisa porque, se calhar, pior do que estava, seria quase impossível.

 

É nessa altura que entra a Associação de Andebol do Algarve…

Convidaram-nos para assumirmos o desenvolvimento da modalidade no distrito de Beja. Sou uma pessoa da região, fui criado em Serpa, tive vivências em Aljustrel e fiz o meu curso na Escola Comercial e Industrial de Beja. Conhecia muitas pessoas que, no passado, tinham estado ligadas à modalidade e entendi que era um projeto, um desafio, que eu tinha obrigação de aceitar. Tinha participado no movimento que deu os primeiros passos do andebol no distrito de Beja, na altura, com a Associação de Desportos de Beja. Eu era o responsável pelo Departamento de Andebol dessa associação. Também fui monitor da Direção Geral de Desportos.

 

Por onde começou esse desafio?

Começámos a desenvolver todo esse projeto através de parcerias. Hoje em dia, para se ter sucesso, temos que envolver três entidades fundamentais: as autarquias, os agrupamentos de escolas, que é onde estão os recursos para nós trabalharmos, e depois o movimento associativo. Desde que se consiga conjugar estes três fatores, penso que todo o projeto de desenvolvimento é mais fácil e melhor sucedido. 

 

Tem sido essa a estratégia de crescimento?

Sim, a estratégia tem sido exatamente essa. E nós temos outra filosofia que é ‘quem não aparece, esquece’. É a filosofia do vendedor. Neste momento, o que nós vendemos é prática desportiva e, neste caso particular, o andebol. O que fazemos é tentar marcar sempre reuniões com as autarquias, com os agrupamentos de escolas e com o clube local, se existir. Onde não existir um clube interessado, a própria Associação tem um Centro de Formação de Andebol que assume os projetos enquanto não aparecer um clube nessa localidade. Temos até o exemplo de Cuba que, na altura, foi o Centro de Formação que iniciou o processo e, mais adiante, o Sporting Clube de Cuba assumiu o desenvolvimento da modalidade.

 

O processo de crescimento ainda está em curso?

Neste momento, estamos em Vidigueira com um processo idêntico ao de Cuba. O Centro de Formação e a autarquia estão a colocar o processo em curso, porque a Vidigueira é uma terra com tradições na modalidade. Depois, temos Aljustrel, que voltou a ter andebol, Moura também voltou a praticar e, neste momento, já temos seis clubes mesmo filiados, mais a Vidigueira, portanto, temos sete núcleos já a funcionar. Já assinámos um protocolo com a autarquia, clube, e agrupamento de escolas, em Castro Verde, um processo que se deverá iniciar no próximo ano letivo; em Alvito temos protocolo com a autarquia e, uma a duas vezes, por ano letivo, iremos lá fazer o ‘Dia do  Andebol’ para darmos a conhecer aos alunos o que é esta modalidade. Se houver condições para evoluir, avançaremos, não havendo, continuaremos a divulgar a modalidade pelos miúdos.

 

Os conhecimentos que tinha na região facilitaram o diálogo?

É um bocado neste sentido que estamos a trabalhar, convictos de que as parcerias são fundamentais e têm estado a dar resultado. É verdade que eu conhecia, do passado, algumas referências locais da modalidade, que voltaram a dar-nos o seu apoio, por exemplo, o José Manuel Mariano, em Aljustrel, o José Osório, em Moura, o João Maria, em Cuba, o António Galvão, colaborador da autarquia de Vidigueira, e é um bocado por aí que as coisas estão a evoluir. O nosso objetivo, para este mandato olímpico, é conseguir ter oito clubes a funcionar no distrito de Beja. Para nós, seria excelente. Se o conseguirmos ficamos felizes, se conseguirmos mais a felicidade será maior.

 

A Associação está fazer aquilo que nunca tinha sido feito?

É isso, a construção de pontes entre aquelas três entidades são fundamentais, e desde que consigamos juntar e conversar com esses parceiros, estão a ser dados os passos essenciais para o incremento de qualquer modalidade. Estamos a tentar fazer, em todos os concelhos, aquilo a que chamamos o ‘Dia do Andebol’, que é proporcionar a prática da modalidade aos miúdos do 1º ciclo, durante uma manhã, uma tarde ou um dia. Estamos a ficar muito satisfeitos porque, outras modalidades, nos estão a copiar, mas achamos muito bem, porque, quanto mais miúdos fizerem desporto, melhor será. E é com esse lema que cá estamos.

 

O Serpa na 2.ª Divisão, A Zona Azul na 3.ª, o Cautchú na formação, mas nem existem todos os escalões…

Temos que continuar a trabalhar, essencialmente ao nível da formação. Todos os projetos que estamos a iniciar são, essencialmente, dirigidos a alunos do 1.º e 2.º ciclo de ensino, nomeadamente através do projeto ‘Andebol For Kids’ da Federação, que já foi aceite pelo Desporto Escolar. Essa será a base de tudo. Temos que alargar a base e depois logo se verá o que consegue atingir no cimo.

 

Vamos ter a Supertaça em Serpa. Uma candidatura da Associação?

Cá está, se não tivermos um apoio forte das autarquias, nós não teremos capacidade para muito. Posso dizer que essa candidatura deu alguma luta, porque o Andebol está mais na região norte, onde existe mais facilidade em promover estas candidaturas, mas nós também zelamos pelo desenvolvimento do interior, a tal coesão territorial passa precisamente por trazermos grandes eventos para o interior. E, em Serpa, que é uma ‘Terra Forte’, fizemos tudo para termos lá a Supertaça, sobretudo com quatro clubes com enorme tradição na modalidade, Porto, Sporting, Benfica e Belenenses.

 

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