“Glória al bravo Pueblo” canta-se no hino nacional venezuelano, num tema escrito pelo poeta Vicente Salias. Uma glória de ‘la virtud e honor’ orgulhosamente conquistada pelo seu compatriota Orluis Aular (Caja Rural/Seguros RGA), na 39ª Volta ao Alentejo em Bicicleta/Delta Cafés.
Texto Firmino Paixão
Um final molhado, um final abençoado, a chuva e o vento da tempestade que, a meio da tarde de domingo, se abateu sobre o país, não poupou o pelotão de 108 corredores que completou os últimos quilómetros 171,9 km (entre Castelo de Vide e Évora) da edição da Alentejana/2022 e consagrou o venezuelano Orluis Aular como vencedor desta trigésima nona edição, apesar de ter cruzado a meta, na Praça do Giraldo, em Évora, na quarta posição, numa tirada ganha, ao sprinte, pelo espanhol Juan José Lobato, da Euskaltel/ Euskadi. Lobato repetiu em Évora, o que tinha feito, em 2021, na cidade de Beja, quando venceu a primeira tirada dessa edição da Volta ao Alentejo, entre Reguengos de Monsaraz e Beja.
O jovem Orluis Aular foi, assim, o trigésimo oitavo vencedor da Volta ao Alentejo, uma vez que o ciclista Carlos Barbero, vencedor em 2014, pela Euskadi, repetiu a proeza em 2017, pela Movistar, pondo termo ao que já configurava um invulgar recorde de um vencedor diferente em cada edição. O vencedor fez questão de sublinhar o trabalho da equipa dizendo que “Estou muito contente com o trabalho dos meus companheiros pois fizeram um grande trabalho durante estes cinco dias de prova. Tinha muita vontade de vencer esta corrida e quando existe empenho e perseverança, consegue-se”.
Este ano, entre os 130 ciclistas que alinharam à partida (e desistiram vinte e dois) correram apenas dois ciclistas naturais da Venezuela, ambos inconformados com a mansidão da planície e o pouco relevo das serras, um, o Orluis, ganhou duas etapas (Sines e Castelo de Vide) e venceu a Volta e a camisola vermelha dos pontos, o outro, Leangel Linarez, ganhou uma etapa (Ponte de Sor). Os portugueses não conseguiram vencer qualquer das cinco tiradas, o melhor da geral individual foi José Fernandes (W52/FC Porto), na terceira posição a 24 segundos do vencedor e mais dezanove que o segundo classificado, o basco Xabier Azparren. O outro português em destaque foi o jovem Rodrigo Caxias (LA/Alumínios), 55º da geral, que venceu o Prémio da Montanha. Colectivamente venceu a formação do W52/FC Porto.
A última etapa foi, naturalmente, movimentada, com sucessivas escapadas até aos dez quilómetros da meta, altura em que o pelotão se reagrupou para uma chegada ao sprint.
ORLUIS AULAR REINCIDIU
Os oito mil e quatrocentos metros corridos em sistema de contra relógio individual, em Castelo de Vide, são tradicionalmente considerados decisivos para a arrumação da geral individual. Os velocistas do pelotão já se tinham mostrado na véspera, no percurso entre Elvas e Ponte de Sor, tentando amealhar alguns segundos de bonificações que permitissem a aproximação ao líder da geral individual.
À partida para esta curta, mais difícil etapa, o camisola amarela, Orluis Aular, tinha Azparren a três segundos, Linarez a oito e Tiago Machado a nove, sendo estes os adversários que mais lhe ameaçavam a liderança. Mas a camisola amarela, e a necessidade de a defender, não pesaram no corpo do jovem venezuelano que fez o melhor registo horário do contrarrelógio e até aumentou a sua vantagem enquanto líder da prova.
Vencedor Orluis Aular (Caja Rural Seguros RGA) venceu a 39ª Volta ao Alentejo em Bicicleta/Delta Cafés
ASAS PARA VOAR
Duas etapas, dois vencedores e dois diferentes líderes, um prenúncio de competitividade desta ‘Alentejana’ no dia em que a caravana deixou a cidade raiana à beira do Guadiana, terra de onde a prova estava ausente deste o ano de 1995, rolando a caminho da Ponte sobre a Ribeira de Sor, onde a enorme mancha de sobreiros circunda uma terra de vocação aeronáutica. A corrida às bonificações acelerou o andamento e as fugas sucederam-se, principalmente com corredores espanhóis, os das formações do país vizinho e os que vestiam camisolas com emblemas lusos, contudo, sem grandes novidades no que aos lugares cimeiros dizia respeito.
A exceção foi o terceiro lugar de Rodrigo Caixas (LA/ Alumínios) na meta do Prémio de Montanha, reforçando a posse da camisola verde, na véspera de uma etapa (o contrarrelógio) que não contou para esta discussão, restando-lhe apenas gerir a passagem em Fronteira, último desafio para os trepadores, pontuando ou impedindo os rivais mais diretos de o fazer, para ser eleito o rei das montanhas ‘planas’ desta Volta ao Alentejo.
Anuladas as fugas do dia, o pelotão entrou compacto nos derradeiros quilómetros, com as equipas a lançar os sprinters para as melhores posições e aí, os mais rápidos foram os venezuelanos Leangel Linarez (Tavfer/Mortágua) e Orluis Aular (Caja Rural) a voarem sobre a linha de chegada, com o ‘foto finish’ a revelar-se decisivo na atribuição da vitória a Linarez e Aular a recuperar a camisola amarela que, nesta etapa, tinha rolado no corpo de Azparren.
Pelotão Ciclistas da ‘Alentejana 2022’ à passagem pela vila de Pias
UM ACORDO EM ‘PORTUNHOL’
O segundo dia de prova trouxe o capital onde se iniciou a segunda etapa, também a mais extensa do certame, que teve meta final em Portel, após um longo traçado em redor da bacia do Alqueva.
Alguns dos principais sprinters do pelotão agitaram a corrida formando-se um grupo de 12 unidades focados na conquista das bonificações na meta volante na cidade de Serpa. Após a passagem por Moura, já na subida para o Prémio de Montanha, e com o pelotão já compacto, foi o português Rodrigo Caixas (LA/Alumínios) portador da camisola verde que tinha conquistado no dia anterior em São Francisco da Serra, que passou em primeiro lugar reforçando a sua posição de líder dos trepadores.
Com mais de 70 quilómetros andados, sucederam-se novas tentativas de fuga inconsequentes mas, nos últimos 20 quilómetros, o boavisteiro Tiago Machado e o basco Azparren tentarem a sua sorte. Na base do sucesso, o entendimento, entre ambos, de reciprocidade nas despesas da fuga, garantindo Tiago Machado que não se oporia à vitória do corredor da Euskadi. Assim foi, e Azparren venceu a tirada e conquistou a amarela.
Desistências No pelotão da Volta ao Alentejo, 22, dos 130 corredores, ficaram pelo caminho
UMA BOA COLHEITA VENEZUELANA
Orluis Aular, ciclista nascido, há 25 anos, na localidade venezuelana de Nirgua, e sprinter da formação Caja Rural/Seguros RGA, foi o primeiro a chegar à meta de Sines, instalada na Rua da Reforça Agrária e colheu os frutos de ter batido ao sprint o seu companheiro de equipa, o português Iúri Leitão (que ali vencera em 2021), vestindo a primeira camisola de líder da 39ª Volta ao Alentejo em Bicicleta/ Delta Cafés. Um ‘doblete’ da formação espanhola.
O ‘fogo à peça’ para esta edição da ‘Alentejana’, foi dado na parada do Regimento de Artilharia n.º 5 (antiga Escola Prática de Artilharia) com um pelotão composto por 130 corredores de 19 equipas. A primeira fuga do dia que juntou um quinteto de corredores, deu-se antes da meta volante de Alcáçovas, onde Venceslau Fernandes ‘filho’ (Feirense) passou em primeiro lugar e fez soar os ‘chocalhos’.
Os outros pontos quentes da tirada (montanha e metas volantes) estavam traçados em Grândola, São Francisco da Serra (PM) e Santiago da Cacém, terras por onde os escapados foram repartindo bonificações.
Porém, à beira do Atlântico já o pelotão chegou vergado ao sprinte triunfal de Orluis Aular, recente vencedor da ‘Clássica da Arrábida 2022’.
Equipa O vencedor da ‘Alentejana’ agradeceu o trabalho da sua equipa na conquista da prova
RESULTADOS
ETAPAS - OS VENCEDORES E OS LÍDERES:
- 1ª Etapa | Vendas Novas-Sines (176,7 km): 1º Orluis Aular (Caja Rural/Seguros RGA). Camisola Amarela: Orluis Aular (Caja Rural Seguros RGA);
- 2ª Etapa | Beja/Portel (187, Km): 1º Xabier Azparren (Euskaltel/Euskadi). Camisola Amarela: Xabier Azparren(Euskaltel/Euskadi);
- 3ª Etapa | Elvas-Ponte de Sor (179,3 km): 1º Leangel Linarez (Tavfer/Mortágua). Camisola Amarela: Orluis Aular (Caja Rural Seguros RGA);
- 4ª Etapa | Castelo Vide/Castelo Vide (8,4 km): 1º Orluis Aular (Caja Rural Seguros RGA). Camisola Amarela: Orluis Aular (Caja Rural Seguros RGA);
- 5ª Etapa | Castelo de Vide/Évora (171,9 km): 1º Juan José Lobato (EuskaltelEuskadi).Camisola Amarela: Orluis Aular (Caja Rural Seguros RGA);
OS LAUREADOS:
- Geral Individual (Camisola Amarela Delta Cafés): Orluis Aular (Caja Rural Seguros RGA);
- Geral por Pontos (Camisola Vermelha Correio da Manhã): Orluis Aular (Caja Rural Seguros RGA);
- Geral da Montanha (Camisola Verde Carclasse): Rodrigo Caixas (LA Alumínios);
- Geral da Juventude (Camisola Branca CMTV): Pelayo Sanchez (Burgos BH);
GERAL INDIVIDUAL:
- 1º Orluis Aular (Caja Rural/Seguros RGA), 16h42’07 (média de 43,177 km/h);
- 2º Xabier Azparren (Euskaltel/Euskadi) a 5 segundos;
- 3º José Fernandes (W52/FC Porto), a 24 segundos;
- 4º Daniel Freitas (Rádio Popular/Boavista), a 34 segundos;
- 5º Rafael Reis (Glassdrive/Anicolor), a 36 segundos;
EQUIPAS:
- º W52/FC Porto, 50h08.31;
- 2ª Caja Rural/Seguros RGA, a 3 segundos;
- 3ª Euskaltel/Euskadi, a 14 segundos;