Diário do Alentejo

Comporta: Anunciado investimento de 1,5 mil milhões

20 de fevereiro 2020 - 11:40

A construção da “nova Ibiza”, na zona da Comporta, pode levar ainda 12 anos a ficar completamente concluída, mas o impacto nos concelhos de Alcácer do Sal e Grândola vai começar desde já a sentir-se com a vinda dos operários que vão montar, já em 2020, as infraestruturas necessários. Os cinco hotéis, três hotéis de apartamentos e mil habitações previstos, a que se acrescentam dois campos de golfe, poderão criar cinco mil postos de trabalho e fazer regressar a população aos números de há 40 anos.

 

Texto: Aníbal Fernandes

Foto: José Ferrolho

 

Quando, em 2013, numa entrevista à “Revista” do semanário “Expresso” Cristina Toscano Pinto, da família Espírito Santo, se referiu à zona da Comporta como o local onde a socialite nacional ia “brincar aos pobrezinhos”, ainda o apelidado “Dono Disto Tudo”, Ricardo Salgado, estava na posse dos mais de 900 hectares de terrenos junto à orla marítima dos concelhos de Grândola e Alcácer do Sal. Depois disso foi o que se sabe: o Grupo BES entrou em desagregação e aquele ativo foi vendido a um consórcio formado pela Vanguard Properties, do empresário francês Claude Berda, com 88 por cento, e pela Amorim Luxury, de Paula Amorim, com os restantes 12 por cento. A escritura de venda dos terrenos só foi assinada em novembro de 2019, mas os promotores do empreendimento garantem que durante o ano de 2020 o projeto, entretanto rebatizado Terras da Comporta, vai mesmo avançar. Para já, o foco é a criação de infraestruturas (arruamentos, instalações de água e esgotos, etc.), para ser possível construir as unidades previstas para o local.

 

José Cardoso Botelho, diretor executivo da Vanguard Properties, diz que o investimento previsto para aqueles 916 hectares não será “inferior a 1,5 mil milhões de euros”, num projeto que, em duas zonas distintas, incluirá dois campos de golfe, cinco hotéis, três hotéis de apartamentos e 11 aldeamentos turísticos e loteamentos residenciais que totalizarão cerca de mil habitações. Apesar da quantidade de construção anunciada para o Comporta Links e Comporta Dunes, o consórcio garante que a ocupação dos 1376 hectares das propriedades (incluindo as zonas de pinhal) ficará 30 por cento abaixo do permitido pelos planos diretores.

 

O projeto é para ser desenvolvido “a prazo”, embora o golfe do Dunes e o hotel JNcQUOI já tenham a data de abertura marcada para 1 de junho de 2022. Originalmente construído pelo Grupo BES para ser o hotel Aman, já edificado no local, foi reprojetado por Miguel Guedes de Sousa, marido de Paula Amorim. O novo hotel irá aproveitar o edifício central existente, mas os 40 bungalows vão ser todos destruídos e substituídos por outra solução arquitetónica. Também o campo de golfe de 18 buracos, desenhado por David McLay Kidd, irá abrir em 2022, sendo que as obras do clube, com projeto do arquiteto Souto Moura, também irão avançar neste ano.

 

Com início das obras marcado para 2021 está o segundo campo de golfe, mas o projeto inicial irá ser objeto de grandes alterações. Dos 140 hectares projetados, com 36 buracos, ficará reduzido a 60 hectares e 18 buracos e irá ser desenhado “por um grande campeão”, cujo nome ainda não pode ser divulgado. Em estado acelerado estão as negociações com grandes marcas mundiais do setor hoteleiro. É que o avanço das obras das infraestuturas obriga a que tudo esteja decidido em relação aos hotéis a instalar no complexo. Mas também nomes sonantes das áreas da moda e alta-costura ficarão ligadas ao projeto, nomeadamente, no desenho de interiores. É o caso de Giorgio Armani ou Ralph Laurent que já contactaram o consórcio, mas Philippe Starck e Christian Louboutin já adquiram uma habitação no local. No entanto, não será para já. A “nova Ibiza”, como é descrita pelo “The Wall Street Journal”, pode demorar, no mínimo, oito, e, no máximo, 12 anos a ficar concluída na totalidade…

 IMPACTO LOCAL

Para a primeira fase da obra serão poucos os trabalhadores necessários (ler entrevista nesta página). No entanto, na segunda fase da construção já serão mobilizados cerca de 2500 operários. Apesar de as instalações para os albergar irem ficar junto aos estaleiros das obras, já é de esperar que os dois concelhos próximos sintam algum impacto económico no comércio local. No entanto, a promessa de construção de “minicidades” para albergar os futuros funcionários do empreendimento (entre 3000 e 5000) poderá alterar substancialmente a vida na região. Na perspetiva de José Cardos Botelho, as pessoas que vierem trabalhar para a Comporta trarão as famílias e quererão ficar perto dos serviços de saúde e escolas, por isso a opção de construir um parque habitacional próprio com cerca de duas mil residências. Ora isso pode ter um impacto significativo na composição demográfica dos dois concelhos, que atualmente contam com cerca de 28 mil habitantes, e levar os números para o nível que a região tinha no início dos anos 80 do século passado.

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