Diário do Alentejo

Henrique Figueira: “A ORIK nasce assim para preencher uma lacuna que existia na divulgação e preservação da nossa memória”

17 de setembro 2025 - 08:00

Nasceu em Ourique há 46 anos, e por Ourique foi ficando até à conclusão do ensino secundário, altura em que trocou a vila alentejana pela cidade dos estudantes, para onde foi estudar História, variante de História da Arte. Depois de concluída a licenciatura, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, deu continuidade ao percurso académico com uma pós-graduação em Ciências Documentais e, mais tarde, uma segunda pós-graduação em Cultura e Formação Autárquica.

Diz-se, desde pequeno, um ouriquense orgulhoso da história, das memórias e das tradições da terra, da qual é um férreo defensor. Do lado paterno, assume ter herdado um grande orgulho pela História de Portugal, tornando-se um monárquico convicto e situando-se no espectro partidário do centro-direita. Com orgulho, assume-se também sócio do Sporting Clube de Portugal há quase 30 anos.

No ano de 2001 fundou a ORIK – Associação de Defesa do Património de Ourique, da qual é presidente.

No domínio da produção escrita, foi responsável, em 2002, pela edição de “História de cá – Ourique a preto e branco”, uma iniciativa que havia de criar os alicerces para o projeto/publi-cação “Cadernos Culturais d´Ourique”, editados desde 2006, e do qual é diretor.

Em 2024 publicou, em coautoria, a obra 50 Anos de Poder Local no Concelho de Ourique. Ainda neste ano, foi coordenador editorial das obras: Parecer e Ser– Excursus Vital de D. António Paes Godinho, Bispo de Nanquim, da autoria de José António Falcão; e O Sonho de Voar - A Voar nas Memórias de Uma Viagem Pioneira, da autoria de Joaquim Falcão de Lima.

Eis Henrique Figueira na primeira pessoa!

 

“História de cá – Ourique a preto e branco”. Que projeto foi este?

Foi uma iniciativa pioneira localmente, na qual se procurava divulgar fotografias que remetiam para o passado da vila, trazendo a público um património de conhecimento que, sendo de todos, era muitas vezes desconhecido da maioria do público.

 

Este trabalho lançou a semente para outro projeto de promoção histórica e cultural da vila. O que são os “Cadernos Culturais d´Ourique”?

É uma publicação que tem saído com grande regularidade, desde 2006. É uma publicação única em termos regionais, dentro das temáticas que aborda. É o local privilegiado para a divulgação da história local da região de Ourique, da memória, do património, das tradições, da heráldica e da genealogia e de artigos de opinião de jovens a quem damos oportunidade de participar.

 

Que papel desempenha o Henrique neste projeto, para além de diretor do mesmo?

Nos “Cadernos”, fui responsável pela divulgação do fac-símile da publicação “A Batalha do Campo de Ourique”, e autor da biografia do seu autor, o ouriquense José do Carmo Cristina. Fui também autor dos artigos “O Assalto à cadeia de Ourique”, “A lápide da Comarca de Ourique – Subsídios para o seu estudo”, “Subsídios para a toponímia de Ourique – Joaquim da Graça Correia e Lança”, “José Tomás Neto Serrão e Torpes de Melo Serrão – Subsídios genealógicos e Subsídios para a história da farmácia de Ourique – O farmacêutico José Pedro Dias, 1879-1922”.

 

Continuado a viagem pelo percurso de escrita do Henrique, chega-se ao trabalho mais recente, a coautoria da obra Os nomes das ruas: a toponímia da Freguesia de Ourique. Que trabalho é este?

É um projeto escrito em coautoria com Vítor Encarnação e que teve a colaboração do fotógrafo Válter Bento, uma colaboração que considerámos que fazia muita falta. Para a concretização deste trabalho, escolhemos um conjunto de ruas que tinham nomes de personalidades originárias da localidade, muitas que quase já tinham caído no esquecimento, apresentámos a sua biografia e a sua fotografia, enquadrado com uma fotografia do local, tal como ele era.

 

E as experiências como coordenador editorial?

Muito enriquecedoras. A primeira, Parecer e Ser– Excursus Vital de D. António Paes Godinho, Bispo de Nanquim, da autoria do Prof. Doutor José António Falcão, recebeu o “Prémio Fundação Calouste Gulbenkian para a Presença de Portugal no Mundo”, atribuído pela Academia Portuguesa da História, e que, através de um profundo trabalho de investigação, traz para a ribalta um natural de Garvão que foi uma das mais influentes personalidades do Portugal do tempo de D. João V e que devido às circunstâncias da política internacional do tempo do imperador Kangxi o impediram de chegar à China. A segunda, O Sonho de Voar - A Voar nas Memórias de Uma Viagem Pioneira, da autoria do Dr. Joaquim Falcão de Lima, aborda a viagem aérea entre Portugal e Macau realizada em 1924 pelos aviadores Brito Pais, nascido no concelho de Ourique, Sarmento de Beires e Manuel Gouveia, e foi lançada no centenário dessa mesma viagem. Ambas as obras tiveram o Alto Patrocínio do Presidente da República.

 

Como é que surge a Orik no trajeto de vida do Henrique e que propósitos norteiam esta associação?

A ORIK - Associação de Defesa do Património de Ourique nasceu em 2001. Quando concluí o curso e regressei a Ourique tive vontade de divulgar a rica história e o património do concelho. Achei que era um trabalho que faltava fazer e contactei associações da região que tinham nascido com os mesmos propósitos a que me propunha, procurando beber dessas experiências. Contactei também personalidades amigas, relacionadas com a área do património cultural. Procurei auscultar da real necessidade de uma associação que nascesse com a preocupação da defesa desse bem comum que é o património histórico. A seguir, reuni um conjunto de amigos que partilhavam do mesmo interesse, e avançámos com um elevado grau de romantismo à mistura, ou não fôssemos todos jovens. A ORIK nasce assim para preencher uma lacuna que existia na divulgação e preservação da nossa memória. Temos noção dessa responsabilidade e não fugimos dela. É por isso que, desde o início, temos tido uma presença muito forte no âmbito das publicações de carácter cultural. Os “Cadernos Culturais d’Ourique” são a nossa principal bandeira e têm tido uma regularidade invejável. Temos editado autores locais, como Válter Bento ou António Vaz (na poesia), Joaquim de Brito Nobre (na história local), Vítor Encarnação. Deste último autor, lançámos, no passado mês de junho, o livro 17 sílabas de cal, uma obra que contém 150 poemas curtos, cada poema tem 17 sílabas, e todos os poemas refletem o Alentejo nas suas mais variadas facetas passadas e presentes.Incentivámos e liderámos investigações arqueológicas na vila de Ourique, com o projeto “Al-Riqa - Investigação Arqueológica do Castelo de Ourique”. Dentro dos meios que temos, têm sido 24 anos muito produtivos. Aproveito esta oportunidade para agradecer às entidades locais e regionais que têm apoiado as nossas edições e deixo a nota de que estamos sempre recetivos a novas iniciativas e a novos contactos.

 

E ao longo desses 24 anos de existência, algumas situações inusitadas que tenham sido experimentadas?

Algumas. Por exemplo, como as pessoas acham que guardo e preservo muito material relacionado com a História de Ourique, lembram-se de mim para, por exemplo, me entregar os jornais e recortes dos jornais que se referem a Ourique, uns mais antigos do que outros. Ainda há dias recebi um conjunto de fotografias da Banda Filarmónica de Ourique, datadas dos anos 30, e um precioso caderninho/agenda da época que traz uma nova luz sobre aquela banda. Estas atitudes desinteressadas de muitos amigos e até de desconhecidos, deixam-me confiante de que muito do património que existe nas nossas casas não se perderá.

 

O que está na “manga”?

Estamos a preparar a 9.ª edição dos “Cadernos Culturais d’Ourique”, que contamos que saia até final deste mês.

 

Texto | Luís Miguel Ricardo

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