Diário do Alentejo

Identificados 56 casos de hepatite A nos últimos sete meses, na região

13 de abril 2025 - 08:00
Primeiras ocorrências surgiram no bairro das Pedreiras, em Beja, em setembro do ano passado Foto | Ricardo Zambujo

O delegado de Saúde Local da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo confirmou ao “Diário do Alentejo” que existe um surto de hepatite A no distrito de Beja em “comunidades mais desfavorecidas” e com “pouco acesso a condições sanitárias adequadas”. Ainda assim, Bruno Rebelo assegura que “não há grande motivo de alarme”, uma vez que o vírus “tem-se mantido fechado” nestes grupos e não chegou à população geral. Além de Beja, também os concelhos de Aljustrel, Moura, Ferreira do Alentejo e Serpa já registaram casos.

 

Texto | Ana Filipa Sousa de SousaFoto | Ricardo Zambujo

 

O comunicado enviado pelo Departamento de Saúde Pública da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) à comunidade escolar da região no final da semana passada (e ao qual o “Diário do Alentejo” teve acesso) é, segundo o delegado de Saúde Local, uma forma de “tentar acalmar os ânimos” e “explicar como é que a doença funciona [e] em que condições e circunstância ocorre a sua transmissão”.

“Por, lentamente, terem começado a aparecer casos, as escolas ficaram um pouco alarmadas, com dúvidas sobre como é que se passa [o vírus], como é que não se passa, e como havia uma grande insistência em se saber se havia alguma maneira de prevenir ou algum motivo de alarme enviámos este comunicado para combater um pouco o estigma de que temos que nos manter afastados [e] que não nos podemos dar com estas pessoas, [assim como] alertar para que caso uma criança tenha sintomas que vá ao médico para fazer o diagnóstico”, começa por explicar, ao “Diário do Alentejo” (“DA”), Bruno Rebelo.

Os três primeiros casos de hepatite A foram identificados em setembro do ano passado no bairro das Pedreiras, em Beja, ligados a um surto em Faro, e desde então já se contabilizaram mais 53.

“Este surto não é novo, basicamente, estamos a falar de um vírus que é transmitido, sobretudo, entre famílias de comunidades mais desfavorecidas e com pouco acesso a condições sanitárias adequadas nas suas habitações”. Mas “a sua transmissão tem sido muito lenta e bastante pontual”, refere.

Na ocasião, conforme explica Bruno Rebelo, o departamento de Saúde Pública realizou uma “mega operação” que resultou na vacinação de 140 pessoas desta comunidade, “para evitar a transmissão entre elas”.

“A verdade é que durante um ou dois meses não tivemos um aumento significativo de casos que nos preocupasse”, afirma.Segundo Bruno Rebelo, entre setembro e dezembro do ano passado foram identificados 11 casos, sendo todos referentes ao bairro bejense, e “daí, também, nem sequer se ter feito qualquer comunicado, porque a transmissão foi muito limitada a esta comunidade”.

Já no mês de março contabilizaram-se 19 casos, mas ainda que pareça “um aumento muito grande dos números”, o delegado de Saúde Local admite que os mesmos são referentes a “famílias únicas”, ou seja, “agregados de familiares e amigos” próximos.

“Sabemos que continua a haver alguma transmissão por toda a região sul do País, porque houve várias famílias infetadas. Provavelmente, não se tratou de uma transmissão dentro do Alentejo, mas, eventualmente, por mobilização de famílias de outras regiões que possam ter infetado os residentes daqui e daí aparecerem casos em outros concelhos, mas nunca num número semelhante como aconteceu no bairro das Pedreiras”, garante.

De acordo com os dados disponibilizados ao “DA”, nos concelhos de Aljustrel (três casos), Ferreira do Alentejo (um), Moura (um) e Serpa (um) também já foram identificados episódios, ainda assim, “tudo sempre fechado e com a ligação identificada”.

“Têm aparecido casos ao longo dos meses, mas nós temos sempre intervindo em todos eles através da vacinação de coabitantes e, por isso, a transmissão do vírus nunca saiu de comunidades fechadas com condições socioeconómicas mais desfavorecidas e também não temos detetado transmissão em mais local algum da comunidade, nem nas escolas, nem nos locais de trabalho”, esclarece.

Para Bruno Rebelo, apesar do surto ativo, “não há grande motivo de alarme em termos de transmissão descontrolada ou de se passar para a população em geral”, uma vez que este é “um surto antigo” e corretamente definido.

“A própria doença tende a ser relativamente benigna, ou seja, há alguns sintomas gastrointestinais, pode dar icterícia, que se caracteriza pela pessoa ficar com um tipo de pele e olhos esverdeado/amarelado que demonstra algum esforço do fígado, mas que não é uma coisa por si só alarmante e que tende a resolver-se com o tratamento dirigido aos sintomas. Portanto, o tratamento desta doença é bastante fácil, tem mais a ver com hidratação, com, eventualmente, algum reforço ou alguma alteração do padrão alimentar, mas é uma coisa que por si só se resolve”, alude.

Os três casos registados fora da comunidade cigana, segundo o delegado, “nada têm a ver com o surto” e são situações “normais”.

“Fizemos investigações ambientais dos pontos de água da rede pública utilizada pelas pessoas que se têm verificado como infetadas e não houve, até agora, qualquer fonte de acesso da rede que estivesse contaminada, portanto, esses três casos também são expectáveis”, assegura.

O delegado de saúde, assim como referido no comunicado, apela a que os pais ou encarregados de educação, caso identifiquem alguns sintomas causados pelo vírus da hepatite A (febre, mal-estar geral, icterícia, única escura, perda de peso/apetite, náuseas, vómitos e/ou dor abdominal) nas crianças, que se dirijam “ao médico para fazer o diagnóstico”, para que “se perceba desde cedo [caso esteja infetado] se o mesmo faz parte do surto ou não”.

“Só assim conseguimos perceber se temos de alterar o paradigma da nossa parte em termos de intervenção ou não. Até agora ainda não se justificou”, conclui.

Comentários