Fogo que começou na zona de Messejana obrigou ao corte de duas estradas, chegou a envolver 254 operacionais, 91 veículos e seis meios aéreos. O “Diário do Alentejo” registou as imagens do dia seguinte, na fase de vigilância e rescaldo.
Texto | Marco Monteiro Cândido*
Na passada segunda-feira, no último dia de junho, um incêndio deflagrou na zona do Monte do Cerro, na freguesia de Messejana, no concelho de Aljustrel, por volta das 13:00 horas. Rapidamente as chamas alastraram, consumindo pasto feito combustível, passando por eucaliptais e montados, rumo à aldeia do Carregueiro, junto ao troço da Estrada Nacional 2 (EN2) que liga Aljustrel a Castro Verde. O avanço rápido das chamas motivou o corte da via nos dois sentidos. O mesmo aconteceu com a Estrada Municipal 394, que liga, precisamente, o Carregueiro a Entradas, já no concelho de Castro Verde.
Às 19:20 horas desse mesmo dia, a Câmara Municipal de Aljustrel (CMA), em conjunto com o comando sub-regional de Emergência e Proteção Civil do Baixo Alentejo, fizeram o ponto de situação da ocorrência. Nesse final de tarde abafado e quente combatiam o fogo 200 operacionais e 67 veículos. No entanto, ao longo do dia também estiveram envolvidos seis meios aéreos no teatro de operações, para além dos operacionais terem chegado aos 254 e os veículos a 91. No momento do ponto de situação, o presidente da CMA, Carlos Teles, referia que o incêndio tinha três setores distintos: onde havia deflagrado – e que, por essa altura, já estaria em rescaldo –, uma área de eucaliptal que levantava maiores preocupações e outra de pasto, ambas na zona do Carregueiro.
Já o comandante sub-regional de Emergência e Proteção Civil do Baixo Alentejo, Carlos Pica, sublinhava, na ocasião, que não havia ainda perspetiva de reabertura das estradas cortadas ao trânsito, já que a expectativa seria a de controlar o incêndio ao início da noite, princípio da madrugada. Passadas cerca de duas horas, às 21:30 horas, o incêndio seria dado como dominado. As estradas afetadas seriam reabertas cerca de uma hora depois, às 22:30 horas.
Se o incêndio afetou e consumiu cerca de 1000 hectares, maioritariamente, de explorações agrícolas, eucaliptal e montado, por seu turno, não foram registadas quaisquer vítimas mortais ou feridos graves. Carlos Teles avançava que houve cinco feridos ligeiros, bombeiros, por inalação de fumos e exaustão, e dois da empresa de proteção florestal Afocelca. Já em termos de danos materiais, apenas um casão terá ardido no Carregueiro.
Houve duas residências evacuadas no Monte dos Poços e uma terceira no Carregueiro, segundo informações da GNR.
A importância dos meios aéreos No ponto de situação efetuado no posto de comando instalado no Parque de Exposições e Feiras de Aljustrel, o comandante sub-regional de Emergência e Proteção Civil do Baixo Alentejo, Carlos Pica, sublinhou que, “associado à complexidade desta ocorrência”, houve, durante esse dia, “mais ocorrências na sub-região”. “Tivemos de balancear meios para aqui, mas também para outras, nomeadamente, a sul, em Almodôvar. (…) Além das distâncias que temos, que são significativas e os meios levam tempo a chegar, depois também temos esta duplicação ou triplicação de ocorrências que leva a que os meios tenham de ser distribuídos da melhor forma”.
Questionado pelo “Diário do Alentejo” sobre o impacto que o atraso na colocação de meios aéreos em Ourique e Moura – o que devia ter acontecido no início do mês de junho – possa ter tido no incêndio no concelho de Aljustrel, Carlos Pica começou por referir que “os presidentes de câmara estão a fazer um trabalho muito importante na parte que lhes compete, para fazer sensibilizar quem de direito”. E continuou: “Considerando que este lote de meios aéreos de ataque inicial não teve resposta, inicialmente [o concurso ficou deserto], o que a Força Aérea está a fazer é lançar um novo concurso internacional para que, no mais curto espaço de tempo, esses meios aéreos de ataque inicial possam chegar. No entanto, considerando estes quatro dias com temperaturas acima dos 40 graus, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (Anepc) reajustou os meios aéreos que estavam disponíveis e que não criariam impacto negativo… Isto é um tabuleiro de jogo a nível nacional, em que se joga da melhor forma, razão pela qual o helicóptero pesado que está sediado em São Brás de Alportel foi colocado no centro de meios aéreos (CMA) de Ourique. Assim que tivemos conhecimento da dimensão e da probabilidade desta ocorrência tomar as proporções que infelizmente se vieram a confirmar foi logo automaticamente pedido quer a ativação deste helicóptero pesado, quer também de uma das duas parelhas de Alfas – aviões de asa fixa – que estão sediados no CMA de Beja. E é com estes que nós temos de contar”. Carlos Pica acrescentou que houve duas outras parelhas de aviões que estiveram envolvidos no combate ao incêndio do concelho de Aljustrel, mas também nas outras ocorrências da região.
Para o presidente da Câmara Municipal de Aljustrel, Carlos Teles, o combate inicial deve ser rápido. “Isso está provado e é assim que, neste momento, todas as forças da Anepc estão montadas: para responder rápido, logo à primeira ignição, para depois evitar que o fogo se expanda muito rapidamente”. O autarca enfatizou ainda: “Parece-nos que aquele meio aéreo que foi alocado [sediado em Ourique] – é o que temos, temos de agradecer por tê-lo cá –, ainda não é o mais adequado. Se for um meio mais ligeiro, que se desloque mais rápido, aquele primeiro ataque, que é o ataque fundamental, se calhar podia ter evitado estes 1000 hectares”.
Agricultores afetados recebem feno para animais Um camião carregado com 20 toneladas de feno foi disponibilizado, logo na segunda-feira, a um dos agricultores mais afetado pelo incêndio de Aljustrel, mas está em curso o levantamento dos danos junto de outros agricultores.“Já seguiu alimento e está disponível para os animais desse agricultor, que foi um dos mais afetados pelo incêndio”, revelou à “Lusa” o presidente da Associação de Agricultores do Campo Branco (AACB), António Aires. O responsável indicou que este agricultor, na zona de Carregueiro, possui uma exploração que “deve ter uns 400 hectares”, mas o fogo “destruiu a área quase toda”. “Devem ter sobrado aí uns 15 ou 20 hectares. Ardeu a área produtiva quase toda, os cereais que tinha plantado, a parte da palha para alimentar os animais e vedações”, disse, acrescentando que as chamas consumiram ainda algumas viaturas deste agricultor. A AACB está agora a efetuar o levantamento dos prejuízos e necessidades de outros agricultores seus associados. “Temos um outro agricultor que não lhe ardeu tudo, mas sofreu danos, e estamos a ver o que lhe falta”, disse, garantindo que lhe “será disponibilizado alimento consoante as necessidades”. A AACB está também a efetuar contactos com outros agricultores seus associados, localizados na área afetada pelo fogo, para apurar quais os danos e as necessidades, para depois procurar ajudar.
Segundo António Aires, na segunda-feira, “levantou-se um vento horrível e, num ano que teve muita chuva e em que existe muito pasto, em que há mais matéria combustível disponível, quando isto acontece torna-se impossível controlar um incêndio destes em pouco tempo”.
Câmara de Aljustrel cria equipa de apoio A Câmara de Aljustrel tem uma equipa de acompanhamento técnico e social no terreno, para fazer um levantamento das necessidades das pessoas que foram afetadas pelo incêndio. Segundo a vereadora Liliana Mendes, a criação desta equipa tem por objetivo “fazer um diagnóstico célere” e recolher “o máximo de informação possível que possa ajudar ao complemento de processos e identificar necessidades sentidas pelas populações”. “O que queremos com isto é perceber, para já, como é que estão as pessoas, manter tudo calmo e se há aqui alguma coisa, em primeira linha, que podemos tentar solucionar”, disse.
A equipa criada pelo município é constituída por técnicos de várias divisões da autarquia, acompanhada pela União de Freguesias de Aljustrel e Rio de Moinhos e pela GNR. “Se houve alguma coisa que seja dentro do que é a nossa capacidade e competência, vamos tentar minimizar aquilo que foram os prejuízos. E não sendo nossa competência ou não tendo essa capacidade, tentaremos encaminhar para quem direito”, explicou Liliana Mendes. A vereadora disse ainda que, além de “dar uma palavra”, a equipa irá também dar apoio na área psicológica, “para as pessoas sentirem que não estão sozinhas”. “Há, eventualmente, questões sociais que podemos vir a minimizar e é também com esse objetivo que aqui estamos”, reforçou.
Na quarta-feira passada, dois dias depois do início do incêndio, ainda se encontravam 23 operacionais e oito viaturas em estado de vigilância no local. Até ao fecho desta edição do “Diário do Alentejo” não foi possível apurar qualquer atualização em relação à área ardida. *com “Lusa”