Diário do Alentejo

Herdade da Lisboa inaugura investimento e aposta no enoturismo

05 de maio 2021 - 17:10

Texto Manuel Baiôa

Foto Ricardo Zambujo

 

O investimento realizado na Herdade da Lisboa vem confirmar a Vidigueira como um dos principais locais de enoturismo e de produção de vinhos de topo do país. Esta sub-região DOC do Alentejo tem sabido atrair nos últimos anos capitais nacionais e internacionais na construção de projetos empresariais que valorizam o território.

 

A Herdade da Lisboa é uma propriedade mítica situada na freguesia de Selmes, Vidigueira, que pertenceu à Casa Agrícola Almodôvar. Nos anos 80 do século XX foi lançada a marca de vinhos Paço dos Infantes, uma das primeiras criadas por um produtor-engarrafador do Alentejo. Este vinho ganhou enorme fama e alguns prémios, tendo sido criado por José Maria Almodôvar e pelo enólogo João Portugal Ramos, então a começar a sua carreira na região.

 

A Herdade da Lisboa foi vendida a Oliveira e Costa em 2004, que iniciou a reestruturação da propriedade e das vinhas. Contudo, os problemas do grupo BPN levaram a que o investimento previsto não se concretizasse na totalidade.

 

Em 2011 iniciou um novo ciclo após ter sido adquirida pela família Cardoso, que detém um grupo empresarial com presença na agricultura (olival), na indústria alimentar (produção, refinação e embalamento de óleos alimentares e azeites), na produção de energia (biocombustíveis) e na logística (transporte e armazenamento de produtos alimentares). A propriedade tem atualmente 350 hectares, resultado da aquisição de terrenos confinantes, dos quais 100 hectares são de vinha, 200 de olival e 10 de pomares de fruto e culturas hortícolas.

 

A entrada da família Cardoso no setor do vinho aconteceu associada à cultura do olival. Esta família com origens no Ribatejo tem vindo a adquirir diversas propriedades nos últimos anos, possuindo atualmente 700 hectares de olival, 300 de vinha e 400 de floresta e outros cobertos vegetais autóctones de Portugal, distribuídos pelo Alentejo, Ribatejo e Douro (Quinta do Reguengo). Estes investimentos “acabaram por trazer o desenvolvimento da área de negócios relativa à produção e comercialização de vinhos e azeites de qualidade”, contextualiza o “patriarca”, João Cardoso.

 

A empresa tem vindo a investir alguns milhões de euros [o valor total não foi revelado] na reestruturação da Herdade da Lisboa e na construção de um lagar e de uma adega de última geração, com um ‘design’ modernista, que pretende num futuro próximo atrair turistas. Está previsto para os próximos anos a construção de um restaurante, de um museu agrícola e de uma unidade de alojamento turístico. Neste momento, a adega está pronta a funcionar. Possuiu uma tecnologia moderna, capaz de elaborar vários estilos de vinhos, entre os quais os espumantes, uma das apostas da casa. Para além de uma enorme cave de envelhecimento de vinhos, tem uma sala de provas, loja e uma sala para reuniões e eventos com capacidade para 150 pessoas.

 

Joaquim Cândido da Silva tem um longo percurso na área da estratégia e comercialização de vinhos, entre os quais os 11 anos em que dirigiu a Portfolio Vinhos. Recentemente abraçou um novo desafio e passou a dirigir a área dos vinhos da família Cardoso. Este projeto dedicou “os primeiros anos à restruturação e qualificação da herdade, procurando dotá-la de infraestruturas que permitam desenvolver um projeto sustentável de produção e comercialização de vinhos de qualidade. Acreditamos que este é o modo de respeitar o legado desta herdade, berço dos vinhos Paço dos Infantes, um clássico do Alentejo e de Portugal dos anos 80, e de acrescentar valor ao património agrícola existente”.

 

Na reestruturação das vinhas assumiu-se um compromisso entre castas típicas alentejanas e variedades internacionais. Estão plantadas na Herdade da Lisboa sete variedades de uvas brancas (Antão Vaz, Arinto, Alvarinho, Roupeiro, Verdelho, Viognier e Chardonnay) e oito variedades de uvas tintas (Aragonez, Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Trincadeira, Syrah, Touriga Franca, Petit Verdot e Cabernet Sauvignon).

 

A diversidade das castas e dos solos permitem estabelecer um portefólio diversificado, organizado em quatro gamas de vinhos: Convés (branco, tinto, rosé e espumante), Infantes (tinto e branco) e Paço dos Infantes (rosé, Reserva branco, Antão Vaz, Chardonnay e Touriga Nacional). A marca Herdade da Lisboa, agora lançada, é o topo de gama do projeto. Contudo, estão em preparação novas vinhos que podem vir a situar a fasquia ainda mais alta.

 

Os vinhos lançados nesta primavera foram o Paço dos Infantes Chardonnay 2020 (13,5 euros), Herdade da Lisboa Viognier 2019 (20 euros), Herdade da Lisboa rosé Touriga Nacional 2019 (50 euros) e Herdade da Lisboa Trincadeira 2019 (36 euros). Segundo o enólogo Ricardo Xarepe Silva, estes vinhos refletem o ‘terroir’ da Herdade da Lisboa, situada na sub-região da Vidigueira. São vinhos “elegantes, com frescura, marcados pela mineralidade e pela pureza da fruta, tendo grande capacidade de guarda”.

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