Diário do Alentejo

Distrito de Beja sem respostas ao nível dos cuidados paliativos pediátricos

16 de fevereiro 2025 - 08:00
A região, a par do Algarve, é das poucas que carece de uma equipa especializada na áreaIlustração| Susa Monteiro/Arquivo

A Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, apesar do resultado positivo da Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos Beja+ ao nível do acesso aos cuidados paliativos no distrito, vive, atualmente, sem “uma resposta estruturada de cuidados paliativos pediátricos”. Catarina Pazes, presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, admite que se está “a tentar criar condições”, mas que faltam médicos com formação.

 

Texto | Ana Filipa Sousa de Sousa

 

A Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) divulgou, recentemente, que mais de “70 por cento dos doentes não têm acesso em tempo útil a cuidados paliativos”, mas que o valor “sobe para 90 por cento no caso das crianças”. No que diz respeito à Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba), que engloba os 13 concelhos do distrito de Beja, ao nível dos adultos, os dados nacionais distanciam-se dos “bons resultados” da região, porém, a situação complica-se ao nível pediátrico.

“Essa é a nossa maior lacuna no Baixo Alentejo, [ou seja] não termos uma resposta estruturada de cuidados paliativos pediátricos. Não quer dizer que a Equipa [Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos Beja +] não tenha já acompanhado algumas crianças, mas...”, elucida, ao “Diário do Alentejo” (“DA”), a coordenadora da referida valência, Catarina Pazes.

A inexistência de uma equipa especializada na área pediátrica é, segundo a também presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, “uma necessidade já sentida e reconhecida” na Ulsba, estando-se, por isso, “a tentar criar as condições para fazer algo estruturado”, adaptado à região e à dimensão das necessidades.

“Integrámos muito recentemente uma enfermeira na nossa equipa especialista na área de pediatria e estamos a tentar junto do serviço de Pediatria identificar um médico pediatra que possa abraçar este projeto”, revela.

Desta forma, Catarina Pazes não consegue prever quando é que a nova valia dará os primeiros passos, uma vez que “vai depender da identificação de profissionais e da formação desses na área”.

A valência, que no distrito de Beja dará resposta a crianças, maioritariamente, com problemas de saúde crónicos, é atualmente assegurada pelos profissionais do serviço de Pediatria da Ulsba, mas não é suficiente.

“As crianças que vivem no nosso distrito com necessidades paliativas, muitas delas, nasceram com problemas de saúde com os quais vivem a vida toda e que, normalmente, afetam a parte respiratória, cognitiva e gastrointestinal e, [por isso], necessitam de uma resposta integrada e multidisciplinar. Quando falamos em cuidados paliativos pediátricos, falamos de uma área específica que abrange não só a parte física, com o controlo dos sintomas físicos, mas também toda a gestão de cuidados, de expectativas e da vida com a doença e com a limitação da criança ou jovem, mas também dos seus pais, irmãos, professores e comunidade”, explica a coordenadora.

A criação de uma resposta a este nível permitirá, segundo Catarina Pazes, não só desenvolver as capacidades dos profissionais que lidam com este tipo de situações, mas, essencialmente, diminuir o número de idas ao hospital e centros de saúde e aumentar o suporte das famílias no seu local de residência, evitando-se assim grandes deslocações para a obtenção destes cuidados. “[O intuito é que tenham] um suporte mais próximo, mais fácil e que lhes permita uma sensação de maior segurança e tranquilidade na gestão e na vivência da sua vida, mesmo que marcada por uma doença comum que afeta e que ameaça a capacidade e a sua qualidade”, admite.

 

O crescimento da referenciação e da identificação é “violento” No que diz respeito aos cuidados paliativos a doentes adultos na região, Catarina Pazes garante que o cenário é contrário ao que ocorre na maioria do País. Embora seja preciso “ajustar a equipa àquilo que são as necessidades crescentes”, sobretudo, com “mais médicos e enfermeiros”, o distrito de Beja “tem uma resposta na comunidade que poucas regiões do País têm”.

“Uma resposta fácil, flexível e acessível em que qualquer pessoa consegue referenciar ou pedir ajuda e isso tem permitido o acesso de mais pessoas a estes cuidados”, realça.

Os dados mais recentes, disponibilizados ao “DA”, referem que em 2024 foram acompanhados, pela Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos Beja+, 740 doentes, sendo que, destes, 495 foram novas admissões. A grande maioria dos doentes residia no domicílio (417), enquanto os restantes em lares de idosos (295) ou unidades de cuidados continuados (28).

Relativamente às altas, no ano transato registaram-se 450, sendo que 333 foram por óbito, 52 por “objetivos alcançados” e 65 por transferência para outras tipologias. De referir, ainda, que 133 pessoas faleceram em contexto de lar de idosos, 99 em domicílio e 101 em outros setores (por exemplo, serviço de Internamento, serviço de Urgência ou unidades de cuidados continuados).

No que diz respeito à Equipa Intra Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos e à Unidade de Hospitalização Domiciliaria do Serviço de Cuidados Continuados, respostas que estão em funcionamento desde junho e outubro de 2024, foram internados, até ao último dia do ano anterior, respetivamente, 84 e 20 doentes.

Para Catarina Pazes, o crescimento, de 2023 para 2024, em “50 por cento” do número de referenciações e de identificação de pessoas com necessidades de cuidados paliativos é “violento”, porém, reflete o trabalho desenvolvido no terreno e a consciencialização existente na comunidade.

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