Diário do Alentejo

Covid-19: Cáritas de Beja precisa de meios e voluntários

12 de abril 2020 - 10:25

Em tempos da pandemia de co- vid-19, a Cáritas de Beja não fechou nenhum dos serviços de acompanhamento de pessoas em situação de vulnerabilidade e exclusão social. Mantém o apoio a 70 idosos em Beja, através do seu Serviço de Apoio Domiciliário, com dez ajudantes de ação direta apoiadas por uma nutricionista e coordenadas por uma diretora técnica. Tem falta de equipamento de proteção individual, de maior financiamento e de mais voluntários.

 

Texto Carlos Lopes Pereira

 

Em resultado da pandemia de covid-19, a Cáritas Diocesana de Beja, através do seu Serviço de Apoio Domiciliário (SAD), desenvolveu um plano de contingência para garantir uma resposta social. O plano é monitorizado diariamente e atualizado sempre que se justifique, para poder corresponder às medidas e recomendações da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social (CNIS), da Direção-Geral de Saúde (DGS) e da Segurança Social, em tempo real.

 

“Na nossa intervenção, as dificuldades sentidas – e acreditamos que não será muito diferente em outras Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) que trabalham com este público-alvo, sejam em contexto de lar, de centro dia ou de serviço de apoio domiciliário – são caracterizadas pela falta de meios, de equipamentos de proteção individual (EPI), tais como máscaras individuais, gel desinfetante, luvas e fatos, bem como de voluntários e financiamento”, afirma Mariana Côco, diretora técnica do SAD da Cáritas de Beja.

No que diz respeito ao financiamento, o reforço de 59,2 milhões de euros recentemente anunciado pelo Governo “não é solução, uma vez que os custos com a prestação destes serviços sempre foram elevados, já que 70 por cento das despesas são com pessoal”, considera a responsável. Explica que este reforço financeiro representa uma atualização de 3,5 por cento dos contratos com as instituições de solidariedade social, que não chega para cobrir o aumento com os custos do trabalho, nomeadamente o aumento do salário mínimo nacional, que representa um acréscimo de 5,83 por cento nas despesas, aumento que “na nossa ótica, é correto”. 

 

Este reforço financeiro “pode, neste momento, ser uma espécie de injeção, mas é preciso, de facto, olhar para o setor social, uma vez que são muitas as IPSS, cerca de 40 por cento a nível nacional, que chegam ao fim do ano com resultados negativos e esta rede não pode colapsar nesta altura”.

 

Quanto ao voluntariado, com a situação de pandemia, “há agora, mais que nunca, a necessidade de promover, valorizar e estimular o

papel e o contributo inegável do voluntário, como elemento cen- tral de cidadania, para quem são necessários equipamentos de proteção individual e formação, associado a um apelo frequente para que a nossa comunidade não se desligue neste momento”, considera Mariana Côco.

 

Diz mais: “A recente iniciativa da constituição de uma Bolsa de Voluntariado do Baixo Alentejo, que acompanhamos, participa- mos e valorizamos, promovida pela Cruz Vermelha Portuguesa, o Centro Distrital de Beja da Segurança Social e a Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal), cujo objetivo é o de pres- tar apoio às estruturas de apoio social aos idosos, é uma ação que corresponde ao apelo para que todos, enquanto comunidade e sociedade, evitemos o colapso desta rede, em que são muitos os que dela dependem e dela vivem, assumindo o voluntário um decisivo e determinante contributo, como sempre o fez, de abnegação e entrega ao próximo”.

 

Na linha da frente

De acordo com números disponibilizados pela CNIS, é necessário garantir equipamentos que protejam um universo de um milhão de pessoas no que diz respeito aos lares – 200 mil trabalhadores e 800 mil utentes: “Por aqui podemos ter uma ideia geral, mas também particular, da dimensão dos meios necessários, “uma vez que o distrito de Beja é maioritariamente envelhecido, existindo centenas de respostas e equipa- mentos sociais de acolhimento e prestação de cuidados aos idosos”

Mariana Côco reconhece que “ninguém estava preparado para uma situação com esta gravidade e, pelo facto de não sabermos quanto tempo vai durar, sentimos a necessidade de ter vo- luntários especializados que nos ajudem a lidar com o stress e ansiedade diária a que todos estamos colocados, em especial as ajudantes de ação direta que diariamente estão na linha da frente, de forma que possam

gerir com segurança as situações que even- tualmente surjam junto dos ido- sos e familiares”.

 

Apesar da atual pandemia, a Cáritas de Beja não fechou ne- nhum dos serviços de proximidade e acompanhamento a pessoas em situação de vulnerabilidade e exclusão social, o que re- quer muito equipamento de proteção individual para a garantia de uma

prevenção eficaz. Sendo os idosos o público-alvo com maior risco e funcionando o SAD durante sete dias por semana sem interrupção, há uma maior preocupação em garantir que as ajudantes de ação direta possam ter todas as condições de proteção, que transmitam segurança e previnam todo e qualquer risco de contágio.

 

Neste sentido, Mariana Côco realça que “temos falta de máscaras de proteção individual, gel desinfetante ou álcool, fatos de proteção individuais, cujas encomendas já fizemos, mas com previsão de entrega muito demorada”. Assim, a Cáritas recorreu a clínicas de dentistas de Beja que, não estando a funcionar, cederam algum deste equipamento. A par desta colaboração, “temos alguns voluntários a costurar máscaras reutilizáveis e, muito recentemente, tivemos uma doação de 20 viseiras por parte de uma empresa”.

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