Diário do Alentejo

Covid-19: Mediadores Ciganos alertam para dificuldades

25 de março 2020 - 18:30

A Associação dos Mediadores Ciganos de Portugal (AMEC) teme que as restrições à realização de feiras e mercados devido à pandemia de covid-19 tragam fome às comunidades ciganas, alertando que em Portugal já há ciganos “com muitas dificuldades”. A AMEC enviou um e-mail à comunidade cigana com um conjunto de alertas e recomendações de comportamento com base nas orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS), pedindo cuidados de higiene, isolamento, desaconselhando atividades de grupo e viagens.

 

O presidente da AMEC, Prudêncio Canhoto, vive em Beja, onde existe um bairro de ciganos com 50 casas e, ao lado, um acampamento. Ao todo, serão cerca de 800 pessoas, a maioria crianças, e poucos idosos, mas todos uma fonte de preocupação no atual contexto da epidemia de covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus. “Ninguém foi lá saber como estão. Ninguém foi alertar. Ali há muita falta de higiene. Há uma torneira para o acampamento todo. Se alguém apanha o vírus não há proteção nenhuma nem condições”, disse Prudêncio Canhoto, acrescentando que os ciganos “sentem-se desprezados”.

 

O presidente da AMEC alerta ainda para a possibilidade de muitas pessoas da comunidade cigana poderem passar fome por estarem impedidas de praticar a atividade que tradicionalmente os sustenta, o comércio em feiras e mercados.

 

“Em Portugal temos ciganos com muitas dificuldades. Os feirantes estão parados. As pessoas querem dinheiro para comer e não têm. A sorte de alguns são as famílias. Quem tem alguma coisa vai ajudando, mas os feirantes vivem do negócio e do que vendem, não dá para dar muito”, disse. “Isto está a complicar-se muito. Vamos ver quanto tempo vai durar. Estou com receio que em meados de abril haja muita fome”, acrescentou.

 

Entre as recomendações que seguiram hoje por e-mail, uma delas dizia respeito a pedidos de ajuda para apoio alimentar, indicando instituições de solidariedade como a Caritas ou as autarquias para solicitar esse apoio.

 

Prudêncio Canhoto disse que já tentou ligar para o delegado de saúde de Beja e para a própria DGS, a alertar para a inexistência de meios de proteção na comunidade de Beja, mas não conseguiu estabelecer contacto com ninguém até ao momento. Ao Governo e às autarquias deixou um apelo para que acompanhem mais esta comunidade e ajudem a combater as dificuldades.

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