Diário do Alentejo

A26 vai abrir com oito anos de atraso e sem obedecer ao projecto aprovado

12 de março 2020 - 15:00

As obras na praça da portagem junto ao Nó de Grândola Sul, em princípio, deverão ficar terminadas “até ao final do mês”, mas ainda não existe uma data para a abertura do troço da A26 que termina na Malhada Velha. No entanto, quando começar a ser utilizado, os automobilistas irão deparar-se com algumas alterações ao projecto inicial, o que levará a uma diminuição da transferência de tráfego para a nova via.

Texto: Aníbal Fernandes

Quando for aberto ao público, o troço da autoestrada A26, entre a Malhada Velha e o Nó de Grândola Sul da A2, apesar de não ter portagens pagas conforme foi anunciado, não servirá de muito a quem queira apenas utilizar a nova via. Isto porque não existe outra saída que não seja a A2. O que, na prática, leva a que a utilização desta via, neste sentido, obrigue os automobilistas a entrarem na autoestrada e, consequentemente, a pagar portagem. No sentido inverso, quem aceder à nova praça da portagem junto ao nó de Grândola Sul vindo da A2, com a intenção de aí sair e apanhar a Estrada Nacional 259 e dirigir-se a Santa Margarida do Sado, será obrigado a seguir até ao fim do troço, a meio caminho entre o seu destino e Figueira de Cavaleiros e, depois, a fazer inversão de marcha para chegar àquela localidade. O mesmo também é verdade para quem venha do IC1 em direcção a Beja e quiser usufruir daqueles 12 quilómetros gratuitos em perfil de autoestrada. Para esses, resta-lhes olhar para o novo viaduto sobre o Sado e usar a antiga e esburacada N259 que obriga a passar o rio na velha ponte de metal com apenas um sentido.

Segundo informações e documentos a que o “Diário do Alentejo” teve acesso, esta situação vai acontecer porque a solução encontrada para a ligação da A26 à A2 não corresponde ao desenho original da obra, conforme atesta o Relatório de Conformidade do Projeto de Execução (Recape) com a Declaração de Impacto Ambiental (DIA), datado de 16 de junho de 2010. De facto, a única solução que permitiria a distribuição do tráfego entre várias vias é a do Q Aljustrel é o município com a maior taxa de execução a nível nacional de projetos aprovados e financiados pelo Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU), num investimento de 6,3 milhões de euros. Em comunicado, a Câmara de Aljustrel refere que, segundo os últimos dados oficiais revelados, “lidera” o PEDU “com uma taxa de execução de 76 por cento”, seguindo-se os municípios de Castelo Branco (58 por cento) e Viana do Castelo (52 por cento). O município candidatou 13 projetos, num investimento total de 6 319 035 euros, sendo que 10 já estão concluídos e três em fase de execução com obras a decorrer. desenho original que prevê a construção no final do Lanço A de um nó rodoviário que, apesar de ter as terraplanagens efetuadas (ver foto aérea) nunca foi executado. Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, o desenvolvimento do projeto de execução e a respectiva construção foi adjudicada à SPER-Sociedade Portuguesa para a Construção e Exploração Rodoviária, S. A., sendo um dos três lanços que integravam o desenho da autoestrada entre o IP8/Nó do Roncão e Beja. No caso agora em apreço, trata- -se do Lanço B (Nó de Grândola Sul - IP1 e Figueira de Cavaleiros).

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Na descrição geral do Recape diz-se que o Lanço B “é coincidente com o final do Lanço A – IP8 Nó de Roncão (IC33) / Nó de Grândola Sul (IP1) e termina após o Nó de Figueira dos Cavaleiros, ao quilómetro 18+500”, numa extensão de 18,5 quilómetros. No entanto, nada disto está no terreno e aconteceram várias alterações ao projecto inicial. Para além do troço terminar seis quilómetros antes do que estava previsto, foi eliminado o nó em trompete em Santa Margarida do Sado, ao quilómetro seis e na Malhada Velha, onde deveria ter sido construído um viaduto, existe agora uma rotunda. Caso a auto-estrada venha a ser concluída até Beja, esta rotunda não terá qualquer utilidade, terá de ser demolida e ser construído o viaduto. Acresce que a sua localização é longe de Santa Margarida do Sado e de Figueira de Cavaleiros não servindo nenhuma das localidades.

Para vários especialistas contactados pelo “Diário do Alentejo”, o que está construído não é de forma alguma uma verdadeira autoestrada, limitando-se a ser “o mais longo acesso a uma autoestrada em Portugal”. Luís Pita Ameixa, presidente da Câmara Municipal de Ferreira do Alentejo, confirmou as alterações apontadas e disse ao “Diário do Alentejo” acreditar que “as obras fiquem concluídas em março”. Depois seguir-se-á o processo de homologação pelo Instituto de Mobilidade e Transportes (IMT) o que permitirá inaugurar o troço “durante o mês de abril. Também Juvenália Salgado, presidente da Junta de Freguesia de Figueira de Cavaleiros, acredita “que é desta que o Governo vai inaugurar a obra”, uma vez que no terreno são agora visíveis “os últimos trabalhos, incluindo a iluminação”.

 

O “Diário do Alentejo” contactou a Infraestruras de Portugal para confirmar as alterações ao projecto, mas, até ao fecho desta edição, não obtivemos qualquer resposta às nossas questões. A A26 – Autoestrada do Baixo Alentejo – foi projectada para ligar as cidades de Sines e Beja, passando por Santiago do Cacém e Ferreira do Alentejo, tendo como objectivo, por um lado, facilitar o escoamento de produtos originários do porto e da refinaria e, por outro, aproximar Beja e o seu aeroporto a Lisboa através da A2. Recorde-se, ainda, que esta auto-estrada foi projetada como uma via de alta capacidade e integra a Rede Transeuropeia de Transportes (RTE-E) e o Plano Rodoviário Nacional – 2000.

O RESTO É HISTÓRIA

Com final da construção previsto para 2012, a A26, pensada para ligar Sines a Beja, tem apenas dois pequenos troços terminados entre Sines e Relvas Verdes e entre o Nó de Grândola Sul e Malhada Velha. Em 2010 as obras foram para o terreno, mas em dezembro de 2011 foram suspensas. Numa visita a Beja, o então secretário de Estado das Obras Públicas, Sérgio Monteiro, justificou a situação com “dificuldades da empresa concessionária em aceder ao crédito”, mas garantiu que o Governo era “completamente alheio” à situação. Jorge Pulido Valente, então presidente da Câmara Municipal de Beja, mostrava-se preocupado e adivinhava que o problema não se iria “resolver rapidamente”. A Estradas de Portugal (EP), dona da obra, afirmava, por seu lado, que a decisão de construir a A26 tinha sido “um equívoco técnico”, porque “o tráfego previsto não justificava a criação de uma autoestrada dispendiosa para ficar literalmente sem trânsito”. Apesar disso, em 2012, a EP renegociou o contrato de concessão com a Estradas da Panície (SPER), cancelou os dois lanços da A26 entre Relvas Verdes e Grândola e entre Santa Margarida do Sado e Beja onde tinham sido “gastos cerca de 35 milhões de euros”, montante “mal aplicado” e questionava a utilidade de “aproveitar as infraestruturas existentes”. O resto é história…

 

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