Apesar das contas de 2019 ainda não estarem encerradas, manteve-se a tendência de "consolidação e afirmação do setor", ainda que o crescimento tenha abrandado. Entre janeiro e agosto as exportações chegaram a cerca de 724 milhões de euros, um decréscimo de 0,1 por cento comparativamente com o ano anterior. "Enquanto líderes, temos apostado na inovação, investigação e desenvolvimento, para conseguir acompanhar o interesse e curiosidade de toda a comunidade científico-tecnológica a nível mundial. O potencial da cortiça ultrapassa todas as fronteiras, tornando a nossa missão crucial para as suas infindáveis aplicações", sublinha o mesmo responsável.
Estrutura representativa da fileira da cortiça, a Filcork integra, entre outras, a Associação de Produtores Florestais do Vale do Sado, e prevê que a campanha de extração de cortiça em 2019 tenha fechado nos 6,2 milhões de arrobas (quatro milhões dos quais em Portugal, sobretudo, no Alentejo), o que representa cerca de 93 mil toneladas e significa um aumento de 13 por cento em relação a 2018. “A campanha concretizou as expectativas do setor em termos de quantidades de cortiça produzida, permitindo assegurar as necessidades da indústria, face à procura do mercado e aos stocks existentes”, diz fonte da Filcork, assinalando que ao nível dos preços se registou uma redução na ordem dos 12 por cento face ao ano anterior. A perspetiva é que em 2020 a produção possa crescer cerca de 30 por cento.
Portugal é não só o maior exportador mundial de cortiça, como 34 por cento da área mundial de montado de sobro se localiza no País, sendo que 84 por cento dos sobreiros se encontram no Alentejo. A região produz grande parte da matéria-prima que depois é transformada na região de Entre Douro e Vouga, onde se localizam 80 por cento das empresas.Os mais de mil milhões de euros exportados anualmente fazem com que Portugal represente aproximadamente dois terços do comércio mundial de cortiça, sendo que as rolhas são o principal produto exportado (representam 70 por cento do total). "Estamos perante uma matéria-prima com propriedades únicas, que agrega cultura, sustentabilidade e performance técnica", lembra o diretor-geral da Apcor, assinalando que além de presente em garrafas de vinho e bebidas espirituosas, a cortiça está presente nos setores da construção sustentável, indústria aeronáutica e aeroespacial, transportes, moda e desporto, entre outros. "As suas aplicações não param de nos surpreender".
A França continua a ser o principal comprador (18 por cento), seguida dos Estados Unidos, Espanha e Itália. O mercado chinês registou um crescimento de 17 por cento entre 2017 e 2018, tendência invertida nos primeiros oito meses de 2019.
"PRECISAMOS DE AUMENTAR A ÁREA DO SOBREIRO"
Já nos anos 50 do século XX, Joaquim Vieira da Natividade, o primeiro estudioso do sobreiro, identificava nas “pragas, doenças e má técnica, a trilogia fatal dos montados”. E acrescentava um fator que naquele tempo teria uma importância relativa: “Omitimos o clima, porquanto este atua em geral apenas como uma causa remota”. Na atualidade, o clima é já uma causa real. Os resultados provisórios do sexto Inventário Florestal Nacional, a que o "Diário do Alentejo" teve acesso, apontam para uma redução de 10 mil hectares de montado de sobro em apenas 14 anos. As alterações climáticas, e as doenças e pragas potenciadas por elas, aliadas a más práticas agrícolas são causas que explicam o declínio do sobreiro. A que se pode somar ainda a inexistência de uma política "muscular" de apoio ao rejuvenescimento e ampliação do montado.
"Temos trabalhado arduamente com todos os agentes da fileira para que, em conjunto, se encontrem as melhores soluções para a manutenção e incremento desta espécie", diz o diretor-geral da Apcor, Joaquim Lima, defendendo a importância de novas plantações: "Precisamos de aumentar a área do sobreiro e expandi-lo pelo território português. Existe potencial de crescimento por duas vias, apostando em nova plantações e em novas geografias e, por outro lado, nas atuais áreas de montado apostar no adensamento de árvores por hectare".