Diário do Alentejo

Figura do ano: Imigrantes nos campos do Alentejo

02 de janeiro 2020 - 00:10

Foram notícia, muitas vezes, por serem a mão de obra barata dos campos regados do Baixo Alentejo: os imigrantes, que chegam à região em busca de uma vida melhor. Que chegam também, muitos e de várias nacionalidades, para obter a tão almejada legalização, ao abrigo do artigo 88.º. Porque, ao contrário de outros países da Europa, aqui “as portas estão mais abertas”. Imigrantes, muitos deles, que dividem casas, contentores e que vivem em condições precárias, ganhando baixos salários, para apanhar azeitonas, amêndoas, citrinos, frutos vermelhos. O que houver para colher nas herdades, que têm cada vez menos um trabalho sazonal.

 

O Serviço de Fronteiras e Estrangeiros (SEF), logo em janeiro de 2019, disse ao “Diário do Alentejo” que com residência legal, no distrito de Beja, estão mais de oito mil imigrantes. Mas a associação Solidariedade Imigrante (Solim) estima “cerca de 20 mil imigrantes no pico da campanha da azeitona, incluindo alguns milhares à espera de legalização e muitos outros de passagem”. E foi em julho que mais uma notícia confirmou o aumento de população estrangeira registada no distrito, que quase duplicou em uma década e muito por causa da mão de obra que se tornou necessária para as novas culturas que Alqueva proporcionou. Na altura, os concelhos de Odemira e Ferreira do Alentejo foram apontados como exemplos marcantes. Nos mesmos 10 anos triplicou o número de imigrantes legalizados a viver nestes dois municípios.

 

Mas também foi notícia o caso de Alvito que se disponibilizou para acolher, no âmbito do Programa Europeu de Recolocação de Refugiados, pessoas que fugiram do seu país por culpa da guerra, da perseguição ou da pobreza extrema. Foi, por isso, notícia a chegada de um pai e de uma mãe com dois filhos que encontraram neste concelho, onde já vivem sete cidadãos sírios, uma rede de solidariedade.

 

Acontece que Beja, em 2019, foi ainda o palco do 1.º Encontro Regional de Apoio e Proteção de Vítimas de Tráfico de Seres Humanos. Um fenómeno crescente, de massas, e que assola a região Alentejo, maioritariamente para fins de exploração laboral em meio agrícola. O distrito de Beja, na verdade, continua a reportar o maior número de casos e no Alentejo já foi prestada assistência a centenas de potenciais vítimas de tráfico de seres humanos. Um fenómeno que está longe de estar controlado, e difícil de combater, porque “trata-se de um crime bastante lucrativo”, alertaram as autoridades.

 

E, em novembro, a Solim, tendo por base o regime especial e transitório, estabelecido pelo anterior governo, para permitir melhores condições de vida e habitação a trabalhadores agrícolas temporários e assegurar mão de obra no Aproveitamento Hidroagrícola do Mira, exigiu a revogação da resolução do Conselho de Ministros, que foi publicada no dia 24 de outubro, em “Diário da República”, porque defendeu que “aglomerados de contentores que podem ‘alojar’ até 400 pessoas com 3,42 metros quadrados por cabeça, a uma distância mínima de 1000 metros dos aglomerados populacionais, são guetos ornamentados com promessas de instalação de Internet e ar condicionado”. Pedro Neto, diretor-executivo da Amnistia Internacional Portugal, em declarações ao “DA”, considera que “o Estado deve ser o garante do direito à habitação”mas, neste caso, “permitiu a legalização da precariedade”.

 

OUTROS DESTAQUES

FLORIVAL BAIÔA

Florival Baiôa Monteiro, um dos rostos mais visíveis do movimento Beja Merece +, viu aprovar, na Assembleia da República, os três projetos de resolução agregados à petição do movimento, da qual foi o primeiro subscritor, referentes a acessibilidades rodo e ferroviárias na região e ao aeroporto de Beja. Na altura, em julho, disse: “Esta é uma vitória do povo do Baixo Alentejo em Lisboa, de uma luta que dura desde há sete anos. Fizemos história, todos nós, os 26 101 signatários da petição que decidimos, ao participar neste grande movimento social coletivo, lutar pelas nossas causas”. Florival Baiôa integrou ainda, este ano, uma comitiva do movimento, que foi recebida no Parlamento Europeu, em Bruxelas. O objetivo foi expor as reivindicações para a região e “internacionalizar” o protesto. “Este novo passo conquistou apoios e contribuirá com um aporte de acrescida energia para esta luta”, considerou.

 

HUGO BENTES E PAULO MONTEIRO

Hugo Bentes, de Serpa, ganhou o prémio Sophia de melhor ator de filme português. O protagonista de “Raiva”, do realizador Sérgio Tréfaut, foi ainda nomeado para os Prémios Autores SPA/2019 , na categoria de “Melhor Ator”, e para os Globos de Ouro, nomeadamente, na mesma categoria. Quem se destacou no Prémio SPA Vasco Granja foi o filme “Porque é este o meu ofício”, de Paulo Monteiro, arrecadando o prémio de Melhor Curta-Metragem Portuguesa, na 18.ª edição do Festival Monstra, em Lisboa. Paulo Monteiro, este ano, lançou ainda o livro Mariana, no âmbito das comemorações dos 350 anos das Cartas Portuguesas, de Mariana Alcoforado. Um livro feito a pensar “nos miúdos do 1.º e 2.º ciclos”, que conta “de uma forma muito simples” a história de amor entre a freira bejense e Chamilly. As 19 pranchas de banda desenhada que constituem o livro puderam ainda ser apreciadas no Museu Regional de Beja. 

Comentários