Diário do Alentejo

Jovens empreendedores em Castro Verde

19 de novembro 2019 - 12:00

Uma “Mostra de Empreendimento Jovem”. Foi esta a iniciativa que aconteceu, recentemente, em Castro Verde. Uma mostra promovida pela Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM), que contou com o financiamento da Somincor e o apoio da câmara municipal local, e que fez abrir as portas do In Castro – Centro de Ideias e Negócios, bem como a das suas empresas incubadas, para, no futuro, acolher outros possíveis interessados. Objetivo: aprender a empreender.

 

Texto Bruna Soares

 

Uma iniciativa que se destinou aos jovens que frequentam o 3.º ciclo e o ensino secundário e que, de acordo com Sandra Cascalheira, da ADPM, pretendeu “impulsionar o seu espírito de empreendedorismo” e “estimular a sua capacidade criativa, aliando a valorização dos recursos locais do território”.

Mostra, esta, que se inseriu no âmbito do projeto Grow UP que visa “promover entre os jovens competências intrapessoais, interpessoais e profissionais, incentivando-os a planear e a concretizar um projeto de vida”.

De acordo com a técnica da ADPM, “trata-se de um projeto de ensino não formal, complementar ao ensino formal”. Porque, “ainda que as unidades curriculares lecionadas em regime escolar sejam fundamentais, tendo em conta os constrangimentos sócio económicos da região, é essencial promover competências profissionais e pessoais como espírito de equipa, comunicação, resiliência, iniciativa, criatividade, capacidade de planeamento, entre outras”. Desafio final: “Que estas competências permitam aos jovens criar oportunidades para o seu futuro”.

E quem já resolveu empreender, em Castro Verde, foi Fábio Bravo, que pertence à Weblime, empresa nascida em 2016, fruto da fusão de dois projetos freelance (trabalhadores independentes), nas áreas do desenvolvimento de software e do design. E Fábio Bravo foi, precisamente, um dos empreendedores que deixou o seu testemunho nesta mostra.

“Decidimos empreender aqui porque conhecemos bem a realidade da nossa região, somos de Castro Verde, e, embora tenhamos estado fora, sabemos que há potencial e possibilidade de fazer crescer a Weblime no Alentejo”, conta ao “Diário do Alentejo”. E rapidamente acrescenta: “E porque encontrámos o espaço In Castro, perfeito para testar a nossa ideia. Neste local dispomos de escritório, de wi-fi, de água, de eletricidade, de ar condicionado, de reprografia, de copa, de salas de reuniões e de salas de formação a preços muito competitivos, nomeadamente, para alguém que inicia atividade por conta própria”.

Fábio Bravo, contudo, está consciente dos desafios de quem se arrisca por conta própria e nesta região, até porque, como diz, “comparando com outras regiões pode existir menor número de clientes”. No entanto, tal não deve ser encarado, em seu entender, “como um impeditivo”. “Como trabalhamos nas áreas da tecnologia, design e marketing, conseguimos prestar serviços remotamente. No entanto, também trabalhamos com empresas, associações e entidades públicas da região. Percebemos que existiam empresas, aqui, que procuravam os tipos de serviços que prestamos e que ainda não tinham a quem recorrer”. É por isso que, em sua opinião, “estas iniciativas são importantes, não só pelo aspeto educacional, mas, sobretudo, pela importância de dar a conhecer aos mais jovens casos reais de empreendedores/empresários”. “É importante que os mais jovens percebam que podem explorar as suas ideais e projetos, conhecendo os riscos, as dificuldades e as possíveis recompensas”, conclui.Uma ideia reforçada por Guilherme Peleja, outros dos preletores desta mostra. “Iniciativas como o Grow Up são muito importantes para que os jovens se sintam motivados, se sintam inspirados e, principalmente, influenciados pela energia positiva e criativa que é transmitida. E também é importante para que percebam que o empreendedorismo é mais do que criar um projeto”.

Guilherme Peleja, na verdade, em conjunto com outros jovens, formou, em Castro Verde, a Associação Fora da Gaveta, que consiste na promoção e educação através das artes, na área do cinema e teatro. “Sou alentejano e não gosto de estar quieto. Voltei para o Alentejo à procura de desafios diferentes. Gosto muito do Alentejo, mas sinto que falta, por vezes, um pouco de abertura de mentalidades no que toca ao entretenimento aliado à reflexão. No Alentejo sofremos com a falta de interesse por parte de algumas pessoas para o que é diferente e novo. No fundo faz falta acender a chama que é a cultura e manter”, afirma. E é por este motivo que defende: “Faz falta quebrar a monotonia do lugar confortável que temos em casa. Como alguém já me disse, o nosso maior concorrente será sempre a inércia, ou seja, aquelas pessoas que não fazem nada, não vão ao cinema ver o tal filme ou ver a tal peça de teatro. Também acredito que faz falta que as pessoas jovens se fixem no Alentejo, mesmo sabendo que às vezes é preciso ir para fora para aprender. No entanto, é muito importante que voltem para ensinar”.

Projeto Grow Up na região

No âmbito do projeto Grow Up são várias as ações já desenvolvidas, como sejam palestras motivacionais nos diferentes agrupamentos; bootcamp e sessões de mentoria; Concurso Regional de Empreendedorismo e participação no Concurso Nacional Faz Acontecer (nos Açores), estando, neste momento, a decorrer as “Voltas Empreendedoras” a empresas e entidades de cinco municípios da região. Para Sandra Cascalheira, “ser empreendedor implica conseguir identificar oportunidades, ter capacidade criativa, ser proactivo e dinâmico, ser capaz de trabalhar em equipa, de definir objetivos e ser capaz de encontrar os recursos necessários para os concretizar”. Projetos como o Grow Up “ajudam a preparar os jovens para a adoção de uma atitude empreendedora, através da aquisição de um conjunto de competências, que não encontram na escola, em termos de conhecimentos e apoios necessários para desenvolverem os seus projetos e ideias, preferencialmente na região”.

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