Diário do Alentejo

Turismo no Baixo Alentejo cresce 74 por cento em quatro anos

02 de outubro 2019 - 16:25

O número de dormidas de turistas nos concelhos do distrito de Beja, em 2018, foi de 571 458, o que representa um aumento de 73 por cento em relação a 2014, ano em que este valor se situou nos 328 044. Segundo dados do Pordata, o crescimento tem sido sustentável: em 2015 registaram-se 419 303 dormidas, número que voltou a ser batido, em 2017, com 535 578 pernoitas. Os dados mais recentes, do Instituto Nacional de Estatística (INE), referem que no mês de julho de 2019, na região do Alentejo (NUTS II), pernoitaram 350 mil pessoas, o que dá um acumulado, desde janeiro, de um milhão e 543 mil dormidas, uma subida de 9,5 por cento em relação ao ano anterior.

 

Texto Aníbal Fernandes

Fotos José Ferrolho

 

António Ceia da Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo (ERTA), diz que “é um crescimento homogéneo” e acredita que terá seguimento. “Existem vários projetos e intenções de investimento que, não tenho dúvidas, nos próximos anos serão concretizados”, e que irão capacitar a região, com equipamentos suficientes para acolher os turistas que se deslocarem ao Baixo Alentejo. Um dos casos que fala é a possibilidade de uma unidade de luxo a ser construída em Ourique, mas nunca antes de “seis ou sete anos”. O presidente da ERTA está convencido de que “uma oferta diferenciada, com base nos patrimónios imateriais da região, e com uma grande aposta no cante, irá trazer mais turistas”. O problema, diz, é a falta de mão de obra qualificada de que a região carece. Daí a importância da formação profissional e a “necessidade de uma política nacional de imigração” que permita recrutar trabalhadores estrangeiros para colmatar as faltas.

 

Em 2017, o setor do turismo valeu 26,7 mil milhões de euros, o que representa 13,7 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), e deu trabalho a mais de meio milhão de pessoas, cerca de 10 por cento do total de empregados em Portugal. Só a restauração e o alojamento empregaram cerca de 350 mil pessoas, sendo que, nesse ano, foram criados 44 mil novos postos de trabalho, tendência que, segundo o Instituto Nacional de Estatística, se “deve manter”.

Ceia da Silva explica que “qualquer região turística cuja oferta se baseia no touring tem baixas taxas de permanência”, o que até pode não ser mau, uma vez que as pessoas ficam um dia na capital de distrito e nos dias seguintes podem ficar em outros concelhos do distrito.

 

António Freire, a gerir o Beja Hostel há seis anos, diz que a dificuldade para garantir pernoitas mais prolongadas, entre outras razões, tem a ver com a “existência de poucas unidades hoteleiras com capacidade para dar resposta a um grupo de turistas de um autocarro, quanto mais de uma agência de viagens”. “Um hotel com 60 quartos na cidade de Beja não consegue dar resposta a dois autocarros. É preciso olhar para a nossa escala”, conclui. E as autoridades têm feito o suficiente para ajudar os pequenos players do setor? “Não”, responde. “Só ajudam se chegares a um determinado patamar. Ando há anos a tentar ter lugares de estacionamento para os meus clientes e têm sido sistematicamente negados”, protesta.

 

No ranking alentejano dos concelhos com mais dormidas aparece em primeiro lugar, destacado, Évora (645 404), seguido por Grândola (368 644), Odemira (220 839), Beja (146 237) e Santiago do Cacém (122 363).

 

Quer o Hotel Melius quer o BejaPark Hotel apresentam boas taxas de ocupação, no entanto, não é o turismo o seu core business. João Rosa, proprietário do BejaPark Hotel – que neste momento se encontra em obras de ampliação, com conclusão prevista para a próxima primavera –, diz que se nota um aumento no setor, “mas não é nada por aí além, nada como acontece em Évora”.Para o empresário e também presidente da Associação do Comércio, Serviços e Turismo do Distrito de Beja, era importante que se conseguisse fazer com que quem viesse à capital do Baixo Alentejo ficasse “dois ou três dias” e não, como acontece, depois de visitar o castelo, a sé e o museu, “se fossem embora”. Dar a volta à questão “não é fácil”, diz João Rosa, mas sempre adianta que, “para começar”, seria necessário “investir em melhores estradas, nomeadamente, na autoestrada e na ferrovia”.

 

 

Também Elisabete Gonçalves, a nova diretora do Hotel Melius, considera que “não só para o turismo, mas para a economia, em geral”, o facto de a “autoestrada estar parada, e o comboio ser o que é”, não ajuda ao desenvolvimento. No entanto, as taxas de ocupação do seu hotel são “simpáticas” e a perspetiva é de aumento, mas o tipo de clientela é mais empresarial, com enfoque para as empresas que têm como base o aeroporto de Beja.

 

Paulo Arsénio, presidente da Câmara de Beja, admite que as queixas dos operadores turísticos têm razão, mas diz que o município está a fazer tudo para que esse cenário mude. “Hoje, a média de permanência de um turista no concelho de Beja é de 1,8 dias, mas, segundo estudos que nós fizemos, essa média, depois da albufeira dos Cinco Reis estar em funcionamento, poderá passar para 2,7”. Mas o autarca de Beja diz que a valorização deste território também passa pela “reabilitação do património”, nomeadamente, o património religioso, e refere o investimento de 1,2 milhões de euros, recentemente aprovado, no Museu Regional de Beja, como uma âncora para a atração de turistas à cidade. O presidente da Câmara de Beja faz ainda questão de lembrar que a eletrificação da ferrovia e as novas acessibilidades rodoviárias são “essenciais” para que Beja possa concorrer com Évora, uma cidade que “é Património Mundial e está muito mais próxima de Lisboa”.

 

Portas do Património

Nasceu em 2008 para “valorizar os recursos existentes e concorrer aos fundos comunitários para a salvaguarda e a promoção do património”, mas só desde agosto do ano passado é que passou a funcionar em velocidade de cruzeiro. A Associação Porta do Património, uma parceria entre a diocese, o município de Beja e a misericórdia, é responsável pela abertura aos turistas dos espaços religiosos do concelho de Beja, edifícios que cobrem várias épocas, e que vão desde o gótico alentejano, do século XIII, até ao barroco, da segunda metade do século XVIII.

 

O padre Manuel Rosário, da Comissão Diocesana do Património e responsável pela instituição, diz que “o património tem de ser uma causa comum, e envolver a paróquia, as autarquias, as empresas e os particulares, bem como a Direção Regional de Cultura, cujo apoio é essencial”. “As pessoas procuram o património religioso, mas a Igreja, por si só, não tem recursos” suficientes para o manter. Daí a importância desta parceria. A Sé de Beja parece ser o monumento que cativa mais turistas. De janeio a julho deste ano já a visitaram cerca de 12 mil pessoas. Como objetivo de curto prazo o padre Manuel Rosário aponta para que a igreja de Santa Maria possa ficar visitável, e recorda que desde agosto que os valiosos azulejos da capela do Rosário já podem ser apreciados por quem visita a cidade.

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