Diário do Alentejo

Distrito de Beja luta por melhores acessibilidades

10 de setembro 2019 - 16:05

Há vários anos que a população do distrito de Beja luta pelo aproveitamento do aeroporto local e por melhores acessibilidades, exigindo a conclusão da A26/IP8 e a eletrificação dos troços ferroviários de ligação a Lisboa e ao Algarve. As reivindicações estiveram na origem e têm sido ‘bandeiras’ do movimento de cidadãos Beja Merece +, criado em 2011, e da Plataforma Alentejo, criada em 2018, e são partilhadas por autarcas, deputados e partidos.

 

Texto Luís Lourenço (Lusa)

 

"Não há desenvolvimento sem acessibilidades e o distrito precisa de melhores estradas e linhas férreas para satisfazer necessidades de deslocação de pessoas e bens e permitir condições para fixar empresas e população", vinca Florival Baiôa, do Beja Merece + Claudino Matos, da Plataforma Alentejo, frisa que "melhores acessibilidades" são "fundamentais para o desenvolvimento sustentável" do distrito. Tomé Pires, vice-presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo, que reúne 13 dos 14 municípios do distrito, defende que os investimentos nas acessibilidades são "essenciais" para o futuro da região. Desde que começou a operar em 2011, o aeroporto de Beja, que custou 33 milhões de euros, tem estado praticamente vazio e sem voos e passageiros na maioria dos dias. Quase só serve para estacionamento e manutenção de aviões da companhia área Hi Fly.

 

"O aeroporto de Beja devia ser equacionado numa estratégia nacional e podia dar apoio a outros aeroportos", como os de Faro e Lisboa, mas para tal "é preciso" a A26/IP8 (autoestrada/itinerário principal) para o ligar à A2 e permitir viajar "de forma mais rápida" até Lisboa e ao Algarve, defende Tomé Pires. Segundo a Infraestruturas de Portugal (IP), a A26/IP8, que deveria ligar Sines e Beja, começou a ser construída em 2010, mas, devido à dificuldades financeiras da subconcessionária, as obras foram suspensas em 2011.

 

No âmbito da renegociação do contrato, foram canceladas as obras de quatro lanços e foram retomadas em 2015 as obras dos lanços Sines/Relvas Verdes (em serviço há dois anos) e Nó de Grândola Sul da A2/Santa Margarida do Sado, concluído em 2017, mas ainda fechado devido à necessidade de se adaptar a praça de portagem para interligar a A26 e a A2. O corredor Sines/Beja/Vila Verde de Ficalho é uma ligação "importante" entre o Porto de Sines, o aeroporto de Beja e Espanha e entre Beja e a A2, mas há "uma indefinição total" em relação às obras da A26/IP8, frisa Tomé Pires.

 

Segundo Florival Baiôa, as estradas nacionais que formam o IP8 entre Sines e Vila Verde de Ficalho, já quase na fronteira com Espanha, estão "em péssimas condições", o que "põe em risco a segurança de utentes, prejudica o transporte de mercadorias e é um entrave ao aproveitamento do aeroporto de Beja". "Não se pode desperdiçar o investimento" feito em infraestruturas inacabadas devido ao cancelamento de obras e é "importante concluir" a A26, frisa Claudino Matos.

 

Por outro lado, acrescenta, deve ser aberto "de imediato" ao trânsito o lanço Nó de Grândola Sul da A2/Santa Margarida do Sado da A26, porque "é incompreensível ainda estar fechado", e deve ser beneficiado o troço entre Beja e Vila Verde de Ficalho "no mínimo em perfil de IP". A IP disse à Lusa que prevê contratar projetos para a "profunda requalificação" do IP8 entre Santa Margarida do Sado e Beja e a beneficiação da estrada entre Beja e Vila Verde de Ficalho.

 

Quanto à ferrovia, os troços Casa Branca/Beja, que está em operação e liga a Lisboa, e Beja/Funcheira, que está desativado e permitia a ligação ao Algarve, não estão eletrificados porque ficaram de fora das obras de modernização da Linha do Alentejo. Entre Casa Branca e Beja, a CP opera com automotoras a ‘diesel’, que, segundo a empresa, têm "uma idade média superior a 50 anos, baixas velocidades comerciais, tempos de percurso elevados, baixa fiabilidade e elevados custos de manutenção".

 

O serviço entre Casa Branca e Beja é "vergonhoso" e prestado em "condições inadmissíveis", lamenta Florival Baiôa, contando que as automotoras "obsoletas e desconfortáveis" avariam "com regularidade", o que provoca "constantes" atrasos e supressões ou substituições de ligações de comboio por viagens em autocarros. Por isso, defende Tomé Pires, deve avançar a eletrificação do troço Casa Branca/Beja "o mais rápido possível" e depois ser equacionada a eletrificação e a reativação do troço Beja/Funcheira, para voltar a permitir a circulação entre Beja e o Algarve. Segundo a IP, eventuais intervenções na Linha do Alentejo estão em análise no âmbito do Plano Nacional de Investimentos 2030.

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