O restaurante chama-se Degust’Ar Lisboa. Quer “conquistar” a capital com os sabores tradicionais do Alentejo. E na frente de operações está António Nobre, um dos mais destacados chefes alentejanos, nascido em Beja e criado na pequena aldeia de Padrão, a poucos quilómetros da cidade. O pai trabalhava na agricultura. A mãe dava uma ajuda a cuidar da terra, acumulando as tarefas com a lida da casa. O rapaz lá cresceu a brincar nas hortas, entre os aromas das ervas aromáticas, longe de imaginar que haveria de encontrar a sua verdadeira vocação na cozinha alentejana.
Entre um acaso da vida e uma “brincadeira” do destino, foi parar à Marinha para cumprir o serviço militar obrigatório. Poderia ter ficado pelo básico, a varrer a parada, mas decidiu inscrever-se num curso que lhe permitisse retirar algum proveito dos dois anos de tropa que teria de cumprir. Como já tinha aberto uma pastelaria com um primo, a Pastelaria Europa, frente à atual pousada de São Francisco, resolveu inscrever-se num curso de empregado de mesa, aquele que poderia dar “mais jeito” quando regressasse a Beja. Como segunda opção escolheu o curso de padeiro. Acabou colocado na terceira e última alternativa: o curso de cozinha. “Meteram-me em cozinheiro porque se calhar era do que tinham mais falta, era o que a Marinha mais precisava. Foi aí que começou a minha paixão pela gastronomia”, lembra António Nobre, sublinhando que até esse momento “nem sabia estrelar um ovo”. Lá por casa era sempre a mãe que se encarregava de almoços e jantares.
Com cadeira para uma centena de clientes, a aposta do Degust’Ar Lisboa é clara: gastronomia tradicional alentejana, com o toque do “chefe” e uma preocupação cuidada na hora de servir. Não falta a canja de galinha – uma canja de arroz carolino com galinha, toucinho e hortelã –, a sopa de cação, as migas de espargos verdes com lombinhos de porco ibérico ou a açorda de bacalhau com ovo escalfado. Daqui a pouco há de provar-se o ensopado de borrego, mas antes acompanhemos António Nobre nas suas memórias por esses tempos de Marinha: “Tive a sorte de entrar para a messe de oficiais na linha de Cascais, onde a comida era mais refinada, com um sabor mais apurado. Fazíamos muito bacalhau à Brás, bem feito, apesar de ser em grandes quantidades. Depois, chegava o fim de semana, a malta mais velha ia a casa e eu não me importava de ficar a cozinhar. O despenseiro, que era o homem que tomava conta daquilo, até ficava contente, pois sabia que as coisas iam correr bem e que eu não o iria enganar”.