Diário do Alentejo

Turismo de estrelas na reserva Dark Sky Alqueva

20 de julho 2019 - 19:35

Cai a noite e as estrelas cobrem o castelo de Noudar. De um lado, Cassiopea, mais além a Ursa Maior. Nélson Nunes mostra as constelações com um ‘laser’ na escuridão do Alentejo, na fronteira luso-espanhola, na região mais transparente do sul europeu. Uma centena de pessoas desfruta de uma noite fechada que exala verão neste castelo medieval, levantado sobre uma colina banhada pelo rio Ardila. Apenas uma estreita faixa de água separa Portugal e Espanha.

 

Ajudado por telescópios instalados provisoriamente no antigo pátio de armas do castelo, Nélson vai descobrindo os tesouros escondidos nos céus. Conta, além disso, as lendas mitológicas que dão nome às constelações. São, diz, histórias que ajudam a entender o legado europeu: "É a cultura europeia ocidental, estas histórias vêm dos gregos, dos romanos...".

 

Este cosmólogo e professor da Universidade de Lisboa tornou-se em "guia do céu" e comanda o Observatório do Lago Alqueva (OLA), um centro de referência do chamado "turismo de estrelas" nesta região compartilhada por Espanha e Portugal.

 

Mais de 250 quilómetros quadrados e 13 municípios de ambos lados da fronteira integram a região do Alqueva, que cresceu alimentada pelo maior lago artificial do sudoeste da Europa, com águas do rio Guadiana, e que nos últimos anos multiplicou a sua atividade turística ajudada por fundos europeus. Castigada pelo esquecimento e o despovoamento durante décadas, a região reinventa-se e aproveita duas realidades que até agora carregava como um entrave: a sua pouca população e a sua praticamente nula atividade industrial.

 

"Temos nesta região um dos céus mais escuros da Europa, a poluição lumínica é muito reduzida", afirma à jornalista Mar Marín, da agência espanhola EFE, o presidente do município de Reguengos de Monsaraz e da Associação Transfronteiriça de Municípios do Lago Alqueva (ATLA), José Calixto. As condições do Alqueva foram reconhecidas com a certificação de "Destino turístico Starligth", um prémio da Fundação Starligth, que conta com apoio da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e da Organização Mundial de Turismo.

 

Estes céus limpos estendem-se sobre Moura, Mourão, Vidigueira, Barrancos, Serpa, Viana de Alentejo ou Reguengos de Monsaraz, do lado português, e chegam até Olivença, Alconchel, Cheles e Villanueva del Fresno, em Espanha. Trata-se de um balcão privilegiado que permite percorrer a Via Láctea sem telescópios porque tem três vantagens essenciais: pouca poluição lumínica, alto contraste e transparência.

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