Diário do Alentejo

Marta Guerreiro: Celebração da comunidade "em formato de baile"

17 de maio 2019 - 09:35

Texto José Serrano

 

Licenciada em Animação Sociocultural pela Escola Superior de Educação de Beja, Marta Guerreiro desenvolveu projetos em contextos sociais desfavorecidos, recorrendo à dança como ferramenta de trabalho. Posteriormente dedicou-se à área cultural como produtora e programadora na associação PédeXumbo – Associação para a Promoção da Música e da Dança, onde tem desenvolvido competências enquanto monitora de danças tradicionais. É pós-graduada em Contextos Educativos pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa. Atualmente coordena a PédeXumbo.

Foi apresentado ao público, na semana passada, em Odemira, o filme “Da Terra ao Céu”. O documentário, produzido pela PédeXumbo e realizado por Pedro Grenha e Rui Cacilhas, foi filmado durante o ano de 2018 em várias localidades do concelho daquela vila do litoral alentejano e tem como núcleo principal do desenvolvimento da ação uma antiga tradição regional do concelho de Odemira.

 

De que forma surgiu a ideia de realizar este filme documental sobre a tradição dos mastros em Odemira? 

Em 2017 a PédeXumbo iniciou o projeto “A ciência de um baile de mastro”, dedicado à dança das fitas que se faz à volta de um mastro móvel. Este projeto permitiu-nos acompanhar os preparativos para o Festival de Mastros de São Teotónio e apercebermo-nos da força e motivação da comunidade local para esta prática cultural. Surge assim uma vontade de investigar sobre esta tradição e documentar o material recolhido. O filme é, assim, o resultado de muitas horas de conversa com pessoas de todas as freguesias do concelho de Odemira e do acompanhamento dos processos de preparação de alguns mastros.

 

Como se envolveram as várias comunidades do concelho de Odemira na realização deste projeto?

As pessoas foram incríveis e quando se fala em mastros o sorriso e o brilho nos seus olhos cativa qualquer um. Fomos sempre muito bem recebidos e todos aqueles que contactámos se disponibilizaram para nos ajudar e participar no projeto. Esperamos que, com este filme, todos se sintam valorizados e reconhecidos. Os mastros são feitos por pessoas e pela vontade das mesmas e foi isso que quisemos transmitir no filme.

 

São estas comunidades as personagens principais deste filme?

Sem dúvida. Sem elas não teríamos conseguido realizar o filme. O que nos encanta nos mastros é também esta forte componente comunitária para a celebração, em formato de baile. E como o fazem de uma forma descomprometida, com grande brio e prazer.

 

Que reação tiveram os “atores”, presentes na exibição, durante a estreia do documentário?

Gostaram muito de se ver e, acima de tudo, realçaram a importância do registo dos mastros. Foi muito bom percebermos que no final do visionamento do filme as pessoas ficaram a conversar sobre o mesmo e a relembrar histórias pessoais.

 

Qual a importância da salvaguarda das tradições e das memórias que lhes estão associadas? 

Para nós a salvaguarda das tradições passa por estar com as comunidades, ouvir, aprender e depois transmitir. O processo de registo das memórias permite-nos fundamentar e criar oficinas de danças, edições, formações, festivais… Dentro das comunidades com quem desenvolvemos os projetos, o que sentimos é que as pessoas se sentem reconhecidas por terem pessoas e uma entidade que as quer ouvir e aprender com elas. E é durante todo o processo, de investigação ou de criação, que sentimos a importância de preservar as identidades.

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