Diário do Alentejo

“A arte e a literacia são fundamentais no processo de construção de um cidadão”

08 de novembro 2025 - 08:00

Três Perguntas a Vítor Encarnação, presidente da assembleia-geral da Assesta – Associação de Escritores do Alentejo

 

A propósito das inscrições para a 3.ª edição do “Prémio Literário e de Ilustração Infantil e Juvenil Assesta/IP2N4-Art”, sobre o tema “O valor da paz na vida individual, na escola, na comunidade e no mundo”, o “Diário do Alentejo” conversou com o presidente da assembleia-geral da Assesta, Vítor Encarnação, sobre as expectativas para esta edição, o objetivo do mote deste concurso e a importância da valorização da arte e da literacia, junto dos mais novos, para uma futura coexistência global mais pacífica. 

 

Texto José Serrano

 

Está a decorrer a terceira edição do “Prémio Literário e de Ilustração Infantil e Juvenil Assesta/IP2N4-Art”, sobre o tema “O valor da paz na vida individual, na escola, na comunidade e no mundo”. Quais as expectativas para esta edição?Este prémio pretende fomentar o gosto pela escrita e pela ilustração, bem como promover, defender e valorizar a língua portuguesa e as artes visuais, incentivando a criação artística, e tem como destinatários os alunos de todos os agrupamentos de escolas, escolas não agrupadas e escolas profissionais dos municípios que integram a Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal). Esta edição integra a modalidade de ilustração, que vem possibilitar a participação de alunos dotados de outras sensibilidades artísticas para além da escrita. Para tal, a Cimbal e a Assesta assinaram um protocolo com a IP2N4-Art, movimento de artistas plásticos do Alentejo. As nossas expectativas são altas e isso deve-se ao facto de ter havido um aumento gradual de participação das escolas ao longo dos dois últimos anos letivos. Para as escolas, o prémio é um desafio e uma ajuda na, cada vez mais difícil, tarefa de formar cidadãos ativos, lúcidos e sensíveis.

 

Valorar a reflexão, familiar e escolar, sobre o valor da paz é o objetivo principal do mote deste concurso?Sim. Essa valorização é fundamental, mas, dramaticamente, já há muito tempo que deixou de ser uma prática pedagógica comum e básica, aceite em qualquer relação de ensino-aprendizagem, e passou a ser entendida como um ato de resistência de quem promove a cultura, a literacia e o conhecimento. É preciso sublinhar, insistir e reforçar para que se possam obter alguns resultados positivos. A reflexão não é o ponto de partida, para lá chegarem os jovens têm de percorrer um caminho de consolidação, cujas etapas incluem necessariamente a capacidade de ler e interpretar. A leitura, de um livro ou da vida, sem interpretação e consequente posicionamento, não serve para nada. Pretende-se por isso que o conceito de paz a ser explorado pelos alunos não se resuma à dicotomia guerra e paz, mas permita que essa tranquilidade e harmonia possam ser encontradas nas relações familiares, nas relações entre pares e na comunidade onde vivem.

 

Como classifica a Assesta a importância da valorização da arte e da literacia, junto dos mais jovens, para uma futura coexistência global mais pacífica?A arte e a literacia são fundamentais no processo e construção de um cidadão. Só a aplicação destes dois conceitos de uma forma consistente e estruturada permite ao ser humano afirmar-se plenamente nas dimensões física, social, cognitiva e emocional. A linguagem, por vezes rasteira, das redes sociais, formata os jovens e retira-lhes a competência de questionar o que está sob a capa das coisas e de ler nas entrelinhas. O discurso curto e básico adormece o pensamento e anula o espírito crítico. Substituir a intolerância pela aceitação da diversidade e o ódio pelo respeito é desígnio de qualquer humanista.

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