Três Perguntas a Manuel Norte Santo, presidente do Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (Cepaal)
A propósito da recente eleição de Manuel Norte Santo como presidente do Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (Cepaal) o “Diário do Alentejo” conversou com o responsável sobre os seus objetivos para o próximo triénio (2025/2027), a qualidade “científica” e os saberes ancestrais no Azeite do Alentejo e os obstáculos que poderão, atualmente, pôr em causa a excelência deste produto.
Texto José Serrano
Quais os objetivos a que se propõe, neste triénio, 2025-2027, do seu mandato?O nosso primeiro grande objetivo continua a ser a promoção da marca Azeite do Alentejo e, por consequência, dar mais relevância e notoriedade às marcas dos nossos associados. Esta região é responsável por mais de 80 por cento da produção nacional, dando ao azeite português um papel central na economia nacional, em particular, pelo peso crescente das exportações cujo valor já ultrapassa os 1,5 mil milhões de euros. Temos a responsabilidade, enquanto setor e enquanto país, de definir mais e melhores estratégias, de reforçar a aposta no investimento em promoção e inovação, de criar uma marca única para agregar e potenciar a visibilidade do azeite português, de contribuir para a criação de quadros legais e regulamentares modernos e inteligentes e de criar condições para que Portugal consolide e amplie todo o potencial económico, social, turístico e cultural que o seu azeite apresenta. O Cepaal pretende ser um agente ativo e dinamizador neste novo panorama. Acreditamos que todas as associações do sector devem unir esforços e trabalhar em prol da promoção do Azeite de Portugal como uma grande “marca chapéu”.
O Azeite do Alentejo é, hoje, um produto essencialmente “científico” ou continua a apresentar nas suas qualidades o cunho de saberes ancestrais?Grande parte do Azeite do Alentejo, atualmente, é proveniente dos mais modernos e inovadores processos produtivos, sendo um exemplo a nível mundial. Um reflexo disso mesmo é o facto de possuímos uma das melhores percentagens de produção de azeite virgem extra do mundo. Portanto, os processos de produção atuais resultam muito da investigação e inovação tecnológica, em prol da qualidade, rentabilidade e sustentabilidade. Contudo, o Azeite do Alentejo mantém uma forte ligação com os saberes ancestrais, refletindo tradições e formas de produção transmitidas ao longo de gerações. Também temos variedades de azeitonas muito especiais, com características únicas, que resultam num azeite distinto e exclusivo. Como tal, o Azeite do Alentejo combina a nossa herança cultural e artesanal a um conhecimento científico atualizado, garantindo sempre a sua autenticidade, mas também a sua inovação.
Que obstáculos poderão, atualmente, pôr em causa a excelência deste produto, de grande visibilidade nacional e internacional?Existem vários obstáculos, de contexto interno e externo, nomeadamente: as mudanças climáticas, que, cada vez mais, têm impacto na imprevisibilidade das produções anuais e na propagação de pragas e doenças; a instabilidade geopolítica, que causa muitas incertezas nas políticas dos países consumidores (exemplo: as tarifas dos Estados Unidos da América) e produtores; desafios na sustentabilidade – práticas agrícolas não sustentáveis podem comprometer a qualidade e a preservação das áreas de produção; o aumento da concorrência – cada vez mais temos novos países produtores que procuram conquistar nichos de mercado.