A preocupação originada pela persistência da língua azul e o recorrente aparecimento de novos casos da doença, na zona do “Campo Branco”, esteve na base de um encontro entre representantes de várias entidades, com o objetivo de se preconizarem medidas de combate à febre catarral ovina, nomeadamente, ao serotipo 3, vírus que se tem vindo a manifestar “particularmente agressivo” na região.
Texto José Serrano
Devido à reincidência de febre catarral ovina, nomeadamente, nos concelhos de Ourique, Almodôvar e Castro Verde, que tem levado à morbilidade e mortalidade de animais jovens e adultos, os veterinários do Agrupamento de Defesa Sanitária (ADS) do “Campo Branco” reuniram-se, recentemente, com técnicos do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (Iniav) e do laboratório que produz a vacina, administrada, desde abril, a cerca de 80 por cento dos ovinos do território.
Ana Rita Simões, coordenadora do referido ADS, sublinhando o facto de a doença, também designada por língua azul, que se encontra “muito infetante”, continuar a persistir, verificando-se, neste momento, as condições de humidade e temperatura ideais para a sua “progressão e dispersão”, informou o “Diário do Alentejo” que, no encontro, foi colocada, entre outras, a questão da alegada ineficácia da vacina. “O que nos foi dito é que esta vacina, criada para dar resposta à situação que existia, já em 2023 – com o aparecimento do serotipo 3 –, e que persiste, se encontra ainda em estudo”, verificando-se que a sua administração diminui a viremia, ou seja, a quantidade de vírus que circula no sangue do animal, “mas não os elimina na totalidade”, reduzindo, efetivamente, a mortalidade em rebanhos vacinados, mas não evitando, na totalidade, o surgimento de animais doentes.
“Uma vez que tivemos tão boas experiências no passado, com o serotipo 1 e 4, tínhamos nós, médicos veterinários, uma grande expectativa nesta vacinação [serotipo 3], mas, efetivamente, verifica-se que esta não é uma vacina que nos dê a completa segurança de termos os animais protegidos”, adianta a veterinária, defendendo esta afirmação pelo “contínuo aparecimento de animais doentes”, com surtos de doença, que começaram no início de setembro, a continuar a verificar-se nas explorações. “Este é um vírus particularmente agressivo, todos os dias recebemos novas notificações de produtores. É raro o rebanho que vejamos completamente são. Continuamos a ter três, quatro, cinco animais que vão surgindo com sintomas e temos aqui explorações, com ‘enfermarias’ cheias, com 60/70 animais doentes num rebanho de 300/400 ovelhas. A doença está muito instalada aqui – esta é a constatação”.
Informando que a situação, para além do acompanhamento da ADS, tem vindo a ser seguida pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), Ana Rita Simões sublinha a preocupação existente – “Todos os dias temos vindo a processar informação de Ourique, Almodôvar e Castro Verde, sendo que nesta semana já começámos a notificar dados de Aljustrel” – e revela que estão a ser avaliadas as medidas a ser tomadas. Uma das possibilidades em aberto é o reforço da imunidade através da administração de uma segunda dose da vacina, o que será, “sempre, decidido pelo médico veterinário”, diz a responsável da ADS. “Esta questão, de ser dada ou não, uma segunda aplicação de vacina depende muito da avaliação do médico assistente da exploração, perante o conjunto de animais que tem à sua vista”, uma vez que em animais “extremamente imunodeprimidos”, sem capacidade para reagir à vacina, não será, porventura, aconselhável aplicar uma segunda dose da mesma. “Há que avaliar, situação a situação, a decisão não pode ser tomada de uma forma generalista”, acrescenta.
A médica veterinária revela, ainda, que está a ser preparado um encontro com os produtores de ovinos do território – “Não temos a data ainda bem definida, mas queremos que essa reunião ocorra ainda durante este mês” –, de forma a serem informados das hipotéticas medidas que, no combate à doença, podem vir a ser tomadas.