Diário do Alentejo

“A intervenção da CPCJ tem lugar quando a atuação das entidades de primeira linha não consegue remover o perigo”

18 de outubro 2025 - 08:00
Três Perguntas a Teresa Carapeto, presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Beja

A propósito da recente eleição de Teresa Carapeto como presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Beja, até 2028, o “Diário do Alentejo” conversou com a  nossa responsável sobre os seus objetivos para o próximo triénio, as situações no concelho que mais preocupam a entidade e a sua perceção quanto ao paradigma atual da intervenção da CPCJ.

 

Texto José Serrano

 

Foi eleita, recentemente, como nova presidente da CPCJ de Beja, até 2028. Quais os seus principais objetivos para o próximo triénio?

As minhas principais prioridades são, igualmente, as prioridades de todos os comissários que compõem a CPCJ de Beja. A primeira prioridade é a defesa dos direitos das crianças e jovens, promovendo a sua proteção; a segunda prioridade tem a ver com a prevenção e intervenção, ou seja, a CPCJ atua para prevenir ou pôr fim a situações que afetam o desenvolvimento das crianças e jovens; a terceira prioridade é o trabalho em rede, pois esta missão é uma causa nobre, que requer a participação ativa e o empenho de todos os agentes que intervêm nesta área e na comunidade.

 

No âmbito da promoção dos direitos da criança e do jovem e da prevenção de situações suscetíveis de afetar a sua segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento, quais as situações, referentes ao concelho de Beja, que mais a preocupam?

A intervenção da CPCJ tem lugar quando a atuação das entidades de primeira linha não consegue remover o perigo. A ausência de respostas que alterem a vida das famílias não permitem às entidades dar a resposta necessária. As carências económicas, habitacionais, bem como a desestruturação das famílias, afetam o desenvolvimento das crianças, pelo que a escola representa pouco para as mesmas. Existem lacunas na área da educação parental, da terapia familiar e das atividades culturais e recreativas, para jovens a partir dos 12 anos, no concelho de Beja. Os problemas de saúde mental (ansiedade/depressão/transtornos alimentares/fobia social), os problemas escolares e comportamentais impelem a comunidade e os pais  a canalizarem o seu foco  para a saúde mental e orientação parental. As crianças e jovens precisam de desenvolver resiliência às “frustrações” e os pais a saber como lidar com as “cobranças”.

 

Observa que, nos últimos anos, o paradigma de situações que podem levar a uma intervenção da CPCJ se mantém ou as circunstâncias revelam-se hoje outras?

Nos últimos três anos constatámos um aumento das situações de violência doméstica, negligência e absentismo/abandono escolar, que permanecem no topo das problemáticas. Aparece, também, um número preocupante de comportamentos antissociais graves, em contexto escolar, tornando a relação entre os jovens e destes para com a comunidade ausente de empatia e solidariedade.

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