Contratação de mais médicos e possibilidade de “fazer um ajustamento do valor/hora” são algumas das medidas que estão a ser avaliadas pela Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo para mitigar a falta de profissionais nos serviços de urgência básica (SUB).
Texto | Nélia PedrosaFoto | Ricardo Zambujo
O presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba), José Carlos Queimado, garante que a entidade está a tentar encontrar respostas para evitar encerramentos do serviço de urgência básica (SUB) de Moura, nomeadamente, a contratação de mais médicos – “o que não é fácil” – e a possibilidade de “fazer um ajustamento do valor/hora” concedido aos clínicos, tanto do SUB de Moura como do de Castro Verde. Recorde-se que no passado dia 13 o SUB de Moura esteve encerrado durante 24 horas.
Em comunicado de imprensa enviado ao “Diário do Alentejo” (“DA”) na ocasião, o presidente da câmara municipal, Álvaro Azedo, avançava que tem, “de forma persistente e em todas as instâncias possíveis, reivindicado junto do presidente do conselho de administração da Ulsba a manutenção do funcionamento do SUB” e adiantava que não podia, “em circunstância alguma aceitar que este encerramento se torne um novo normal, colocando em risco a segurança e a tranquilidade da nossa população e de todos quantos nos visitam”. Entretanto, no dia 15, o autarca reuniu-se com o presidente do conselho de administração da Ulsba, “no sentido de ser apresentada uma proposta do município para mitigação das faltas dos profissionais afetos do SUB de Moura”.
“O presidente da câmara manifestou a disponibilidade, da parte da autarquia, de poder colaborar, de forma adicional, para conseguirmos atrair mais médicos. Porque é disso que trata. Nós não temos médicos. E o número de médicos disponível para fazer este serviço, sobretudo, em Moura, é praticamente o mesmo há vários anos. Portanto estamos a avaliar essas propostas. O que aconteceu de novo neste ano [no SUB de Moura] é que reformaram-se dois médicos, praticamente os únicos dois do centro de saúde que faziam, por opção própria, escala no SUB, e tendo eles saído ficaram mais turnos por preencher. Tem havido uma dificuldade crescente, mas com alguma ginástica tem-se conseguido, [contudo] naquele dia não se conseguiu”, justifica José Carlos Queimado ao “DA”, frisando que “neste momento a escala do SUB de Moura é 100 por cento assegurada por prestadores de serviços, o que coloca um problema adicional”, devido à natureza do acordo. No caso da escala do SUB de Castro Verde, “em larga medida é preenchida por profissionais da Ulsba, sendo que a dependência de prestadores é muito menor”.
No entanto, “não se conseguindo” evitar o encerramento, frisa o responsável, a “preocupação número um – como explico sempre aos presidentes de câmara – é ter o serviço de urgência do hospital de Beja sempre a funcionar e, felizmente, temo-lo conseguido”. O presidente do conselho de administração da Ulsba frisa, contudo, que até ao referido encerramento de 24 horas do SUB de Moura no passado dia 13, “em quase 5000 horas que tínhamos de estar abertos, só não estivemos, nos dois SUB [Moura e Castro Verde], 72 horas”, pelo que “expressões como fecho recorrente e prolongado” são “factualmente erradas”.
Em declarações ao “DA”, Álvaro Azedo reforça que a câmara municipal será “sempre parte da solução”.
O presidente da Câmara de Castro Verde, António José Brito, por sua vez, refere que “até aos primeiros nove meses do ano” a situação no SUB “tem sido relativamente estável”, porque “tem havido capacidade de articulação e mobilização de médicos por parte da direção do centro de saúde e dos serviços de urgência”, sendo que a autarquia “também tem procurado dar um forte apoio”, nomeadamente, “assegurando o transporte de médicos e o pagamento de alguns alojamentos”.
Entretanto, em nota de imprensa enviada ao “DA”, o deputado do PS eleito pelo círculo de Beja, Pedro do Carmo, avança que questionou a ministra da Saúde sobre “os sucessivos e prolongados encerramentos das urgências hospitalares genéricas e de especialidade nos serviços de urgência básica (SUB) de Moura e de Castro Verde, bem como no Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja”. Na nota, o parlamentar refere que durante a audição da ministra Ana Paula Martins, na Comissão de Saúde da passada semana, recordou “que o Governo da AD criou a expectativa na população de que, com o Plano de Emergência na Saúde, ‘rapidamente e em 60 dias’ deixaríamos de ter urgências encerradas”, sendo que “no Baixo Alentejo passa-se precisamente o contrário”. “Salientando que, neste distrito, o utente pode demorar uma hora a deslocar-se até uma SUB”, Pedro do Carmo “frisou que nem tudo estava bem no passado, mas hoje a situação piorou”.De acordo com o comunicado, “a ministra da Saúde não respondeu ao deputado do Partido Socialista, remetendo a questão para a próxima audição”.
Obras nos centros de saúdede Moura e Castro Verde avançam
Os serviços do Centro de Saúde de Moura deverão ser transferidos no início do mês de outubro para o edifício municipal da Lógica, situado no parque tecnológico, onde funcionarão durante o decorrer das obras de requalificação e ampliação da unidade de saúde, orçadas em 1,5 milhões de euros. De acordo com o presidente da câmara, Álvaro Azedo, no decorrer de uma visita na segunda-feira às instalações provisórias, que contou com a presença do presidente do conselho de administração da Ulsba, José Carlos Queimado, e da direção do centro de saúde, a autarquia deu conhecimento aos responsáveis dos serviços de saúde “do serviço de transporte dedicado para as deslocações de e para o centro de saúde por parte dos utentes e munícipes”. Na semana passada, o executivo da Câmara de Castro Verde também se reuniu com o conselho de administração da Ulsba e com a direção do centro de saúde, cujo concurso de empreitada de requalificação tem um valor de 2,2 milhões de euros. Segundo o presidente da autarquia, António José Brito, “já existe um concorrente identificado para fazer a respetiva empreitada”, sendo que agora se seguirá “o cumprimento dos respetivos prazos legais para procedermos à assinatura do contrato e à posterior consignação da obra”. O autarca adianta, ainda, que a câmara já reservou o pavilhão dos bombeiros voluntários “para a eventualidade de acolher, provisoriamente, o centro de saúde ou o SUB”, instalações essas que foram visitadas no decorrer da referida reunião.
Processo de requalificação do hospital de Beja“está a seguir curso normal”
O presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) espera que “o concurso internacional de arquitetura e especialidades” referente ao projeto de ampliação e requalificação do Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja, possa ser publicado até ao final do corrente ano. Segundo José Carlos Queimado, o processo “está a seguir o seu curso normal, tendo sido designado, em junho, um júri, com elementos da Ulsba e das entidades do Ministério da Saúde, para o procedimento concursal”.