António Chaínho
74 anos, natural de Azinheira de Barros, Grândola
Professor. Entre outras, desempenhou as funções de diretor da Escola Profissional Desenvolvimento Rural de Grândola, de vice-presidente da Associação Portuguesa das Escolas Profissionais Agrícolas, de vereador da Câmara de Grândola, de presidente da Assembleia Municipal de Grândola. Agraciado com a “Medalha de Ouro de Mérito Municipal” (Grândola), tem vários livros publicados.
António Chaínho apresentou, recentemente, em Grândola, o mais recente livro de sua autoria, intitulado A Papoila Dos Arrozais.
Como nos apresenta este seu livro?
O meu livro procura reconhecer a importância da transformação, entre 1925 e os anos Setenta, que os ingleses operaram na região de Grândola, socialmente, substituindo cabanas por casas, criando escolas, cantinas, posto médico. Nos arrozais do Sado, fazendo com que as lavras deixassem de ser terrenos improdutivos e alagados, sem significado económico-social, e evidenciando o papel das mulheres – as heroínas dos arrozais – na sociedade e nas comunidades de Comporta e Carvalhal, em particular.
De que forma se documentou para escrever este romance de época?
Vivi, na meninice, o ambiente do cultivo do arroz e, posteriormente, todo o meu percurso académico acompanhou o estudo desta cultura. Atualmente, ao decidir escrever um texto sobre essa temática, e visto que as memórias de criança eram, naturalmente, insuficientes, recorri (como conheço muitos naturais da zona) a abordagens sobre o que era a vida nas lavras nesses tempos. Três cidadãos, em particular, senhores de um conhecimento profundo da vida dura nos terrenos pantanosos do arroz e da maneira de estar dos ingleses na gestão desse território, foram as peças-chave para conceber este livro.
Considera ter ficado nos grandolenses alguma dinâmica dos tempos da permanência dos ingleses no território?
Os ingleses deixaram uma imagem positiva, dada a mentalidade, moderna para a época, como viam a técnica agrícola – introduziram a fábrica de descasque do arroz (que hoje é um restaurante) e mecanizaram, na medida do possível, toda a atividade agrícola. Introduziram, também, uma postura mais humanista nas relações, criando infraestruturas que dignificaram, paulatinamente, a condição do trabalhador agrícola.
Considera que, de alguma forma, a Herdade da Comporta representa hoje o paradigma de um regresso da atratividade da região além-fronteiras?
Do meu ponto de vista, pelas piores razões. Se no passado o trabalho braçal no domínio da agricultura era penoso e mal pago, atualmente, verifica-se, de novo, um trabalho igualmente braçal e penoso, mas na área da construção imobiliária. O desenvolvimento turístico deveria ter evoluído mais ordenadamente, rumo a um desenvolvimento equilibrado do território. Hoje, os naturais vêm-se na necessidade de sair das suas terras para procurar Grândola, Alcácer do Sal e outros locais para viver.
O que mais deseja que o leitor encontre ao ler esta sua obra?
Que se apercebessem que os sentimentos humanos ultrapassam condições sociais e materiais. Isso encontra-se nas relações de solidariedade entre os trabalhadores do arroz, na relação amorosa entre o filho do administrador inglês e a rapariga mondina, no comportamento da madame para com a criadagem e nos pequenos detalhes do quotidiano dos homens e mulheres das “contratas”. Se o leitor não for demasiado frio nas apreciações, é capaz de se emocionar…
José Serrano