Diário do Alentejo

A necessidade de se contar a “história do regime que cerceou as liberdades”

13 de julho 2025 - 08:00
Novo livro de Manuel Camacho tem palco nos tempos da ditadura

Manuel Camacho, 69 anos, natural de Aljustrel

 

Formado em Engenharia Eletrotécnica e mestre em Engenharia do Ambiente, tem dividido a sua atividade profissional, enquanto autarca, entre Aljustrel e Beja, tendo desempenhado cargos ligados à administração local, com destaque para o associativismo autárquico. Atualmente é assessor de uma microempresa na área de estudos e projetos ambientais, preside à direção da Associação de Defesa do Património – Do Fundo à Superfície e é membro da Assesta – Associação de Escritores do Alentejo.

 

Manuel Camacho apresentou, recentemente, na Biblioteca Municipal de Beja José Saramago, no âmbito das comemorações do 151.º aniversário deste equipamento, o seu mais recente livro, intitulado O Vale da Esperança.

 

Como nos apresenta este romance?

Este romance está entrosado com acontecimentos reais, ocorridos no passado, e uma natural narrativa inventada, assente nos percursos de dois irmãos que, por força das vicissitudes, se viram apartados, trilhando, naturalmente, caminhadas de vida contrastantes.

 

Auxiliou-se de histórias próximas a si para a construção desta obra ou a trama é pura ficção?

Os protagonistas são pessoas comuns, nesta história, e têm, todos eles, perfis que se identificam com o período temporal escolhido (cinquenta anos antes do 25 de Abril de 1974). Contudo, os mesmos não são decalcados de personagens reais, tendo, porventura, similitudes comportamentais com algumas que se enquadram na época em questão.

 

Pretende este livro, de alguma forma, reavivar-nos a memória acerca do que foi viver em ditadura?

Certamente. O propósito do mesmo é preservar a memória coletiva no País, com especial incidência em Aljustrel, pois as situações ali vividas, naquele reduto, aparte o ambiente mineiro muito particular, foram o traço comum do pulsar de Portugal, na ditadura então vigente.

 

Considera que a literatura tem conseguido transmitir, às gerações pós 25 de Abril, o que significou, para a maioria dos portugueses, esse período da história do País?

Julgo que não. E nos últimos tempos tem havido um esforço redobrado, por parte das forças mais conservadoras, na procura do branqueamento do fascismo e de todos os bloqueios que contribuíram para o nosso atraso ancestral. Por outro lado, o nosso ensino peca pela sistemática ocultação da história anterior ao 25 de Abril. Felizmente, têm surgido algumas iniciativas que têm no sentido inverso, contando a verdadeira história do regime que cerceou as liberdades durante 50 anos.

 

O que mais gostaria que este livro transmitisse aos seus leitores?

A grande mensagem que eu quis deixar neste livro é que há sempre, em todos os homens, apesar das circunstâncias que atravessam nas suas existências, um espaço de superação, que radica das suas próprias vontades, pois eles são os principais artífices para uma plena esperança.

Texto | José Serrano

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