Diário do Alentejo

Incêndios: falta de meios aéreos “é transversal a vários governos”

27 de junho 2025 - 08:00
Inexistência de helicópteros ligeiros no distrito de Beja para combate a fogos “é muito preocupante”, diz federação dos bombeiros
Foto | CM MouraFoto | CM Moura

O presidente da Federação das Associações de Bombeiros do Distrito de Beja afirma que helicópteros bombardeiros ligeiros “são imprescindíveis para uma primeira abordagem ao combate aos incêndios” e frisa que a falta destes meios no distrito de Beja é ainda mais preocupante considerando que, por exemplo, “o pasto eclodiu de uma forma tremenda, uma vez que tivemos um ano extremamente chuvoso”.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

A falta de meios aéreos para combate aos incêndios rurais nos concelhos de Moura e Ourique é “muito preocupante”, afirma o presidente da Federação das Associações de Bombeiros do Distrito de Beja. Em declarações ao “Diário do Alentejo” (“DA”), Domingos Fabela lamenta, ainda, que, “mais uma vez, o Baixo Alentejo, principalmente, a nossa região, esteja” desprovido de “meios imprescindíveis no combate a incêndios”, uma situação que se deve “a vários fatores, que se têm agudizado ao longo dos anos, e que é transversal até a vários governos”, nomeadamente, “a questão da morosidade dos concursos”. “Há uma série de procedimentos [e] já deveríamos ter aprendido, ao longo destes anos, a forma de ultrapassar certos e determinados problemas e, atempadamente, fazermos as coisas. Não tem sido assim, e chegamos, mais uma vez, a 2025, com o Baixo Alentejo sem meios, no nosso entender, imprescindíveis”, acrescenta.

Recorde-se que, conforme noticiou o “DA” na edição passada, a colocação de dois helicópteros bombardeiros ligeiros nos centros de meios aéreos (CMA) dos referidos concelhos estava prevista para o dia 1 deste mês, no âmbito do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (Decir) de 2025. O atraso, segundo a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (Anepc), deve-se ao facto de o concurso ter ficado deserto. E adiantava que, “tão breve quanto possível”, a Força Aérea (FAP) iria “abrir novo concurso”.

O presidente da Federação das Associações de Bombeiros do Distrito de Beja reforça que os helicópteros ligeiros “são imprescindíveis para uma primeira abordagem ao combate aos incêndios”, uma “mais-valia”, porque “o ataque inicial é sempre aquele que se reflete de maior importância, na medida em que pode, de uma forma rápida, acabar por debelar o fogo, não havendo propagação”, “apesar de termos os nossos homens e mulheres preparadíssimos para fazerem o seu trabalho naquilo que lhes compete”. Essa intervenção dos meios aéreos ligeiros, adianta, “traz, também, uma maior segurança e uma maior tranquilidade, sendo que, no dia a dia, os nossos bombeiros e bombeiras, quando olham para cima e veem os meios aéreos a trabalhar, se sentem com outro tipo de proteção e sentem que podem, mais rapidamente, acabar com qualquer tipo de incêndio que esteja a ocorrer”.

Domingos Fabela sublinha que a situação é ainda mais preocupante, considerando que, por um lado, “o pasto eclodiu de uma forma tremenda, uma vez que tivemos um ano extremamente chuvoso”, e, por outro, “privados e até entidades públicas também não cumpriram, se calhar, a sua parte de limpeza dos terrenos de forma a dar um contributo enorme para que não haja deflagrações”. No entanto, o responsável adianta que em termos de ocorrências têm-se registado “muitos pequenos incêndios”, numa situação “não muito diferente de outros anos”, apesar de “já terem ardido cento e tal hectares na região de Serpa e de o [incêndio] de Vidigueira também ter tido alguma dimensão”. Domingos Fabela espera, assim, que a situação se resolva “o mais rapidamente” possível.

Contactado também pelo “DA”, o comandante sub-regional de Emergência e Proteção Civil do Baixo Alentejo, Carlos Pica, afirma que a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, “enquanto aguarda o resultado do novo processo de contratualização de meios aéreos, por parte da FAP, encontra-se a trabalhar no reposicionamento dos meios aéreos existentes e possíveis de serem alocados aos CMA com meios aéreos em falta”.

No sábado passado, numa resposta à “Lusa”, a FAP referia que “a responsabilidade da Força Aérea cinge-se ao processo de contratação dos meios aéreos, sendo a localização do seu emprego definida pela Anecp”.

 

PS considera “inaceitável” falta de meios; PSD acusa socialistas de “lançar pânico”

 

Entretanto, no final da semana passada, em comunicado enviado ao “DA”, a Federação do Baixo Alentejo do PS, liderada por Nelson Brito, considera “inaceitável que 13 concelhos do distrito, que estão sob a alçada do Comando Sub- -regional de Emergência e Proteção Civil do Baixo Alentejo, não disponham destes dois meios aéreos para o combate inicial aos incêndios”, e frisa que “as preocupações adensam-se”, tendo em conta “o número de hectares já consumidos pelas chamas” no distrito de Beja, “632, num total de 96 incêndios rurais”, “números muito superiores ao período homólogo de 2024, sendo que a área ardida é superior em 46 por cento e o número de ignições supera em 33 por cento”.

Os socialistas referem, ainda, que “as corporações de bombeiros sentem a falta de apoio dos meios aéreos no combate às chamas” e manifestam o seu apoio a “todas as ações dos seus autarcas com vista a exigir a imediata resolução deste problema”.

Já o deputado do PSD eleito pelo círculo de Beja, em nota de imprensa enviada na segunda-feira, acusa o PS de “lançar o pânico nas pessoas para criar sensações de insegurança e de falta de proteção das comunidades ao dizer que os meios aéreos ligeiros de combate a incêndios localizados em Ourique e Moura foram para outro lado”. “Por que não questionaram publicamente em 2019, 2020 e em 2023 os governos socialistas por situação semelhante (falta de meios aéreos)”, questiona ainda Gonçalo Valente, adiantando que o PS “sabe que existem dois meios pesados em Beja [aviões bombardeiros médios estacionados na Base Área n.º 11], logo, a região não ficou sem meios de combate aéreos, ficou, [sim], provisoriamente sem o combate inicial por aeronaves ligeiras”. E deu ainda o exemplo do incêndio que deflagrou na segunda-feira, em Vidigueira, em que “estavam seis meios aéreos a combater”. “Independentemente do local onde estejam, quando são previsos aparecem em virtude dos trabalhos em rede”.

Ainda assim, Gonçalo Valente diz-se “efetivamente preocupado”, porque falta a “primeira intervenção”, e garante que está a acompanhar a situação “de muito perto” e a fazer tudo o que está ao seu alcance “para sensibilizar as instâncias competentes a acelerar uma solução provisória até que o novo concurso”, já autorizado pelo Governo, “cumpra os seus trâmites normais e legais”.

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