Diário do Alentejo

“Trataram-nos como os artistas mais conceituados do mundo”

24 de maio 2025 - 08:00
Público japonês rendido à emoção do cante alentejano, em Osaka
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Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento

 

Trajando o fato “domingueiro” ou de “noivo” que se usava na região no início do século XIX têm-se apresentado em emblemáticas salas de espetáculos de Portugal e de vários outros países como Espanha, França, Bélgica, Alemanha, Brasil, Estados Unidos da América e China. Com dois CD editados, o mais recente atingiu o galardão “platina”. A convite de António Zambujo atuaram, em 2022, no Rock in Rio Lisboa, e, em 2023, com Buba Espinho, nas Jornadas Mundiais da Juventude, na presença do Papa Francisco. O “Diário do Alentejo” falou com António Silva, diretor da comissão técnica do grupo. 

 

A convite da Entidade Regional de Turismo do Alentejo, o Rancho de Cantadores da Aldeia Nova de São Bento esteve presente, na passada semana, na Expo Mundial Osaka 2025, que decorre no Japão até outubro.

 

Levar o cante alentejano ao outro “lado do mundo” terá sido uma experiência extraordinária…O rancho já teve passagens por muitos países, mas o Japão, pela sua cultura, foi uma experiência diferente. Encontrámos um povo exemplar em educação e comportamento cívico – estivemos lá cinco dias e não vimos um único papelinho no chão –, acabam de ver um espetáculo e quando saem o local fica mais limpo, se era possível, do que quando lá chegaram.

 

Qual a reação do público nipónico ao escutarem cante?Tivemos quatro concertos de rua por dia, dois de manhã e dois à tarde. De todas as vezes que atuámos o público ouviu-nos com extrema atenção, respeitosamente, em silêncio absoluto. Uma senhora japonesa, já de idade, que assistiu a uma das nossas atuações, voltou com a família, no dia seguinte, e ofereceu-nos vários quadros pintados por ela – grata por ter conhecido a nossa música.

 

Mais uma prova de que a música é uma linguagem universal…Cantarmos num país em que a língua é completamente diferente cria alguma ansiedade, mas ficou ali provado, que a música é uma linguagem universal, que ultrapassa barreiras e em que as palavras passam a ter uma importância secundária. Os japoneses ficaram maravilhados com a nossa tradição musical, tal foi a emoção que foi transmitida pelo cante. Isso encheu-nos de orgulho e regressámos de coração cheio.

Qual a importância para o cante desta participação no Japão?Levámos, sobretudo, a mais motivada intenção de lhes dar a entender o que é o cante. Acho, muito sinceramente, que esse objetivo foi conseguido. Pelo que vi, tenho a certeza de que haverá pessoas que ali nos ouvirão que, se um dia vierem a Portugal, procurarão ouvir cante. Não sei é se irão conseguir – as agências de viagem podiam contactar as câmaras municipais, as juntas de freguesia, os próprios grupos corais para conseguirem proporcionar umas horas de cante aos turistas que o pretendam escutar. E deixámos lá um bom cartão-de-visita e portas abertas para outros grupos.

 

No dia 11 o rancho atuou com António Zambujo, parceria que se regista desde há anos. Esta foi uma especial atuação conjunta?Foi uma atuação inesquecível, com uma aceitação extraordinária.

 

O que trouxeram de Osaka para a “aldeia”?O Japão é, de facto, um país diferente. Viemos muito sensibilizados com a humildade e a educação do seu povo. Várias vezes cantámos espontaneamente nos restaurantes, como costumamos fazer. E quando saíamos os empregados de mesa e o pessoal da cozinha despediam-se de nós, à porta, com vénias. Trataram-nos como os artistas mais conceituados do mundo. Foi incrível. José Serrano

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