Texto | José Serrano
Jorge Castanho, 63 anos, natural de Beja
Professor, vive e trabalha em Lisboa. É doutorado em Desenho pela Universidade de Sevilha. Durante a década de 1990 foi diretor artístico de diversos projetos de arte contemporânea em Beja. Foi bolseiro do Ministério da Cultura de Portugal, na Universidade de Sevilha e bolseiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, na Universidade de Lisboa.
Recentemente inaugurada no Centro de Arqueologia e Artes de Beja, “Terra” é o título da exposição, da autoria do artista plástico Jorge Castanho, que pode ser visitada até dia 2 de agosto.
Com mais de 500 obras em exibição representa esta mostra o sopro cultural maior da sua criação? Sem pensar na dimensão, conseguimos encontrar um ponto de partida, no ano de 2007, quando iniciei um projeto de criaturas bio, dando continuidade, para as representar, à tecnologia que estava a usar na Universidade de Sevilha – a modelação com gráficos 3D por computador. A partir daí estendemos o fio até aos dias que correm. Quem já viu crescer um novelo sabe que numa linha se entrelaçam todos os fios e que todos eles terão função no rolo que se vai dobando. Poderíamos ter feito um projeto em escala maior, mas usámos apenas parte do que fazia mais sentido.
Quais os pontos de contacto entre os vários “temas” deste acervo exibicional? O pensamento é o ponto que equilibra toda a obra e o modo de o expressar surge do desenho. O ato de fazer é muito importante e é exercido com todo o corpo. As mãos estão sempre por perto e vão à procura do que há para dizer.
Existe na génese das suas obras um anterior exercício de reflexão ou as mesmas são talhadas num impulso, permitindo-lhe apenas depois de construídas essa reflexão? O meu trabalho é um exercício constante, os impulsos também pertencem ao caminho continuado, embora sejam gestos soltos, como nós que tensam a corda. Nunca há um propósito imediato, leio e estudo desinteressadamente as coisas, depois a obra surge de forma natural.
Expor na sua terra revela-se-lhe especial? Com a acelerada globalização, a reserva da especificidade regional é cada vez mais um vigor de resistência cultural. Desde há 40 anos que possuo um ateliê em Beja e, mesmo na última prolongada ausência, sempre fiz questão de preservar um centro para recolher nele a força necessária. Podemos perceber isto observando as várias obras expostas, por exemplo, as que fazem a abordagem ao tempo político, à crise ecológica e aos ensaios de condicionamento da liberdade. O tecido social de Beja modelou-me a personalidade e entregou-me um segredo como a sua melhor ferramenta – a possibilidade do exercício da coragem.
Que objetivos gostaria que esta sua exposição cumprisse? Tenho sempre em construção um percurso com arroios novos, embora a maior parte dos percursos que fiz, e que aqui se mostram, estejam encerrados, deixei de estar frente a frente com eles. Crio coisas, não a sua representação, e a juventude é quem melhor poderá perceber os diálogos com a vida. Se por aqui passar é o suficiente para não deixar cair a esperança de manter a atenção sobre o outro lado da realidade.