A Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, em conjunto com empresas e associações agrícolas e sociais, deslocou-se a Cartaya, em Espanha, para conhecer in loco um modelo de integração laboral de migrantes passível de ser replicado na região. O “exemplo” apresentado permite minimizar o número de contratações ilegais, assim como promover uma “imigração circular” com base na sazonalidade das campanhas agrícolas.
Texto | Ana Filipa Sousa de Sousa
Cerca de 20 representantes de empresas e associações agrícolas, autarquias e entidades do setor social reuniram-se recentemente no município espanhol de Cartaya, na província de Huelva, para conhecerem in loco a Residência para Trabalhadores Temporários de Tariquejo.
A visita, promovida pela Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), resultou da vontade dos intervenientes em conhecerem de perto “um dos exemplos” apresentados na última Jornada de Reflexão sobre Migrantes, que decorreu em outubro passado na cidade de Beja.
“O papel da EDIA é, de facto, promover um diálogo aberto entre os diversos intervenientes e, portanto, procurar ou ajudar a encontrar soluções para este desafio que é, de facto, as boas práticas na integração dos migrantes. [Por isso], a EDIA assumiu aqui o papel de facilitadora e promoveu o debate e agora a visita”, começa por explicar, ao “Diário do Alentejo”, a diretora de comunicação da EDIA, Elisabete Barroso.
O modelo apresentado pela Residência para Trabalhadores Temporários de Tariquejo, conforme o gerente da cooperativa, Mário Sanchez, já tinha esclarecido anteriormente, tem como base pequenos e médios produtores que, mediante as necessidades de mão de obra identificadas na região, “vai contratar [imigrantes] na origem”, nomeadamente, a Marrocos e a países da América Latina. Paralelamente, os respetivos trabalhadores, maioritariamente, do sexo feminino, permanecem na residência durante o tempo dos seus contratos laborais, e, findo a campanha agrícola, regressam aos seus países.
Outra das particularidades da cooperativa, conforme referia na ocasião Mário Sanchez, é a possibilidade de formação da língua e dos costumes espanhóis aos trabalhadores migrantes, a existência de “mediadores que dialogam com os trabalhadores na sua língua” e a hipótese de, caso desejem, regressarem no ano seguinte. Além disso, a residência, que é a única “com esta índole na província de Huelva”, promove também formações direcionadas às empresas “para que se consciencializem de que os imigrantes também são pessoas”.
Desta forma, a visita, que decorreu no passado dia 6, serviu para “procurar um exemplo que possa ser acolhido ou que possa ser melhorado para que, eventualmente, seja desenvolvido na região”.
“Temos nesta altura 130 mil hectares de regantes e explorações e temos consciência de que efetivamente há situações que não são reveladoras das melhores práticas de integração de migrantes. Daí assumimos este papel no sentido de podermos, de alguma forma, em conjunto com as diversas entidades, ter um território que consiga receber os migrantes que necessitamos para desenvolver os trabalhos que temos no terreno, em consequência da implementação do regadio, e melhorar a qualidade [de vida] e a integração desses mesmos migrantes na zona de Alqueva”, refere a responsável.
O alojamento fornecido é gratuito e tem capacidade para albergar 724 pessoas.
Ao nível do setor agrícola, a visita contou com representantes da Associação de Agricultores do Baixo Alentejo, da ACOS – Associação de Agricultores do Sul, da Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches, da Associação de Horticultores, Fruticultores e Floricultores do Sudoeste Alentejano, da Olivum – Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal e da Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito.
Por sua vez, estiveram também presentes responsáveis da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo, da Cáritas Diocesana de Beja, da Incubadora de Inovação Social do Baixo Alentejo, da Câmara Municipal de Beja, da Rede Europeia Anti-Pobreza, do Instituto Politécnico de Beja, da Santa Casa da Misericórdia de Beja e da associação Estar.