A Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo é apresentada pelo bastonário da Ordem dos Médicos como exemplo paradigmático da incapacidade das regiões do interior do País em atrair e fixar médicos, considerando que a instituição “está em dificuldades” e “tem de ser ajudada”. Caso contrário, Carlos Cortes teme a possibilidade de se poder vir a observar “uma população sem proteção” no âmbito dos cuidados de saúde.
Texto José Serrano
“Temo que, se nada for feito no hospital de Beja, haja um conjunto de especialidades, de áreas cirúrgicas e médicas, que possa vir a perder, completamente, a sua capacidade de resposta. E seria, obviamente, um desastre. Seria injusto e desumano para as populações do Baixo Alentejo não terem os cuidados de saúde mínimos que possam vir a necessitar”. As declarações são do bastonário da Ordem dos Médicos, sublinhando, uma vez mais, estas suas convicções, desta vez ao “Diário do Alentejo”, tal como o tinha feito junto da Comissão de Saúde da Assembleia da República, numa reunião que decorreu no dia 14, com o objetivo de se analisar a perda de atratividade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para com esta classe profissional, e onde frisou a necessidade de serem colocados médicos nas zonas do interior.
“Quando vou ao Ministério da Saúde, quando vou ao Parlamento, refiro, sistematicamente, a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo [Ulsba] como referência de uma unidade (há outras, obviamente) que está em dificuldades, que tem de ser ajudada, que precisa de apoio institucional, pois parece-me ser o exemplo mais sensível. Felizmente encontrei aí um conjunto de profissionais muito motivados, mas que precisam de ajuda, porque só a boa vontade não é suficiente. Se nada for feito, a médio prazo, eu não tenho dúvidas de que há serviços essenciais do hospital de Beja que podem ter de fechar portas, deixando uma população sem proteção”, adverte Carlos Cortes, acentuando: “O SNS, todos nós sabemos, tem falta de médicos, mas no Alentejo tem uma gritante falta de médicos”.
Para inverter esta situação, que coloca em questão a falta de equidade de prestação de cuidados públicos de saúde no País, o bastonário considera urgente a tomada de decisões assentes “numa discriminação positiva”, capaz de tornar o SNS mais eficaz na sua capacidade de atrair médicos para o interior. “O poder local, (não sei se é o caso de Beja), tem muitas vezes ajudado, particularmente, em suplementos remuneratórios, em facilitar a aquisição de casa e outros serviços. Mas quem acha que a solução passa apenas por uma questão de remuneração está muito enganado. É preciso os médicos terem condições de trabalho para poderem tratar, adequadamente, os seus doentes, boas condições de formação, existirem projetos de investigação e de desenvolvimento em algumas áreas de prestação de cuidados de saúde mais diferenciadas” e, considera, “poderem ter uma flexibilidade de horário menos rígida do que aquela que é, infelizmente, praticada”, atualmente, no SNS.
Com estas advertências públicas o bastonário da Ordem dos Médicos frisa não ser sua intenção “dramatizar a situação”, mas, sim, “alertar o poder político” para a necessidade premente de serem feitos investimentos, “um esforço financeiro que o Ministério da Saúde tem que realizar”, capazes de valorizar a classe médica nas unidades locais de saúde do interior do País. Nomeadamente, aquelas “que fazem a linha fronteiriça”, a exemplo das de Portalegre, Castelo Branco, Guarda, Bragança, referindo Carlos Cortes a de Beja como exemplo paradigmático dessa situação deficitária. “Esta é uma questão que me preocupa muito, pois não pode haver doentes ‘de segunda’. As pessoas aqui são exatamente iguais a todos os outros portugueses, e, portanto, tem de se assegurar um conjunto de valências imprescindíveis para se poder dar resposta às populações”, diz, manifestando-se “perfeitamente disponível” para uma estreita colaboração com a direção da Ulsba na procura de soluções capazes de debelar a questão deficitária de médicos na região.