O centro de emergência social para pessoas vulneráveis instalado em Santa Clara do Louredo está a ser reavaliado pela Câmara de Beja, porque poderá “não ser o caminho mais eficiente e sustentável para a população” em causa.
Texto | Nélia PedrosaFoto | Ricardo Zambujo
A Câmara Municipal de Beja está a reavaliar o funcionamento do centro de emergência social para pessoas vulneráveis instalado, no final do ano passado, num antigo lar do Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora da Luz, na freguesia de Santa Clara do Louredo.
A vereadora Maria João Ganhão, em declarações ao “Diário do Alentejo” (“DA”), adianta que “aquela resposta social foi, de facto, pensada sobre determinados pressupostos e que hoje, tecnicamente, podem não ser o caminho mais eficiente e sustentável para a população mais vulnerável”. “Estamos a reavaliar a resposta e a analisar se é viável ou não. A área social não é estanque. Estamos a falar de fenómenos: o que são hoje, não o são amanhã. E, depois, também temos aqui questões operacionais e em termos logísticos que podem não ser tão operacionais como pensávamos”, nomeadamente, a nível de deslocação das pessoas entre a referida freguesia e a sede de concelho, especifica. A autarca revela, ainda, que estão a ser ponderaras “outras soluções [na cidade de Beja] que possam dar resposta a essas situações”. Até ao momento, o centro ainda não recebeu quaisquer pessoas.
Recorde-se que o referido centro, conforme avançava em julho, ao “DA”, o presidente da Câmara de Beja, Paulo Arsénio, destinava-se a situações de “emergência de curta/média duração a que o município possa ter de responder na hora e para as quais o CAES [Centro de Alojamento de Emergência Social] da Cáritas de Beja não tem capacidade, porque só tem 30 camas disponíveis”, sendo que, “enquanto o CAES é uma resposta nacional”, o novo centro “é uma resposta a nível concelhio”. Na ocasião, o autarca garantia, ainda, que “pessoas com comportamentos aditivos, com comportamentos violentos”, não seriam admitidas.
A instalação do centro de emergência social acabou por motivar o descontentamento dos habitantes de Santa Clara do Louredo, que contestam o facto de o projeto não ter sido discutido com a população e com a junta de freguesia, de ter sido apresentado, numa reunião realizada a 20 de novembro, como “um facto consumado”, e de, eventualmente, vir a acolher imigrantes. Na ocasião, em declarações ao “DA”, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Clara do Louredo, Luís Gaspar, assegurava que a autarquia estava “do lado da população” e lamentava que não tivesse sido ouvida no decorrer do processo. Já Paulo Arsénio garantia que o equipamento não era “destinado a imigrantes”, mas admitia que também poderia “ser utilizado por imigrantes”. Sublinhava, ainda, que o centro ocuparia “um só piso do edifício”, com o número máximo de 24 pessoas, e que não estava no horizonte do município alargar a capacidade. Contactado pelo “DA”, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Clara do Louredo reafirma que a autarquia continua “do lado da população” e que não tem “qualquer informação” sobre o processo.
Centro de abrigo noturno vai manter-se no parque de feiras Entretanto, contrariamente ao que tinha sido avançado, também em novembro, pela então vereadora Marisa Saturnino, o centro de abrigo noturno temporário criado pela Câmara de Beja, no âmbito do Plano de Contingência Contra o Frio, irá manter-se no pavilhão do Parque de Feiras e Exposições Manuel Castro e Brito, pelo menos, até meados de março, uma vez que o seu funcionamento “não colide” com a realização da Baja TT Montes Alentejanos, que decorrerá entre os dias 14 e 16 deste mês.
“A situação e as condições do espaço foram reavaliadas e vamos manter aquela resposta até meados de março. Tecnicamente verificou-se que era possível manter o evento e a nossa resposta”, justifica Maria João Ganhão ao “DA”, frisando que, “em princípio”, a capacidade atual de 32 camas sofrerá uma redução, uma vez que “a afluência diária anda a variar entre as oito e as nove pessoas a pernoitar”, sendo que, “nas noites mais frias e mais chuvosas, chegou às 12”. “Esta é uma situação em que não se consegue obrigar as pessoas [em situação de sem-abrigo] a deslocarem-se até ao abrigo, não se consegue obrigar quando não querem ser ajudadas”, refere, ainda, acrescentando que o Npisa – Núcleo de Planeamento e Intervenção dos Sem-Abrigo (que integra, para além da câmara, entidades como a Cáritas Diocesana e a associação Estar), “após o mês de março”, irá reavaliar “a necessidade de continuidade da resposta”, mas “noutro local”.