Maria de Jesus Monge é a nova diretora do Museu Rainha D. Leonor, substituindo Deolinda Tavares, que ocupava o cargo desde janeiro de 2022. Com reabertura prevista do museu para meados de 2026, a dirigente agora nomeada pela empresa pública Museus e Monumentos de Portugal pretende “manter e incentivar parcerias com as entidades locais e regionais”, de forma a realizar “projetos de dimensão mais alargada”.
Texto | Aníbal FernandesFoto | Ricardo Zambujo
Na sequência de um concurso lançado no ano passado pela empresa pública Museus e Monumentos de Portugal (MMP), Maria de Jesus Monge foi nomeada, no passado dia 23, diretora do Museu Rainha D. Leonor, em Beja, onde já trabalhava. A nova dirigente é licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Museologia pela Universidade de Évora, tendo sido conservadora do Museu-Biblioteca da Casa de Bragança desde 1996 e assumido a direção daquele equipamento em 2000. Presidiu, ainda, ao Conselho Internacional de Museus entre 2020 e 2023. Em 2024, em conjunto com Deolinda Tavares, apresentou uma comunicação intitulada “O projeto de requalificação do Museu Rainha D. Leonor e a herança de Frei Manuel do Cenáculo”.
Em resposta a questões colocadas pelo “Diário do Alentejo”, Maria de Jesus Monge considera que o Museu Rainha D. Leonor “assume um papel central na gestão patrimonial de um vasto território”. Este equipamento “está a iniciar uma nova e significativa etapa da sua existência”, nomeadamente, com as “obras de requalificação dos espaços, primeiro de conservação do edifício do mosteiro de Nossa Senhora da Conceição”, comparticipada com fundos do Alentejo 2020, e, “de seguida, com um programa de conservação de património integrado (sobretudo azulejo e talha) com verbas do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência]”, explica.
A nova dirigente diz que “o ano de 2025 será ainda de encerramento do mosteiro, estando a reabertura prevista para meados de 2026”. Durante este período proceder-se-á à “conservação do património integrado e, simultaneamente, preparação da requalificação museográfica”, o que “deverá, pela primeira vez, garantir um discurso diacrónico, atendendo aos vários momentos e atores, no contexto de uma urbe que se desenvolveu à sombra da grande casa de fundação e proteção régias. A perspetiva regional é indissociável, bem como as dimensões nacional e internacional que o património à guarda do museu impõem – a fundação e ligação continuada à Casa de Avis/ /Beja, incluindo as ramificações à Casa de Áustria, o acervo arqueológico de referência, as figuras de D. Frei Manuel do Cenáculo e de Soror Mariana Alcoforado, o trabalho pioneiro de Abel Viana”.
Maria de Jesus Monge diz que o museu tem vindo a desenvolver “parcerias e trabalho com várias entidades locais e regionais”, o que se pretende manter e incentivar e “estender a projetos de dimensão mais alargada”. O objetivo passa por atingir “mais públicos”, para já “no espaço da igreja de Santo Amaro, enquanto se prepara a reabertura do mosteiro de Nossa Senhora da Conceição”.
“Dever cumprido” Deolinda Tavares, que faz um balanço “positivo” do seu mandato, estava no cargo desde janeiro de 2022, mas, antes disso, tinha desempenhado funções de coordenação como técnica da então Direção-Regional de Cultura do Alentejo (Drcalen).
Ao “Diário do Alentejo” explicou que, antes, em 2017, “no âmbito de um acordo de colaboração entre a ex-direção-geral e a Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo”, que na altura tutelava o Museu Rainha D. Leonor, numa “parceria com a Universidade de Coimbra, Universidade de Évora e o apoio da Fundação Millennium BCP, desenhou-se um programa de valorização do museu através de apresentações públicas de algumas obras selecionadas pela sua excecionalidade histórica e estética”.
Segundo a diretora ainda em funções, “foi o início de um processo que conduziu à transferência da tutela do Museu Rainha D. Leonor para o Ministério da Cultura em 2019”. A sua abertura, “operada deste então, a projetos e programas em parceria com investigadores, criadores artísticos, escolas e profissionais de museus e de património, com extensões à comunidade através de cumplicidades criadas passo a passo, resultou numa rede alargada e vibrante que nos conecta ao mundo e nos permite crescer em conhecimento, obra feita e relevância”.
Recorda ainda que “a transferência de tutela permitiu a celebração de um protocolo com a Câmara Municipal de Beja e a Associação Portas do Território para a obtenção de fundos comunitários (Alentejo 2020) necessários à realização de uma profunda obra de reabilitação do convento da Conceição que, caso não acontecesse, acarretaria graves perdas materiais ao património integrado no monumento”, a que se seguiu “a segunda e última fase de intervenção, financiada pelo PRR, com um programa que complementa e conclui o projeto geral de atualização e qualificação do conjunto edifício e coleções”, o que significou um investimento total de mais de 5,5 milhões de euros.
Deolinda Tavares diz que quando iniciou funções encontrou “uma equipa diligente e empenhada, mas pequena, pouco qualificada e bastante envelhecida”. No entanto, a “integração institucional numa estrutura orgânica específica de museus”, permitiu aceder a uma “rede de profissionais e serviços qualificados nesta matéria”. “A transição para a tutela da MMP permitiu-nos contratar quatro técnicos superiores, incluindo um doutorando que trabalhava para o museu há vários anos em situação de precariedade, e a equipa passou de nove para 13 elementos”, revela, acrescentando que todo o seu mandato “foi marcado pela realização das obras de reabilitação e renovação que, sendo uma fase difícil por se tratar de trabalho intenso, necessário embora invisível, mas muito gratificante. Muito me orgulho pelo caminho andado e pelos apoios, parcerias e cumplicidades tecidas para que fosse possível percorrê-lo. Sem as entidades envolvidas e as pessoas não teríamos aqui chegado.
Outros projetos ficam ainda por concluir, claro que sim, mas deixo o museu com a sensação de dever cumprido”.
“O que foi, o que será”Amanhã, sábado, dia 1 de fevereiro, às 15:00 horas, irá ter lugar, no Museu Rainha D. Leonor, uma sessão sob o tema “O que foi, o que será”, uma iniciativa que “tem como propósito dar a conhecer o percurso realizado para a salvaguarda e valorização” do património do museu e “promover a criação e o reforço de laços de pertença com todos os públicos e comunidades”. O evento contará com a presença de Alexandre Pais, presidente da empresa pública Museus e Monumentos de Portugal; de Ana Paula Amendoeira, vice-presidente da CCDR Alentejo com a pasta da cultura; e de Paulo Arsénio, presidente da Câmara Municipal de Beja. Estão previstas conversas com os autores dos projetos e com os comissários das exposições: Maria Isabel Roque (arte religiosa), Fernando A. B. Pereira (pintura e escultura), Conceição Lopes (período romano), Maria de Jesus Monge (os duques de Beja e o convento), Marta Páscoa (Mariana Alcoforado), Samuel Melro (Idade do Ferro), Miguel Serra (Idade do Bronze) e Sandra Alves (conservação e restauração). Terá ainda lugar uma visita guiada por Maria Isabel Roque aos andores de São João Baptista e São João Evangelista.