Luís Mendonça de Carvalho, 57 anos, natural de Abrantes
Biólogo (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real), mestre em Bioquímica de Plantas (Universidade de Lisboa), doutor em Sistemática e Morfologia de Plantas (Universidade de Coimbra), visiting scholar (Universidade de Harvard, EUA), professor-coordenador do Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) e diretor do Museu Botânico do IPBeja, titular da Cátedra Unesco em Etnobotânica.
Luís Mendonça de Carvalho é o editor convidado do primeiro volume, intitulado The Victorians: A Botanical Perspective, de uma nova coleção lançada pela Springer, editora com sede em Nova Iorque e líder mundial de publicações científicas.
Como nos apresenta este livro?Trata-se de uma obra sobre o papel das plantas nas grandes transformações socioeconómicas e culturais que ocorreram no Reino Unido e no resto da Europa, durante o século XIX, que prepararam a sociedade como nós hoje a conhecemos.
É a história da utilização das plantas nas sociedades reveladora da perspetiva dos seus cidadãos sobre a vida, em diferentes períodos?Sim. As plantas têm servido não só para atender às necessidades básicas, como a alimentação e a medicina, mas também têm desempenhado papéis simbólicos, espirituais e culturais que refletem as prioridades, a cultura material e as crenças de cada época.
É essa utilização também ela reveladora do status dos cidadãos, indiciando a sua utilização as várias classes sociais vigentes?Sim, a utilização de plantas pode servir como indicador de diferenças económicas e culturais entre classes sociais. Espécies exóticas ou de manutenção complexa são frequentemente associadas a elites, devido ao custo elevado e ao acesso restrito. Por outro lado, plantas de cultivo funcional tendem a caracterizar grupos económicos com menores recursos ou indivíduos pouco interessados em utilizar recursos vegetais mais onerosos.
Na perspetiva da sua utilização, a importância de uma planta, bem como o seu declínio, numa sociedade, num determinado período, é determinada por que fatores?Pela utilidade económica, como matéria-prima (alimentos, medicamentos, fibras); contexto cultural (simbolismo religioso ou identitário podem elevar o seu valor); inovações tecnológicas (o desenvolvimento de alternativas sintéticas ou industriais pode levar ao declínio de plantas antes essenciais, como, por exemplo, as gomas e as resinas); condições ambientais (mudanças climáticas, pragas ou exploração excessiva podem impactar na disponibilidade e na relevância de um recurso vegetal); dinâmicas de mercado (a globalização e as preferências de consumo afetam a procura e o cultivo).
Como acolheu este convite da prestigiada editora Springer? É um desafio e uma oportunidade para contribuir com publicações na área do uso cultural das plantas e tentar alcançar uma audiência mais vasta, já que a distribuição desta obra é feita a nível global.
Perspetivam-se novas colaborações?A perspetiva é promissora, já estamos a preparar mais dois volumes, que contam com a colaboração de professores e investigadores europeus e de outros continentes. José Serrano