Texto | Aníbal Fernandes
Por estes dias, o Banco Central Europeu (BCE), comandado por Christine Lagarde, vive obcecado com o valor da inflação que, no mês de novembro, em Portugal, é de 2,5 por cento, praticamente o mesmo valor registado na zona euro (2,3 por cento).
Há 50 anos um relatório da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) revelava que o aumento dos preços de consumo em Portugal, em outubro, era 10 vezes mais do atualmente, e atingia a percentagem de 25,7 por cento num ano, “o que colocou o nosso País à cabeça (e a grande distância) das nações integradas no referido organismo internacional”.
O “Diário do Alentejo” (“DA”) escrevia que “os preços no consumidor nos países industrializados no Ocidente aumentou, em média, 14,5 por cento no período de 12 meses e o surto inflacionário deve continuar a aumentar até meados do próximo ano”.
A OCDE anunciava que, “pela décima primeira vez consecutiva, o aumento mensal dos preços foi superior a um por cento” e acrescentava “serem de prever até à Primavera aumentos mensais dos preços, iguais ou superiores” a esse valor.
“Com base nos dados referentes aos dez primeiros meses desse ano a taxa de inflação no mundo ocidental em todo o ano de 1974, será, provavelmente, de 14 por cento, dos quais mais de três por cento representam os preços mais elevados da energia”, o que comparava com a taxa média da inflação de 1973 que tinha sido de 7,7 por cento.
Tal como agora, a Alemanha – então federal – era o motor económico da Europa, mas, mesmo assim, apresentaria, no final de 1974, “uma taxa de inflação de apenas seis por cento”, o que lhe dava a honra de ser o único país onde os preços subiram menos neste ano do que em 1973 (6,9 por cento).
No resto do mundo, e, particularmente, nos Estados Unidos da América e Canadá, que hoje apresentam uma taxa de inflação em outubro a rondar os 2,5 por cento, no final do ano atingiriam os 11 por cento, “ou seja menos do que na Itália e no Japão, países onde a inflação acelerou notavelmente desde o Verão”.
A OCDE dizia, ainda, que “no período de doze meses que terminou em Outubro [1974], o Japão sofreu a taxa de inflação mais elevada – 26,8 por cento – seguido por Portugal, Turquia e Itália”.
** *
A inflação tem destas coisas. Quando começa a subir atinge toda a espécie de produtos e serviços e os jornais também não escapam. Na edição de 19 de dezembro de 1974 do “DA”, na primeira página, dava-se conta de que “em reunião do Conselho de Ministros foi decidido sujeitar ao regime de preços máximos os jornais diários”, fixando-se o limite máximo em quatro escudos (qualquer coisa como dois cêntimos de euro…). Bons tempos.