Texto | Aníbal Fernandes
A economia europeia está em crise. A economia norte-americana para lá caminha. A incerteza política – e as guerras – que se vive um pouco por todo o mundo não ajuda à estabilização dos mercados, e economias fortes, como a da Alemanha, dão sinais de soçobrar.
Por estes dias, nos Estados Unidos da América, contam-se as horas para que Donald Trump entre na Casa Branca e, com ele, a política isolacionista que prometeu durante a campanha eleitoral. Os especialistas temem que a redução de impostos prometida não seja compensada totalmente com novas fontes de receita e que isso leve a um agravamento significativo da dívida pública.Cá, pela Europa, a locomotiva económica dá sinais de abrandar. “O colapso total do governo alemão é também um ataque cardíaco para a Europa”, assinalou nesta semana o diretor do canal “Euronews”, Claus Strunz; em França, a demissão do governo de Michel Barnier não deixa antever nada de bom, num país cuja dívida no final do ano deve atingir os 112,9 por cento do PIB e o défice orçamental os 6,1 por cento.
Nesta terra à beira-mar plantada, até se promete um excedente (mínimo) orçamental, mas os perigos que vêm do exterior são muitos.
Há 50 anos, na edição de 10 de dezembro, o “Diário do Alentejo” titulava nas centrais “Agravamento das economias nos países industrializados”. Nada que não se tivesse repetido nas cinco décadas posteriores e que, mais recentemente, em 2008, culminou naquilo que ficou conhecido como a crise das dívidas soberanas de má memória, principalmente, para os países do Sul, onde Portugal de encontra.
Vivia-se, então, uma “tendência progressiva de estagnação da evolução económica mundial comparada à situação surgida em 1958, momento em que nos Estados Unidos, Japão e Europa Ocidental igualmente se processou uma quebra conjunta generalizada. Ao contrário do que sucedia nessa época, as perspectivas duma elevação apreciável da atividade económica no próximo ano são de momento bastante inseguras”, tal como agora.
E avançava que o “prognóstico para 1975 [baseado] no facto de os primeiros sintomas de um abrandecimento do ritmo inflacionista estarem conduzindo a um câmbio de posições na política económica restritiva”, avisava que “os efeitos estimulantes da política creditícia e financeira” só começariam “a fazer-se sentir na segunda metade de 1975”.
As contas eram fáceis de fazer: “o aumento do produto nacional posto em termos reais é estimado para a Europa Ocidental em 3 por cento; Estados Unidos, dois e Japão, 6”, cerca de metade do observado no ano anterior.No que tocava “aos efeitos do abaixamento de preços das matérias-primas industriais iniciado em Maio de 1974, bem como ao relativo equilíbrio na contenda em torno da distribuição geralmente encarado como força motora da espiral salários-preços”, os economistas afirmavam que só iriam “fazer-se sentir com pronunciada demora. Mesmo em caso de favorável evolução, com reconhecimento crescente do relacionamento existente entre inflação e pleno emprego acompanhado da superação progressiva do défice das balanças de pagamentos, o prognóstico é de um endividamento cada vez mais elevado e de um aumento dos encargos de crédito”.
O artigo chamava ainda a atenção “para o perigo que correm os países de economia deficitária de procurarem uma saída para o subemprego crónico com os recursos do proteccionismo do exterior” e avisava que “as medidas proteccionistas conduziriam a uma recessão económica à escala mundial”, tal como veio a acontecer e, agora, cinquenta anos depois, pode acontecer outra vez.