A informação de que algumas “zonas consideradas críticas ou onde é necessário esse acréscimo de acompanhamento por parte das autoridades” passarão a ter câmaras de videovigilância monitorizadas pela PSP, segundo o presidente da câmara de Moura, não apanhou os comerciantes do centro histórico mourense de surpresa. Embora admitam que não houve um aumento da criminalidade, acreditam que esta medida irá acabar com os pequenos atos de vandalismo e furto noturnos.
Texto Ana Filipa Sousa de Sousa
Foto Ricardo Zambujo
No próximo ano serão instaladas, no centro e na periferia da cidade de Moura, 12 câmaras de videovigilância que permitirão oferecer maior segurança e prevenir eventuais ilícitos criminais, o que, segundo os comerciantes das zonas abrangidas, é uma medida “extremamente positiva”.
“Estou totalmente de acordo, [porque] é um controlo maior. Pelo que sei, será apenas em algumas ruas, mas acho que deveria ser na cidade toda. Devia-se estender o máximo possível”, começa por referir Diogo Morgado, proprietário de uma loja de vestuário situada numa das “ruas floridas”.
Ao “Diário do Alentejo” (“DA”) confirma, de seguida, que “já deveria haver câmaras há mais tempo”, principalmente, pelas situações de vandalismo noturno que têm acontecido.
Uns metros adiante é Flávio Machado, responsável por uma ótica, que expressa o seu alívio por voltar a ter a sua fachada novamente vigiada, uma vez que este mecanismo já esteve em funcionamento na sua artéria, por iniciativa dos comerciantes.
“Devido ao facto de termos aqui [nesta rua] uma ourivesaria tínhamos câmaras de vigilância exteriores a abranger a zona frontal da loja e fomos obrigados a retirá-las pelas autoridades competentes devido à proteção de dados. Por isso, acho que esta ação é extremamente positiva e dá-nos uma segurança”, assegura.
Para o comerciante, a justificação para tal ação está relacionada com “algumas situações menos boas que têm surgido ultimamente aqui na zona histórica e que agora tornaram-se cada vez mais frequentes”, nomeadamente, quebras e furtos de vasos decorativos e carros riscados.
“Isso acontece mais durante o período noturno, será por alguns miúdos ou mesmo por pessoas mal-intencionadas. [Por isso], acho que quem é de bem não está preocupado em ser filmado e [as câmaras de videovigilância] são importantes por uma questão de segurança do comércio e das pessoas que o frequentam”, afirma.
Ao som das músicas natalícias que se fazem ecoar nas ruas do centro histórico mourense, Nadine Amaro garante que esta ação é uma “mais-valia” para tornar “as ruas seguras” e “evitar ou intimidar quem venha por mal”. Proprietária de um café, admite ao “DA” que com a chegada do inverno e, consequentemente, o encurtamento dos dias, tem cada vez mais medo em permanecer com o espaço aberto ao anoitecer.
“Começa a haver pouco movimento e, depois, as caras que se veem são estranhas e intimidam. Que eu tenha conhecimento não [tem havido um aumento da criminalidade], sei que há casos esporádicos, ouvem-se conversas de comportamentos menos adequados, até por parte dos imigrantes, mas nada de especial. Qualquer medida preventiva nesse aspeto é sempre uma segurança para nós que estamos aqui a trabalhar e que às vezes não sabemos o que é que está para lá do balcão. Aqui atendemos muita gente boa, má, menos boa. Portanto, achamos que todas as medidas de prevenção são bem-vindas, não quer dizer que impeça, mas pelo menos...”.
Por sua vez, do outro lado da artéria, sentado à secretária, Vítor Mendes expressa a sua vincada opinião. Ainda que concorde com as câmaras de videovigilância, o proprietário da loja de móveis defende que esta “não é a única medida necessária” e que o principal motivo para a insegurança neste tipo de zonas é o despovoamento e a sua desvalorização.
“Uma das coisas que é importante nos fatores securitários, e de reativação dos centros históricos, é o acarinhamento que se possa fazer para evitar a perda populacional e, paralelamente, a salvaguarda do comércio, porque obriga as pessoas a circularem [nestas ruas], mas isso, tendencialmente, as autarquias não estão a fazer. Eu colocaria, numa lista de prioridades, outras obrigações, mas os políticos é que têm o poder decisório e eles é que sabem”, contesta.
Vítor Mendes dá ainda o exemplo da praça da República de Beja, onde a proibição de circulação e estacionamento conduziu ao “desaparecimento do comércio e, por arrastamento, às marginalidades que tendem a ocupar os espaços destas zonas despovoadas”.
“Estas medidas valem o que valem, mas eu posso perguntar: o que vão proteger? Uma preocupação securitária para quê? Para o comércio? Posso aceitar. Para as pessoas? Nós temos ruas, como Beja e Évora têm, praticamente já desabitadas. [Por isso], pergunto: câmaras para filmar o quê se as ruas estão desertas?”.
O objetivo, conforme explicou o presidente da Câmara Municipal de Moura, Álvaro Azedo, em declarações ao “DA” na edição passada, é que as câmaras de videovigilância sejam colocadas “no início do ano” de 2025, servindo depois de “mais um mecanismo” eficaz para que a Polícia de Segurança Pública (PSP) exerça “a sua missão junto da nossa população, no sentido de termos a garantia de que os nossos bens, as nossas pessoas, estejam devidamente protegidos”.