Diário do Alentejo

Santa Clara do Louredo apreensiva com instalação de centro de emergência para pessoas vulneráveis

08 de dezembro 2024 - 08:00
Câmara de Beja garante que equipamento “não é destinado a imigrantes, mas poderá ser utilizado” para esse fim
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

Habitantes de Santa Clara do Louredo mostram-se apreensivos com a instalação de um centro de emergência social num antigo lar do Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora da Luz. De acordo com a Câmara de Beja, o centro, que está apto a funcionar, destina-se a situações de “emergência de curta/ /média duração” para as quais “o CAES [Centro de Alojamento de Emergência Social] da Cáritas de Beja não tem capacidade”.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

“Todos estão contra a instalação do centro [de emergência social]. Não é acolhimento que vai haver ali. Vai haver muitas coisas. Que benefícios é que isso traz para a aldeia? Nada. Não traz nada de bom para a aldeia”, desabafa um dos moradores de Santa Clara do Louredo – que prefere manter o anonimato –, enquanto troca dois dedos de conversa com um outro habitante em frente a um dos cafés da aldeia, junto à avenida principal.

O reformado, que esteve presente na reunião aberta à população realizada pela Câmara Municipal de Beja, no passado dia 20, destinada a prestar esclarecimentos sobre a abertura e funcionamento do centro de emergência social a instalar num antigo lar do Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora da Luz, sublinha ao “Diário do Alentejo” (“DA”) que o projeto foi apresentado estando “já tudo aprovado” e que “nem o presidente da junta sabia do que se tratava – só foi informado dois ou três dias antes –, o que é o mais grave”.

Resta, assim, diz, esperar para ver quem é que efetivamente será instalado no novo centro, para além “de mães vítimas de violência doméstica” – como foi referido na reunião –, uma vez que “se fala por aí em imigrantes”. “Normalmente, as portas estavam abertas, postigos, agora… tudo fechado à chave e chave fora da porta”, acrescenta, ao mesmo tempo que diz não entender como é que o edifício “não servia para os idosos, mas agora serve” para acolher outras pessoas.

“Vergonhosa”. É dessa forma que um outro habitante, que também não quer ser identificado, apelida a reunião realizada no passado dia 20. “Eles [câmara, Segurança Social e Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora da Luz] vieram já com um plano cozinhado. Não vieram consultar a população, vieram dizer que já estava determinado, impor”, afirma, salientando que as questões sobre segurança colocadas pela população nesse dia não obtiveram qualquer resposta por parte dos representantes das três entidades presentes.

“No que diz respeito aos refugiados [que possam vir a ser acolhidos] não se sabe quem poderá vir para cá, pode vir toda a qualidade de gente, e nós somos uma aldeia pacata, com costumes brandos”, refere, ainda, frisando que “a câmara, quando agendou a reunião, não levou em conta o interesse que as pessoas tinham [em participar] e marcou para a escola, tendo ficado metade da população na rua”. Para além disso, “vieram dois jipes da GNR” – “não sei porquê, porque é um povo pacífico”. E conclui: “Vamos esperar para ver o que é que vai acontecer. Claro que se houver comportamentos desajustados, a população tem de reagir”.

“Dizem que quem vem para ali são agregados familiares vulneráveis, que podem ser vítimas de violência doméstica, vítimas de tráfico humano. Portanto, no âmbito da vulnerabilidade há muita gente”, considera, por sua vez, uma outra habitante que também prefere manter-se anónima. Lembrando que a aldeia “já viveu” uma situação complicada com “um refugiado”, admite que a população “tem receio” e que vai ficar “atenta”.

“Embora estejamos recetivos, porque sabemos que essas pessoas têm de ser ajudadas, estamos a ficar com medo. O problema é o que possa vir, o problema é o desconhecimento total”. E conclui, dizendo que “o que vier por aí é da responsabilidade da Segurança Social, câmara e lar”.

 

Junta de freguesia “está do lado da população”

 

Luís Gaspar, presidente da Junta de Freguesia de Santa Clara do Louredo, contactado pelo “DA”, assegura que a autarquia “está do lado da população” e lamenta que não tenha sido ouvida no decorrer do processo. “Não soubemos como é que ia funcionar, a não ser agora [na reunião]. Não me vou alongar mais sobre o processo”.

Por sua vez, o presidente da Câmara Municipal de Beja, em declarações ao “DA”, garante que “o equipamento não é destinado a imigrantes”, mas admite que “também poderá ser utilizado por imigrantes”, e adianta que está apto a funcionar, “quando houver alguma situação de emergência social que o justifique e não havendo outra alternativa”. Sublinha, ainda, que o centro “ocupará um só piso do edifício”, com o número máximo de 24 pessoas, e que “não está no horizonte do município alargar a capacidade”. Ainda de acordo com o autarca, “a junta de freguesia foi consultada depois de finalizado o protocolo com o lar e a Segurança Social, uma semana antes da reunião com a população”, e a referida reunião só teve lugar no dia 20 de novembro porque não podiam “ir a Santa Clara sem as respostas certas”, caso tivessem “ido antes, as questões colocadas pela população seriam ainda mais”.

Conforme avançou Paulo Arsénio ao “Diário do Alentejo”, na edição de 19 de julho, o centro destina-se a situações de “emergência de curta/média duração, situações a que o município possa ter de responder na hora e para as quais o CAES [Centro de Alojamento de Emergência Social] da Cáritas de Beja não tem capacidade, porque só tem 30 camas disponíveis”, sendo que, “enquanto o CAES é uma resposta nacional”, o novo centro “é uma resposta a nível concelhio”. Na ocasião, o autarca garantia, ainda, que “pessoas com comportamentos aditivos, com comportamentos violentos, não seriam admitidas” no novo centro.O “DA” tentou, ainda, obter um comentário junto da direção do Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora da Luz, mas tal não foi possível até ao fecho da presente edição.

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