Segundo informação divulgada no início da semana, o aeroporto de Beja foi utilizado como “ponto de entrada” de carregamentos de cocaína, vindos da América do Sul. Da operação realizada pela PJ e pela Polícia Nacional espanhola resultou o desmantelamento de “uma rede criminosa transnacional” e a detenção de 25 cidadãos.
Texto Nélia Pedrosa*
A Polícia Judiciária (PJ) e a Polícia Nacional espanhola, com o apoio da Europol, desenvolveram duas operações policiais, em ambos os países, que resultaram “no desmantelamento de uma rede criminosa transnacional dedicada à introdução de grandes quantidades de cocaína no continente europeu e na qual foram detidos 25 cidadãos de diversas nacionalidades”, anunciou a PJ, na terça-feira, em comunicado.
Em Portugal, a operação intitulada “Fóssil” “traduziu-se na detenção de seis cidadãos, na realização de nove buscas domiciliárias e, ainda, na apreensão de vários bens, nomeadamente, cinco automóveis de gama alta, elevadas quantias de dinheiro em numerário, material informático, documentação e pequenas quantidades de droga e anabolizantes”, adianta a PJ, avançando que um dos detidos é “o principal responsável da estrutura logística que operava em território nacional que importava droga para o continente europeu”. O homem, “conhecido das autoridades policiais portuguesas, é reconhecido policialmente, em termos internacionais, como sendo um high value target, ou seja, um suspeito de elevada relevância criminal no submundo do tráfico ilícito de estupefacientes”.
Já a Polícia Nacional espanhola, também em comunicado, refere que “os agentes confirmaram que a organização teria acesso a vários aeroportos como ponto de entrada dos carregamentos de cocaína”, um deles o de Beja, onde “a rede contava com uma ampla estrutura, razão pela qual os seus membros realizavam numerosas deslocações a Portugal”. Adianta ainda que no passado mês de janeiro, em conjunto com a PJ, realizaram uma operação que permitiu identificar “uma rede de funcionários corruptos que operavam sob a liderança de um cidadão português, no aeroporto comercial de Beja”, e que, nessas datas, “os agentes tiveram conhecimento de que a organização tinha enviado o seu primeiro avião fretado a partir de Barranquilla (Colômbia), em direção ao aeroporto de Beja, a bordo do qual se encontravam vários dos seus membros, assim como pilotos contratados para o efeito”.
Entretanto, na comunicação social foi veiculada a informação de que, dos seis detidos em Portugal, dois são polícias do Comando de Beja, que “terão sido corrompidos” por um português, de 71 anos, o já mencionado “principal responsável”, para ter acesso à droga, que chegava em jatos privados. Contactado pelo “Diário do Alentejo” (“DA”), o comandante distrital da PSP de Beja, Raul Glória Dias, afirmou não ter “qualquer polícia detido ou com medidas de coação”, nem “conhecimento formal de que foi detido” algum agente.
Em declarações ao “Jornal de Notícias”, a direção nacional da PSP refere, no entanto, que a detenção dos polícias “teve como origem uma participação da própria PSP de Beja ao Ministério Público local”, tendo sido “ordenada a abertura de processos disciplinares internos”. Adianta, também, que a PSP ainda não “foi informada oficialmente” da “constituição de arguidos de dois polícias do comando de Beja”, que “não se encontram suspensos de funções”.
Já o diretor do terminal civil de Beja, Maurício Nunes, também questionado pelo “DA”, adiantou que a ANA – Aeroportos de Portugal “não tem conhecimento do envolvimento dos seus funcionários na situação relatada pela comunicação social e no comunicado oficial da PJ” e que a empresa “está empenhada a combater, junto com as forças de polícia, qualquer tipo de atividade ilícita nos aeroportos portugueses”.
* com “Lusa”