Daniel Silvestre, 45 anos, natural de Torres Vedras
Exerce atividade de ilustrador editorial desde 2006, tendo ilustrado, entre outros, textos de Alice Vieira, Ana Saldanha, João Pedro Mésseder, José Luís Peixoto, Machado de Assis, Sophia de Mello Breyner Andresen e Raúl Brandão. É ilustrador residente do Museu do Porto desde 2021. É docente convidado de desenho na Escola de Design do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (Barcelos) e na Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto.
O fanzine A Armação, da autoria de Daniel Silvestre e coeditado pelo Centro de Língua Portuguesa Camões-Bruxelas e pela Bedeteca de Beja, ganhou o prémio de melhor fanzine ou publicação independente no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.
Qual a importância deste reconhecimento?
Foi importante, para mim, uma vez que foi a primeira publicação em que escrevi o argumento e desenhei a história. Porém, a publicação deste pequeno livro teve outros corresponsáveis, que são o Paulo Monteiro, da Bedeteca de Beja, e a Ana Vieira, do Centro de Língua Portuguesa Camões-Bruxelas (CLP). Eles criaram a residência artística que deu origem ao livro e as condições para que tivesse saído. Conseguirmos este reconhecimento, na primeira edição da residência, foi algo que nos deixou felizes.
Como nos resume a história que preside a este fanzine?
Esta história surgiu de uma série de entrevistas feitas ao meu avô materno, José Silvestre, que foi peixeiro e sabia da vida na lota e no mar. Apresenta a personagem do meu avô que, aos 10 anos, ajudava os pais transportando peixe em cima de um burro, entre Torres Vedras e Porto Novo [na costa do concelho]. O pai trabalhava no mar e a mãe vendia peixe na praça e, um dia, o pequeno José teve de levar um peixe com 150 quilos ao longo de um percurso de 15 quilómetros. A narrativa representa os medos produzidos pela sua mente infantil e o assombramento sentido pela magnitude do animal majestoso que transporta. Ao mesmo tempo produz um breve retrato do nosso país durante os anos 30 [do século XX].
O fanzine foi publicado no âmbito da residência artística de banda desenhada em Bruxelas, um projeto do CLP, da Embaixada de Portugal, da Faculté de Lettres, Traduction et Communication, do Musée de la BD e da Bedeteca de Beja. De que forma se conjugou esta parceria entre si e a Bedeteca de Beja?
Todos os parceiros referidos tiveram algum papel na residência ou na publicação deste livro. A Bedeteca de Beja, na pessoa do Paulo Monteiro, organizou a publicação, a exposição no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja (BejaBD) 2023 e o lançamento do fanzine. No seu conjunto, foi um processo que decorreu com grande fluidez e harmonia.
Que importância tem para um autor exibir a sua obra no BejaBD?
Se tivermos em conta que, em Portugal, o mundo editorial da banda desenhada (BD) vive da boa vontade dos seus autores e que a grande maioria dos criadores vive de outro tipo de expediente, o festival BejaBD torna-se um lugar onde queremos voltar, por sermos tão bem acolhidos por leitores e apreciadores de BD.
Coloca a possibilidade de futuras parcerias com a Bedeteca de Beja?
Sim. Através da publicação deste livro, a Bedeteca de Beja apresentou-me a uma grande família, que são as pessoas com quem conversei e conheci durante o festival. Quando houver alguma oportunidade de voltar a estar em Beja ou, de alguma forma, colaborar com a bedeteca, aí estarei.
Texto José Serrano