Diário do Alentejo

“Oportunidade para se adotarem meios não químicos para controlar infestantes”

26 de outubro 2024 - 08:00
Obra de investigação ibero-americana sobre resistência adquirida

João Martim de Portugal, 60 anos, natural de Espinho

 

Iniciou os estudos na área da agricultura no ensino secundário, tendo frequentado a Escola Prática de Agricultura D. Dinis (Paiã, Odivelas), em 1979. Licenciado em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia. Mestre em Proteção Integrada. Doutor em Engenharia Agronómica e Agregado e em Engenharia Agronómica. Em 1991 ingressa no Instituto Politécnico de Beja/Escola Superior Agrária, onde atualmente exerce funções no Departamento de Biociências como Professor Coordenador. 

 

Texto | José Serrano

Publicado pelo Instituto Politécnico de Beja e Fundação de Apoio a Pesquisa, Ensino e Extensão, foi recentemente apresentado o livro Resistência Adquirida – Porque Deixam de Funcionar os Herbicidas, da autoria de João Martim Portugal e Ricardo Alcántara de la Cruz, Professores, respetivamente, do IPBeja e da Universidade Federal de Viçosa (Brasil).

 

Como nos sumariza esta obra académica?O objetivo da publicação é dar a conhecer o porquê de os herbicidas deixarem de funcionar quando se usam repetidamente, processo designado por “resistência adquirida”. Trata-se de uma matéria que se enquadra nos inconvenientes da luta química, cuja prevalência tem aumentado a nível global. Pretende-se que o leitor identifique possíveis situações de herbicidas que deixaram de funcionar devido a resistência adquirida, que as saiba evitar e que consiga fazer a gestão deste tipo de situações.

O que pode significar uma crescente resistência das infestantes face aos herbicidas?Quando aumenta o número de herbicidas a que as infestantes são resistentes, isso traduz-se numa perda de opções para o agricultor, caso a gestão das infestantes seja feita, apenas, com recurso a herbicidas. No limite, pode deixar de ter herbicidas para controlar as infestantes da(s) cultura(s). Esta situação constitui uma oportunidade para se passar a adotar outros meios, não químicos, para controlar as infestantes, mais sustentáveis para os agroecossistemas.

 

Como classifica essa resistência no nosso território? Novos sistemas culturais combinados com o aumento da utilização de herbicidas conduziram à seleção de infestantes resistentes a uma vasta gama de herbicidas. Atualmente, este problema afeta as nossas principais culturas – arroz, olival, vinha e pomares (citrinos e romãzeiras) havendo a acrescentar um caso na cultura do milho e outro no trigo. Conhecem-se 17 espécies de infestantes com populações resistentes, nove das quais foram identificadas no Alentejo. Este valor será, provavelmente, maior, pois o número de investigadores envolvidos neste assunto é reduzido.

 

Veio, de alguma forma, a implementação de agricultura intensiva potenciar esta questão?O ponto fulcral da questão encontra-se no modelo de gestão das infestantes que o agricultor adota. Se o empresário agrícola diversifica os métodos de controlo das infestantes ou pouco recorre aos herbicidas não vai ter este tipo de problema. Nos casos em que o modelo de controlo das infestantes se faz, exclusivamente, com recurso a herbicidas, a probabilidade de vir a ter problemas aumenta. Para evitar esta situação há que fazer uma gestão muito criteriosa do que se usa e com que frequência se utiliza. Na publicação aponta-se para a adoção de estratégias adequadas para a gestão das infestantes, considerando o mecanismo de resistência envolvido, a disponibilidade de herbicidas alternativos e a utilização de outras práticas culturais.

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