Diário do Alentejo

Projetos do Cebal e do Portugal Nuts vencem financiamento

27 de outubro 2024 - 08:00
Fundação “La Caixa” apoiará em 150 mil euros as suas execuções

“EssenceProRumen” e “Ca-pota Circular Feed” são os dois projetos, desenvolvidos pelo Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Alentejo (Cebal) e pela Associação de Promoção de Frutos Secos (APFS) – Portugal Nuts, que venceram o programa “Promove – O Futuro do Interior”, da Fundação “La Caixa”. Ambos, na área da produção animal, visam responder às necessidades que o setor tem encontrado nos últimos anos.

 

Texto Ana Filipa Sousa de SousaFoto Ricardo Zambujo

 

É entre tubos e pipetas que Olinda Guerreiro, investigadora do Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Alentejo (Cebal), explica ao “Diário do Alentejo” as mais-valias que o projeto que coordena trará para os animais ruminantes e, consequentemente, para os seus produtores, nomeadamente, “reduzir a produção de metano, aumentar o valor nutricional da carne e do leite e reduzir o uso de antibióticos e antiparasitários”.

Em “EssenceProRumen”, um dos projetos vencedores do programa “Promove – O Futuro do Interior”, da Fundação “La Caixa”, o objetivo passa por “encontrar uma solução, [ou seja] uma dose, com óleos essenciais, que consiga ser aplicada na dieta dos animais e que possa ser usada como forma preventiva ao longo de toda a produção para minimizar todos os problemas” detetados, isto é, a produção de metano e o uso “pouco criterioso” de antibióticos e antiparasitários.

“A ideia é mesmo encontrar uma forma natural [e] segura, tanto para os animais como depois para nós, que possa ser usada sem qualquer problema e de forma geral. O intuito é que depois também possa ser utilizada pela indústria de alimentos compostos para animais e seja disponibilizada a todos os produtores”, adianta.

Desta forma, o financiamento que o projeto venceu da Fundação “La Caixa”, em colaboração com o BPI e com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, de cerca de 150 mil num total de 200 mil euros, torna-se imprescindível para “permitir fazer os primeiros estudos” em laboratório e, posteriormente, “ser também validado no ensaio com os animais”.

“Para nós é sempre muito importante esta parte do financiamento, porque sem financiamento não conseguimos. Nós até temos as ideias, mas precisamos sempre desta parte”, revela a investigadora.Assim, de forma sucinta, os próximos passos passarão por testar “quatro óleos essenciais” de plantas existentes na região – esteva, orégão, tomilho e rosmaninho –, e confirmar se estes surtem os efeitos esperados nos animais.

“Estes óleos essenciais que nós estamos a pensar usar são óleos de plantas que existem naturalmente no campo, ou seja, nós queremos também valorizar esta parte dos óleos essenciais que é muito usada, atualmente, para a parte cosmética. Nós sabemos também, e há vários estudos que já o demonstram, que eles também podem ter estes efeitos nos animais, só que ainda não foi estudado tudo em conjunto”, avança.

Por seu turno, também o projeto “Capota Circular Feed”, promovido pela Associação de Promoção de Frutos Secos (APFS) – Portugal Nuts e em colaboração com o Cebal e o Laboratório de Veterinária de Évora (Iniav), recebeu uma dotação de “150 mil euros, a que corresponde aproximadamente 75 por cento do valor total”, sendo “os restantes 25 por cento assegurados pelos membros do consórcio”.

Este, segundo explica Antó-nio Saraiva, diretor executivo da Portugal Nuts, visa “explorar o aproveitamento e valorização da capota de amêndoa como subproduto na alimentação animal”, tornando-se, subsequentemente, “uma oportunidade de negócio”.

“O projeto ‘Capota Circular Feed’ emana de um desafio decorrente do novo paradigma cultural da região do Alqueva onde predomina a agricultura empresarial moderna sustentada no regadio e, onde culturas como o amendoal compõem o mosaico da região. [Assim], este soluciona um desafio para os produtores de amêndoa e de pecuária que através da capota fornecem uma solução alimentar nutritiva e de qualidade [aos animais] com um menor custo e pegada carbónica e que garante a sustentabilidade das suas explorações”, revela.

Quanto à importância do financiamento, António Saraiva é perentório e garante que o mesmo permitirá “assegurar a contratação de recursos humanos altamente qualificados” e adquirir “serviços e produtos que possibilitam efetuar diferentes ensaios e obter a melhor solução”.

Daqui em diante, conforme explica o diretor, o trabalho incidirá em realizar “análises variadas”, uma vez que a fase da colheita da amêndoa com a recolha da capota e os respetivos processos de “secagem artificial e natural” já decorreram.

“Este processo de recolha e secagem será replicado durante dois anos de modo a identificar a melhor solução que responda às necessidades dos animais”, afirma.

Os responsáveis confirmam que os projetos terão a duração de três anos, estando prevista a sua conclusão em 2027.

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